Dog vive em uma rotina solitária. No apartamento nova-iorquino, ele esquenta a comida no micro-ondas, joga videogames contra ele mesmo e observa, pela janela, os vizinhos dividirem carinho e companhia. Tudo muda quando ele decide sanar sua sentença com a compra de Robot.
Meu Amigo Robô (ou Robot Dreams, no original), então, se desenrola como uma fábula de felicidade e completude. Dog monta Robot, aperta seus parafusos, liga seus fios e rosqueia suas partes móveis. Juntos, eles fazem tudo que o cachorro sempre sonhou: assistem TV até altas horas da madrugada, jantam besteira e caminham felizes pelas ruas da metrópole.
No verão, a praia é o destino ideal. Até que, depois de Robot entrar no mar e dormir na areia, suas partes metálicas enferrujam e prendem-no ao local, transformando o santuário em mausoléu. Dog tenta arrastá-lo, mas não adianta. A cidade fecha a baía, por conta da chegada do inverno, e o protagonista perde seu melhor amigo.
Sob a direção de Pablo Berger, Robot Dreams conta tudo isso em menos de meia hora e, pasmem, sem qualquer diálogo. A animação espanhola é silenciosa nas falas, mas preenche a realidade formada por animais e androides com exclamações, longas respirações e suspiros de emoção. As placas e os comerciais de TV são os únicos indicativos silábicos em uma NY feita de gestos e ações.
Por isso, o elenco formado por Ivan Labanda, Rafa Calvo, Graciela Molina e Esther Solans não recebe créditos individuais, já que não dublam personagens e falas específicas, e sim os mais diversos sons. Exibido como Apresentação Especial em Cannes 2023, Meu Amigo Robô empresta a estética de feras adestradas de BoJack Horseman e incrementa com toques de Frankenstein para debater solidão, solitude e a sensação de desilusão.
Em pouco mais de noventa minutos, o filme vai e vem entre devaneios e realizações pessoais, contando com algumas das cenas mais cruéis do ano. Assim, são explorados temas de culpa e abandono que Dog carrega, e o misto de desconfiança e assolação que Robot não consegue colocar para fora, praticamente colado na areia, soterrado pela neve, pela chuva e pela saudade do amigo.
Indicado ao Oscar 2024 ao lado de nomes grandes da Disney, da Sonye do Studio Ghibli, a animação espanhola independente é antídoto para a verborragia que comanda o mercado, interessado na profusão incessante de choques narrativos e cores explosivas. Caminhando entre a amizade pura e o amor platônico com toques de paixão proibida, Meu Amigo Robô agarra seu coração e não dá sinal de soltura.
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