A jovem Carla Nowak (Leonie Benesch) adora dar aula. Com bom humor e combinados criativos com os alunos, ela comanda uma turma da sexta série eloquente e comunicativa. O que acontece a seguir está fora do seu controle: a escola tem sido vítima de pequenos furtos, e os docentes são o maior alvo. Decidida a solucionar a questão, Carla coloca A Sala dos Professores em pólvora.
O que começa como um drama encaixotado em uma câmera quadrada vai ganhando camadas de tensão e temor, todas muito bem capturadas na direção de Ilker Çatak, que se equipa da trilha sonora de Marvin Miller, repleta de tambores, arranhões e um gotejar rítmico que deixa até as pequenas conversas com cara de dilúvio bíblico. Indicado ao Oscar 2024, o filme alemão tem cara de fábula.
Se quem cochicha, o rabo espicha, então os alunos de Carla mal conseguem sentar-se de forma confortável na sala de aula. Um vídeo clandestino acaba por sentenciar uma das funcionárias, que por acaso também é mãe de um dos estudantes, o que potencializa o caos no ambiente. Professores insatisfeitos, uma diretora casca-grossa e uma jovem educadora estão no centro do problema.
O diretor roteiriza ao lado de Johannes Duncker em forma de cápsula do tempo. Ele sentencia todos os envolvidos no crime a uma revista emocional, sem necessariamente se atentar ao verdadeiro culpado. Aqui, estão em xeque a conduta de cada pessoa, além da integralidade, da honestidade e do julgamento de um sistema quebrado, que não vê problema em desconfiar do aluno filho de pais estrangeiros.
Leonie Benesch dá tudo de si no papel de uma protagonista incerta de como iniciou certas situações, mas ciente de que a verdade deve vir à tona, mesmo que passe por cima de algumas regras da escola. Em seus olhos, o filme concentra a culpa, a pressão e, principalmente, a exaustão de uma mulher cheia de valores e preceitos.
The Teachers’ Lounge continua nesse ritmo, em contagem regressiva de uma bomba-relógio que explode com fogo e calor, estilhaçando gotículas de preconceito, repressão e a sensação de que, não importa o veredito, todos perderam a jogada. O revés de uma decisão precipitada reverbera em contraste ao horizonte azul-cerúleo de uma Alemanha desamparada, povoada por crianças e adultos desatentos a quem bate o martelo da justiça.
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