Os Melhores Discos de 2024

Passeando por gêneros, confira nossas escolhas dos CDs da safra de 2024 que você deveria ouvir o mais rápido possível

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2024 movimentou-se incessantemente no mundo pop da Música: teve um controverso quarto prêmio máximo do Grammy para Taylor Swift, teve show gratuito de Madonna na praia de Copacabana, e, ainda, o alvorecer de Chappell Roan, que estourou com o disco de estreia e fez bonito com Good Luck, Babe!, o hino sáfico que tomou o TikTok de jeito.

No Brasil, Liniker desfilou com o poderosíssimo CAJU, premiado e aclamado no Multishow e esgotando turnês país afora. O Grammy, que acontece no começo de fevereiro, segue sem favoritos óbvios, podendo até coroar o disco sertanejo de Beyoncé. Mas ninguém se esquecerá tão cedo do fenômeno BRAT!

Foi o ano de despedida de grandes nomes da Música, como o produtor Quincy Jones, morto após anos de convívio com o câncer, e o jovem Liam Payne, ex-One Direction que se envolveu em um caos na Argentina. Os tabloides explodiram com os desdobramentos da prisão de P-Diddy, titã do rap acusado de abuso sexual, entre outros crimes. Abaixo, leia sobre estes e outros pontos de destaques de 2024.

Grande ano para as trilhas originais

O calendário atrasado de lançamentos internacionais no Brasil abriu espaço para que a Trilha Sonora Original de Pobres Criaturas fosse citada aqui. O trabalho de Jerskin Fendrix, em sua estreia na área, é psicodélico, marcante e confuso – características que fazem do filme de Emma Stone uma amálgama de ideias. Se o roteiro e a direção não crescem na força necessária, a Música o faz. 

Tão forte na mensagem cinematográfica são as partituras que Raffertie cria para A Substância, o horror corporal que transforma Demi Moore numa boneca de retalhos. Os instrumentos batalham no estúdio de gravação, rasgando a carne e se sujando de todos os fluidos que o Ativador proporciona para Elizabeth Sparkle e sua arquirrival e cara-metade Sue. 

E no quesito músicas criadas (ou recriadas) para o Cinema, ninguém supera as coletâneas de I Saw the TV Glow e Wicked. Enquanto a primeira é berço de hinos atemporais de Phoebe Bridgers, Caroline Polachek e cia, a segunda regrava o material premiado na Broadway e injeta precisão e particularidade, tanto nas vozes de Cynthia Erivo e Ariana Grande, quanto nos rearranjos de Stephen Schwartz, criador do espetáculo. – Vitor Evangelista

Lembra de mim?

Se a água que Jack Antonoff bebe quando produz os discos de Taylor Swift está passada do ponto, a fonte usada na produção do quarto CD do Bleachers é quase milagrosa. O arrojo esperado do indie rock está presente, assim como as composições de requinte e muito bom gosto. Mesmo caso de Kacey Musgraves, que vai para as raízes do country e mistura com pop no calmo e intenso Deeper Well. Registros muito acima da média de artistas que, embora longe do patamar passado, conseguem reinventar-se sem apagar a identidade que os consagrou. – VE


As herdeiras do rock alternativo da América do Norte

Em seu disco mais pessoal até o momento, Halsey faz de todos nós cúmplices em sua falsidade, distribuindo gratuitamente suas referências musicais favoritas no que seria possivelmente o último álbum de sua carreira após seu diagnóstico de lúpus e leucemia em 2022. A eclética coleção de músicas sobre vida e morte marca um momento de virada em sua escrita lírica, se despindo da performance e abraçando um som tão cru quanto potente. Se The Great Impersonator fosse realmente sua última contribuição para a música, Halsey teria nos deixado com seu maior presente.

A cantora Poppy, por outro lado, abraça completamente sua performance de roqueira e, junto do produtor Jordan Fish (Bring Me The Horizon), produz o pesadíssimo Negative Spaces, um ode muito bem vindo ao metalcore e que mescla incrivelmente o lado mais pop da artista com suas tendências mais rebeldes. Do outro lado do continente, a banda mexicana The Warning evoluí seu hard rock à níveis estratosféricos e produz seu título mais refinado até o momento. Bem distantes de seu humilde começo fazendo covers de Metallica em sua garagem, as irmãs Villarreal agora fazem seu som mais do que uma simples amálgama de estilos, desenvolvendo em Keep Me Fed uma sonoridade feroz e cruel, com o baixo de Alejandra e a bateria de Paulina em sincronia perfeita com os vocais e a guitarra de Daniela, marcando faixas energéticas e caóticas. – Gabriel Arruda

Fora de perigo, o pop mais feminino que nunca

Se existe vida após o pop, devemos muito às mulheres que lutaram para o gênero continuar sendo o mais badalado da indústria. Há poucos verões, o ritmo chiclete se via desconjurado pela ascensão do rap, perdendo força no discurso, nas paradas e no radar das premiações. Já em 2024, ninguém saiu ileso do magnetismo de hits como We can’t be friends (wait for your love), Apple e Espresso

No macro, a tríade atesta que o pop abandonou o estado de calamidade; na concha de suas criadoras, entretanto, representa o máximo potencial de conexão das experiências humanas, aquelas que levam às dores de coração e cotovelo, aos pensamentos obscuros, ao humor duvidoso e às reinvenções que sustentam a alma da música. Cada um dos singles, enfim, está no esqueleto de álbuns que provaram a excelência das narrativas femininas nesse ano.

eternal sunshine nasceu por acaso, diante da greve de atores e roteiristas em Hollywood que atrasou o lançamento de Wicked. Fora da pele da coadjuvante Glinda, Ariana Grande pôde retornar aos estúdios musicais e enfrentar as atuais discussões públicas sobre suas atitudes muito pessoais. Do divórcio relâmpago ao polêmico novo namoro, das críticas midiáticas ao próprio corpo às incertezas dos 30 anos: a floridense não economiza honestidade nem invocações de R&B em nenhuma das oito faixas, participando da composição e produção de cada uma delas. 

E como esquecer do meteoro verde neon? Manifesto artístico e cultural da melhor qualidade, BRAT pulsou para além do cenário underground que o inspirou com um marketing bem posicionado e responsivo, virando meme, trend e, por fim, estilo de vida. O frenesi eletrônico de Charli xcx não só abocanhou sete expressivas indicações ao Grammy 2025, como virou matéria no Jornal Nacional e atravessou as eleições mais decisivas da história recente dos Estados Unidos. A britânica ainda teve tempo para se jogar com Troye Sivan na Sweat Tour (que pode chegar ao Brasil em breve) e lançar duas versões repaginadas do disco, incluindo remixes ao lado de Lorde, Kesha, Billie Eilish e muito mais.

Alvoroço e personalidade forte também sondam a popstar de 1,52 metro de altura que teve a segunda canção mais ouvida do ano no Spotify. Sabrina Carpenter nunca se resumiu a números, mas a lógica matemática é interessante nesse caso: foram dez anos de carreira até o sucesso bater à porta – e ele arrombou sem dó. Seu novo álbum, Short n’ Sweet, soma cinco bilhões de reproduções nas plataformas digitais, além de revitalizar o apreço pelas produções de Jack Antonoff e canalizar as altas doses de desinibição e ironia que a tornaram a nova loirinha do pedaço. – Vitória Vulcano

De Londres a Edenvale: as novatas que deixaram nossos ouvidos em pé 

Algumas figuras estreantes na música surpreenderam pela semelhança com os elementos da natureza. Seus trabalhos partiram do fogo da criatividade, se expandiram pelo ar que respiramos e, como água, se moldaram aos ambientes e objetivos que deveriam atingir. Mas todos esses discos também compartilham uma certeza maior: a de que as raízes de suas artistas são terra propícia para explorar, construir e fortificar. 

Vertigo, criação de Griff, britânica de descendência chinesa e jamaicana, é o primeiro destaque da lista. Com lançamento dividido em três volumes, a obra usa o coro de múltiplos instrumentos musicais para espremer o sentimentalismo exacerbado do coração da cantora…apenas para mostrar como todos nós estamos e somos emocionados. Travesseiros, fantasias de astronauta e esconderijos entre paredes são uma pequena parcela das metáforas depositadas ao longo do álbum para nos fazer soltar um arzinho pelo nariz e admitir a terrível sina da humanidade. 

Em outro lugar da Inglaterra, Rachel Chinouriri alinhou ideias igualmente profundas. Não se engane pelo timbre suave da artista: What a Devastating Turn of Events é uma coletânea indie/soul barulhenta e estonteante dos dramas que a seguiram até os 26 anos de idade, especialmente como uma mulher negra de herança estrangeira. Primeira integrante de sua família que não nasceu no Zimbábue, ela faz da canção-título um tributo a uma parente distante, além de intencionalmente confrontar notícias agridoces e episódios traumáticos. O play é merecido inclusive no videoclipe de Never Need Me, que tem a participação de Florence Pugh. 

Por fim, resta dizer que Water era a gota de um glorioso oceano. Depois de conquistar seu primeiro Grammy com o hit, Tyla aproveitou os holofotes para lançar trabalhos autointitulados e autoexplicativos. Tanto no molde standard (TYLA) quanto na versão deluxe (TYLA+), as canções imprimem o gingado contagiante da garota de Edenvale, que se expressa pelo casamento entre R&B e ritmos africanos, como amapiano e afrobeats. Comparada pelos tabloides à Rihanna do Velho Testamento, ela prova que seu legado está só começando. – VV

Chinouriri será um dos atos de abertura da Short n’ Sweet Tour, de Sabrina Carpenter, em 2025 (Foto: Parlophone)

Altos e baixos calibrando a bússola da Música Latina 

Sol e chuva se revezaram no céu anual dos artistas latinos. De início, Kali Uchis floresceu dos pés à cabeça em ORQUÍDEAS, registro mais poético de sua carreira. Em inglês ou espanhol, a versatilidade sonora e a obstinação lírica reaparecem como máxima da colombiana-americana, que equilibrou a produção do disco com a gravidez de seu primeiro filho. 

Na safra oposta, Omar Apollo procurou justiça entre os homens e piedade divina após ser estraçalhado por um relacionamento à la filmografia de Pedro Almodóvar. Bom, God Said No e ganhamos 14 faixas de atmosfera própria, trabalhadas com sintetizadores e violões – que funcionam como o juízo final – pelas mãos de Teo Halm e Blake Slatkin. Vale tudo para investigar a psique do americano-mexicano, até convidar Pedro Pascal para um relato confessional. 

Sob o tempo nublado, cercadas de paparazzis e fantasmas, duas estrelas argentinas preferiram tirar o saldo da vida de artista a limpo. Em GRASA, Nathy Peluso vem para maximizar seu dom de gerar reflexões e combinações explosivas, desfilando como camaleoa do funk ao rock. Já TINI rompe em definitivo o corroído fio que a ligava ao passado na Disney ou ao mero status de princesinha do reggaeton, distorcendo e reimaginando sua figura pública pelos recortes de seu primeiro projeto experimental, un mechón de pelo

E se o clima nunca esteve tão favorável para a música regional mexicana, dada a rápida escalada de artistas masculinos como Peso Pluma e Oscar Maydon, todos os sentidos de Becky G se voltaram para o sucesso. Pegando carona na recepção positiva de ESQUINAS, homenagem requintada ao universo em que se criou enquanto mexicana-americana, as culturas que dividem seu coração continuam latentes em ENCUENTROS. Mais segura e apaixonante, agora focando nas dores e delícias do amor como se fosse autora de novela, a cantora aposta em parcerias e nuances vocais que consolidam sua sede artística certeira. – VV

Mundo alternativo extensivo e equilibrado 

Navegar com excelência pela imprevisibilidade não é só o principal talento de Twenty One Pilots, mas a chama que mantém seus trabalhos tão unificados em coerência e ambição. Nessa aventura que há anos constrói a mitologia de Blurryface, Clancy surge como possível fim da linha e um dos momentos de maior êxtase musical da dupla. Pintando as memórias de um mundo pós-apocalíptico, as faixas elevam o lirismo arrebatador já conhecido, incrementando novas camadas de rock, níveis eletrônicos, e, claro, muito rap

O ímpeto de tentar mediações entre os segredos mundanos também cruzou o presente de beabadoobee. Levemente quebrando seu invólucro em torno das melodias lo-fi, onde repousou desde o começo da carreira, a artista se apega à nostalgia do pop-rock em This Is How Tomorrow Moves para desenvolver variações brilhantes dos ritmos, em grande parte acompanhadas por canetadas mais críticas e temperamentais. Não à toa, a co-produção ficou a cargo de Rick Rubin, assinatura em registros de The Strokes, Imagine Dragons e Red Hot Chilli Peppers. 

No entanto, força e eficiência nem sempre são medidas pela ousadia. No conforto de suas experimentações instrumentais, Wallows conseguiu reciclar o tom de suas questões, feridas e ilusões, enfim, confeccionando as sutilezas que formam Model. É um álbum de verão: caloroso ou incômodo na medida certa, e, principalmente, capaz de deixar algumas canções borbulhando na sua cabeça até o inverno. 

Receita semelhante apareceu no repertório de Pom Pom Squad. Introspectiva e ressentida, a banda volta a andar na corda bamba que guiou seu trabalho de estreia nos lampejos imersivos do sucessor, Mirror Stars Moving Without Me. Cada mínimo detalhe do projeto se esbalda na estridência formal ou idealista do rock grunge, produzindo faíscas em composições que balanceiam agressividade e vulnerabilidade para operar sobre causa e conflito. Há intenção de ferir, sarcasmo, síndrome de superioridade e complexo de vítima o bastante para deixar qualquer um boquiaberto. – VV

Wallows se debruçou sobre o conteúdo e a forma de sua arte, que virou queridinha dos jovens alternativos, para batizar seu terceiro trabalho de estúdio (Foto: Atlantics Records)

Festa de peão sem hora para acabar

Se o sertanejo não esgota seu favoritismo no Brasil, o country faz morada nos rankings de canções mais ouvidas ao redor do mundo. 2024 foi ano de descobertas para o gênero, vide o retorno estrondoso de Shaboozey e o pouso tardio de Post Malone, mas ainda sobrou espaço para quem já é sólido no ramo – caso de Zach Bryan. Natural de Oklahoma, no meio dos Estados Unidos, o cantor tem as cartas na manga para fisgar qualquer tipo de ouvinte no apurado The Great American Bar Scene. Suas letras contam histórias comuns, dando fôlego extraordinário ao cotidiano americano em entrelaços de violões, gaitas e sons ambientes que nos colocam frente à frente com uma bebida agridoce, sentados no lugar mais emblemático que conhecemos (que pode ou não ser um bar).

Até mesmo no pop, que vem acomodando a influência de botas e chapéus de cowboy em estéticas e retratos, os maneirismos tiveram papel central. O exemplo mais inigualável de todos só poderia ser Beyoncé. Em COWBOY CARTER, segundo ato de RENAISSANCE, ela esculpe o country à sua maneira minuciosa, revisitando anos do apagamento histórico sofrido por artistas negros no gênero e cravando a potência flexível de sua visão musical. São interlúdios, samples, cartas abertas e colaborações, construídos pelas mãos de múltiplos compositores e produtores, que costuram um futuro de referências e inovações. Yeehaw! – VV

Criando expectativas e brechas para um terceiro ato, a Queen B tem sido apontada pela crítica especializada como provável vencedora da categoria mais disputada do próximo Grammy: Álbum do Ano (Foto: Parkwood Entertainment)

A Ponta da Língua de Sofia Freire

Sofia Freire é desejo, invenção e teimosia. Da cena pernambucana de Recife, a cantora, compositora, tecladista e produtora musical independente traz em seu 3º álbum produções suculentas, com letras cinemáticas que vão de Virginia Woolf a contemporaneidade própria. Para a sonoridade do projeto, a voz latente da música alternativa brasileira combina as habilidades no teclado, elementos eletrônicos, artpop e conversas com o brega. As ideias ambiciosas executadas com exímio constroem um disco coeso, com versos que convidam para serem cantados e posicionam a autenticidade de Sofia como seu maior triunfo. – João Arnaldo Brunhara

No Reino dos Afetos 2 com Bruno Berle

A habilidade de Bruno Berle de enfeitiçar suas canções e nos transportar para a atmosfera do Reino dos Afetos é fascinante. O segundo álbum do cantor, compositor e produtor alagoano de Maceió dá continuação às intenções de seu primeiro disco e expande a intuição do artista, que sempre escreve com o coração. No Reino dos Afetos 2 combina as melodias da MPB com baterias do hip-hop e influências da música nordestina, em uma fusão do orgânico e eletrônico. batata boy, parceiro musical de longa data e que também nos agraciou esse ano com o lançamento da MAGICLEOMIXTAPE, retorna para executar sua percussão mágica. O Brasil se encanta pelas vozes de Alagoas, como a de Djavan, e Bruno conversa com a poesia de Dja pelas suas próprias palavras, do seu jeitinho autêntico. E nessa, ele vai conquistando o mundo. – JAB

A artista visual Deborah Amoreira é a ilustradora da capa de No Reino dos Afetos 2 de Bruno Berle (Foto: Coala Records/Bruno Berle)

Fabiana Palladino por Fabiana Palladino

Em atividade desde 2017, o primeiro álbum de Fabiana Palladino só chegou aos nossos ouvidos no ano passado. Parte do selo Paul Institute, a britânica traduz em seu disco autointitulado suas referências do R&B e pop dos anos 80, e reimagina as produções para esta década, invocando imediatamente a atemporalidade das canções. Fabiana tem o suingue necessário para fazer as composições funcionarem perfeitamente nos tempos e contratempos, e cada instrumento encontra o seu lugar para um grande groove, dinâmico e passional. – JAB

A Hora das Revelações e a Noite de Lua Torta de MUNDO VIDEO

2024 foi um ano cheio para Gael Sonkin e Vitor Terra. No meio do ano, o EP HORA DAS REVELAÇÕES ganhou forma no plano físico com participação da cantora Gab Ferreira. Em outubro, chegou a vez de Noite de Lua Torta, primeiro álbum da dupla. O duo carioca pilota as sonoridades do MUNDO VIDEO por dentro dos dispositivos eletrônicos, experimentando as possibilidades da música alternativa e as combinações do pop, rock, eletrônico e breakcore. Sem medo de questionar as convenções, o mundo do vídeo coloca a alma na canção, criando peças visuais com distorção de sintetizadores e guitarras, e bateria dinâmica e frenética. O trabalho gráfico é um agrado a parte, ao simular um JPEG de má qualidade e a capa de um CD pirata. Com letras confessionais e ocasionalmente bem humoradas, Gael e Vitor conhecem bem o território internetal que conectam seus cabos, se levando a sério sem se levar a sério demais, um equilíbrio arriscado que alcançam com precisão. – JAB

A Vontade de Beleza de Vitor Milagres

Vitor Milagres retornou sua carreira musical solo no ano passado, depois de se aventurar com o grupo ROSABEGE, coletivo criado por três amigos de Niterói. Os outros ⅔ do trio também marcam presença no disco, com o genial tttigo na produção das faixas e dadá Joãozinho em Firmamento. Vontade de Beleza imagina uma MPB que se funde ao eletrônico e invenções próprias, para criar sua sonoridade autêntica e hipnotizante em combinações inesperadas. Com uma das mais belas capas de 2024, o álbum retrata sonhos, vida social, amor e fé, e Vitor modula sua voz para usá-la como instrumento nas composições sonoras. Percorrer seu próprio caminho na música alternativa brasileira é recompensador, com um disco autêntico que captura um momento precioso de novas possibilidades. – JAB

Vitor Milagres também é designer 3D e participou da composição da capa de Vontade de Beleza, ao lado de Simba (pintura), Marina Zabenzi (digitalização) e tttigo (retouch e cor) [Foto: Vitor Milagres]

A in.corpo.ração de Jup do Bairro

O corpo sem juízo de Jup do Bairro faz seu próprio lugar na música brasileira, e o EP in.corpo.ração é mais uma transgressão de sua musicalidade pulsante. De Capão Redondo, Zona Sul e periferia de São Paulo, a artista convida a dupla CyberKills para a produção das faixas com todo seu repertório eletrônico. Jup caminha pelas trilhas alternativas da música brasileira, inserida no contexto urbano biônico de São Paulo, e experimenta a maleabilidade do funk, eletrônica e rap. O projeto expõe uma ebulição de sentimentos que se convertem em canções, e contesta convenções sociais e sonoras, papel que Jup incorpora em suas vivências. Apesar de ser um EP de apenas 5 faixas, o potente timbre grave apresenta músicas viscerais e vigorosas, e dá o próximo passo de uma carreira brilhante. – JAB

O Charm de Clairo

Em Charm, a estadunidense Clairo propõe uma retomada dos sons dos anos 70 ao explorar as possibilidades do rock, folk, pop, jazz e R&B, e mantém a essência que a condecorou como voz proeminente do bedroom pop. Com um olhar atual, o gênero musical de quarto parece um prelúdio na trajetória da artista, que reconhece poder e intensidade na sutileza. Gravado de forma analógica, o disco traz arranjos fantásticos minuciosamente posicionados que fluem nas canções com naturalidade, e evidencia o refinamento em sua técnica sem perder a espontaneidade. – JAB

O Imaginal Disk de Magdalena Bay

A psicodelia nunca sai de moda, afinal, nada melhor que uma realidade alternativa para uma audiência empapuçada por todas as informações do mundo. Magdalena Bay, que já encontrava influências nos sons alucinantes, decide contar em Imaginal Disk a história da alienígena True. A dupla estadunidense Mica Tenenbaum e Matthew Lewin estão mais próximos da América Latina do que você imagina: Mica nasceu na Argentina e Matthew tem ascendência argentina por parte de pai. 2024 foi um ano muito frutífero para os dois, e a sonoridade alternativa do álbum caiu no gosto do público. As canções synth-pop com elementos do dance e rock invadiram as caixas de som e fones de ouvido, e a capa do disco virou até fantasia de Halloween. – JAB

Capa do álbum Imaginal Disk de Magdalena Bay (Foto: Mom + Pop)

Chega de corações partidos

Se alguns choraram pelos términos, outros começaram a, enfim, ver a luz no fim do túnel da superação. Depois de um, dois e três projetos musicais sobre a ex-namorada, FLETCHER deu a volta por cima e foi atrás do antídoto. Em In Search Of The Antidote, a cantora revisita sentimentos egoístas tão característicos do processo de cura, encapsulando toda a bagunça que é abraçar suas próprias contradições. Ela aceita o próprio ego, dá uma cutucada na (então) atual namorada da ex e até se envolve em um romance proibido com amigas famosas, ao longo de 11 faixas marcantes, que provam que o amadurecimento também é musical.

Do mundinho lésbico estadunidense para o brasileiro, outra que passou por um término para lá de público (e teve sua boa dose de projetos dedicados à ex) foi Carol Biazin. Não mais. A primeira parte do álbum No Escuro, (afinal, haverá segunda parte) mostra que a cantora não deixou o coração partido diminuir o tesão, com letras e arranjos de guitarra ousados que darão armamento suficiente para as sáficas se identificarem. 

E por mais que Biazin não tenha medo de abraçar a sensualidade, a segunda metade do disco abre portas para sentimentos mais complexos, como relações familiares, sonhos e medos. Apesar de tirar a coerência narrativa e musical do álbum, as canções mostram o poder da cantora de se entregar sem medo ao que fica abaixo da superfície.

Falando em sensualidade, essa é a marca registrada de Kehlani há bons anos. Com CRASH, não poderia ser diferente. Não que a artista não tenha passado por corações partidos – Better Not é a prova de que algo nebuloso aconteceu dentro de uma Mercedes-Benz e ela não vai mais tolerar gracinhas. Só que, dessa vez, ela escolheu o desejo. Numa mistura de ritmos, desde rap e trap ao pop e R&B, Kehlani cria faixas que simbolizam essa explosão de caprichos, impulsos e apetites, típico de uma recém-solteira ansiosa para despirocar. O resultado pode ser uma bagunça… mas quem não é? – Vitória Gomez

O anúncio da gravidez foi feito em um dos shows de Ludmilla (Foto: Instagram)

Ninguém foi tão feliz quanto Ludmilla

Nenhum brasileiro foi tão feliz em 2024 quanto Ludmilla. A ex-MC Beyoncé começou o ano com hit do Carnaval, se apresentou no Coachella, apareceu na lista do Grammy Latino, lançou pop, funk, funknejo, reggaeton e pagode, esgotou shows e  – como se não bastasse isso – anunciou que será mãe ao lado da esposa, Brunna Gonçalves.

Para dar conta de tanta felicidade, só um pagode para comemorar. Ou melhor, para dar sorte, já que fomos agraciados com o Numanice #3 (Ao Vivo) logo no início do ano. O projeto de 18 faixas expôs o que já sabíamos: Ludmilla é uma das artistas mais versáteis em atividade. Com carisma para dar e vender, ela se dedica à esposa, com Maliciosa e Espelho (uma releitura da canção que apareceu em Hello mundo); sofre à toa, com Você Não Sabe o Que É o Amor e Saudade da Gente, e até paga de amante ao lado de Belo, em 26 de Dezembro. Tem até música para fazer o passinho durante o show (que, diga-se de passagem, é uma das melhores do álbum).

Já na terceira edição do projeto Numanice, Ludmilla deixou claro que não se contenta com pouco. Além de refinar seus próprios talentos de composição e seu time de produtores, que seguem criando arranjos inesquecíveis para as faixas, Lud convida um time de colaborações diverso, que sempre agrega à sua grandeza. Se Carol Biazin, Mari Fernandez e Vitinho contrastam no dueto e nos ritmos musicais com a carioca, expondo sua versatilidade, os feats com Menos é Mais e Belo reforçam uma sintonia de tempos passados.

A ambição não fica só no Spotify. Com uma turnê pelo Brasil, Ludmilla torna o Numanice #3 (Ao Vivo) uma experiência completa. – VG

Liniker foi a grande vencedora do Prêmio Multishow (Foto: Caroline Lima)

Quem é CAJU?

Essa é a pergunta que Liniker fez a si mesma e aos fãs antes do lançamento de seu segundo álbum solo. Na sucessão de Índigo Borboleta Anil (2021), vencedor do Grammy Latino e primeiro disco sem Os Caramelows, a cantora paulista vestiu a carapuça de um alter-ego mais corajoso e vulnerável emocionalmente (e não, as duas coisas não são opostas). Em uma Conversa Com Bial, ela admitiu que a Caju é “tudo que eu sou para dentro e que, às vezes, tímida, eu tenho dificuldade de botar para fora”.

Assim nasceu CAJU, segundo álbum de Liniker. A proposta é externalizar sentimentos de todos os tipos com intensidade, franqueza e sem papas na língua. As letras – todas escritas pela intérprete, às vezes com acompanhamento de outros compositores – expõem uma visão pessoal e única da cantora sobre suas relações afetivas. Se ora ela clama por alguém que a ajude a salvar os domingos ou que a alcance em um aeroporto, ora admite que seu amor é um tesouro, que não merece ficar nas mãos de quem não sabe valorizar. As contradições, nesse caso, só engrandecem o trabalho ao comunicar as próprias contradições de ser – algo que, vamos combinar, é comum a todos nós.

A multiplicidade também é rítmica. Os produtores de Índigo Borboleta Anil, Júlio Fejuca e Gustavo Ruiz, retornam em CAJU para criar um repertório mais amplo, passeando por diferentes gêneros musicais. Do pop ao MPB ao pagode, os verdadeiros destaques (além dos vocais e composições de Liniker) são os arranjos marcantes de cada canção, seja na batucada da percussão ou nas cordas. Isso, sem contar os momentos de catarse, em que o instrumental se levanta e nos carrega até a próxima faixa. – VG

Arregace as mangas. É hoje de jogar tênis

Suor, poder e techno. Nas mãos do mestre do erotismo, até o tênis virou um jogo perverso de ambição e sensualidade. Challengers, dirigido por Luca Guadagnino, colocou Zendaya frente a frente com Josh O’Connor e Mike Faist para um duelo em quadra que nada tem a ver com o esporte em si. Como um bom entendedor de que o tesão não vem só do sexo, Guadagnino colocou seus protagonistas para arregaçar as mangas, tornear as coxas e braços, e suar. E colocou nós, espectadores, em uma rave de emoções.

Boa parte dessa montanha-russa é graças à trilha sonora. As bolas de tênis batendo no chão e os calçados escorregando na quadra ganham novos olhares ao som do batidão criado pelos vencedores do Oscar Trent Reznor e Atticus Ross. Com o briefing do diretor italiano, a dupla se despiu do controle para obedecer à proposta: assim como o filme, a trilha precisaria ser pulsante, como um coração que não para de bater. E por sinal, bate rápido e forte.

O resultado é que, no embalo dos sintetizadores, até uma partida de tênis ou um alarme de iPhone viram combustível para o trio de personagens disputarem ego. Não por menos, Reznor e Ross foram agraciados com o Globo de Ouro por Melhor Trilha Original. – VG


Abençoadas sejam as garotas barulhentas

Bem longe das clean girls e tendências de minimalismo, o indie rock feminino de 2024 trouxe um caldeirão efervescente de novidades sonoras barulhentas e estéticas mais pomposas ainda. O retrato mais fiel disso é a estreia de The Last Dinner Party, que depois de bombar com o single Nothing Matters em 2023, finalmente fez as honras de um disco completo com Prelude to Ecstasy. E o resultado é um banquete: com referências de Kate Bush, Florence + The Machine, Lana Del Rey, as conterrâneas Wet Leg e até Madonna, a girlband inglesa recolhe bênçãos de todas as bruxas que não conseguiram queimar e esbanja personalidade em cada uma das 12 músicas que compõem o álbum. São cinco jovens enraivecidas e performáticas na estética barroca que tanto bombou em 2024 – não tinha como dar errado.

Um pouco mais glamourosa e contemporânea, Suki Waterhouse retornou para reforçar a predominância das britânicas no gênero e brindar o berço no art rock. Memoir of a Sparklemuffin traz um tom mais lúdico para a discografia da artista que lançou seu primeiro álbum apenas em 2022, I Can’t Let Go. Mas no novo disco, ela se leva bem menos a sério e se diverte muito mais, principalmente com os vocais e composições, fazendo com que canções como Blackout Drunk e Supersad sejam um convite irrecusável para fazermos o mesmo. 

Do outro lado do Atlântico, Soccer Mommy continua como referência da vanguarda do gênero nos Estados Unidos. Com Evergreen, a artista traz um som ainda mais alternativo e soturno, bem próximo de Phoebe Bridgers e Mitski, criando um contraste com Sometimes, Forever (2022) e o bombado color theory (2020). Reflexões sobre luto, amadurecimento, solidão e a imprevisibilidade da vida tornam-se súplicas nas guitarras da artista, que passa pelos fatídicos 27 anos. Ainda sim, é possível encontrar momentos de mais energia – ainda com um retrogosto amargo, mas é justamente o abraço à contradição emocional que faz o trabalho dessas artistas tão único e especial. – Raquel Dutra 

Kendrick Lamar fez por merecer

2024 foi o ano de Kendrick Lamar. Em março, tornou-se protagonista de uma rivalidade que ele mesmo engatilhou. Um embate entre as duas maiores potências da cena contemporânea do rap, que virou assunto até em portal de fofoca. Depois de muitas diss tracks e acusações pessoais, a vitória é indiscutível. O rapper uniu toda a Costa Oeste dos Estados Unidos em uma só causa. Reuniu gangues rivais e ratificou o respeito que conquistou nas ruas. Comercialmente, a briga lhe assegurou o maior hit de rap do ano e o show do intervalo no Super Bowl em 2025. K-Dot quebrou recordes nos charts e está prestes a ganhar um Grammy com uma faixa em que chama Drake de pedófilo.  

Após tantas vitórias, GNX cravou a linha de chegada. Porém, para um público tão acostumado com obras densas e cuidadosamente lapidadas, foi estranho lidar com um trabalho tão reativo. Acontece que, para além de um desdobramento dos temas que rondam a vida pública de Kendrick, esse disco é o resultado de uma pesquisa extensa do artista com o West Coast rap, que iniciou-se em 2021 através das suas colaborações com Baby Keem. GNX oferece um olhar único para um subgênero pivotal para o hip-hop estadunidense, colocando artistas da cena alternativa em evidência. – Enrico Souto

Um ano colorido para o hip-hop

Fora do cenário das picuinhas, Tyler, The Creator vive o maior momento da sua carreira. O rapper iniciou 2024 como headliner do Coachella e terminou desbancando artistas pop ao estrear em primeiro lugar na Billboard 200 com CHROMAKOPIA. Um disco fora da curva não só na produção, em grande parte analógica, como também em relação à discografia do artista, quebrando tradições que ele mesmo estabeleceu.

Apesar de enganar os ouvintes para preservar a surpresa, CHROMAKOPIA foi um disco recheado de contribuições de artistas notáveis. Childish Gambino, que aparece em duas faixas, voltou à ativa depois de quatro anos de hiato, com direito até a dobradinha. Além de relançar o infame álbum 03.15.20 com o nome de Atavista e mixagens refeitas, Glover deu à luz a Bando Stone and The New World, seu último projeto sob a alcunha de Gambino, que promete acompanhar um longa-metragem – ainda sem data de lançamento.

Mas a verdade é que quem roubou a cena foi Doechii. A artista trouxe ao mundo sua mixtape Alligator Bites Never Heal, emancipando-se das suas ‘músicas de Tik Tok’ depois de anos de embates criativos com a Top Dawg Entertainment, sua gravadora. A recompensa foi imediata. A rapper ganhou nossos corações com seu carisma indistinguível e nossos ouvidos com seu flow técnico, acompanhado de interpretações teatrais e cheias de vida. – ES  

Funk é internacional, sim!

O funk segue crescendo exponencialmente mundo afora. Em 2024, JPEGMAFIA rimou em cima de um beat do DJ RaMeMes no seu disco I LAY DOWN MY LIFE FOR YOU e The Weeknd sampleou Tati Quebra Barraco na épica São Paulo, sua colaboração com Anitta. Ela, inclusive, que finalmente concretizou seu desejado álbum de funk com Funk Generation, impondo-se como a referência definitiva para a sonoridade funk-pop. Se em projetos anteriores, Anitta atirava para todos os lados na falha tentativa de agradar o maior número de pessoas, agora ela entrega um trabalho coeso, em que a mistura de línguas e gêneros musicais age em prol do conceito da obra. Digno de artista internacional.

Enquanto isso, artistas da cena nacional seguem testando os limites do gênero. Irmãs de Pau lançaram a primeira parte de Gambiarra Chic, um EP que une o senso estético de opulência com a crueza e vulgaridade do funk putaria. Com produções de CyberKills, Brunoso e Clementaum, a dupla segue em busca da sonoridade mais apocalíptica possível, que reflete o caráter combativo inerente a sua visão artística. – ES

Linkin Park (re)começa com o pé direito

Antes do show surpresa em setembro de 2024, muitos julgavam o retorno de Linkin Park impossível. Este era um assunto temido pelos próprios fãs, em decorrência das circunstâncias sensíveis da morte de Chester Bennington, vocalista e um dos pilares da banda. Entretanto, o grupo ressurgiu das cinzas com uma nova voz: Emily Armstrong, da banda Dead Sara. Dois meses depois, Linkin Park já se apresentava em São Paulo no dia do lançamento de From Zero, seu primeiro disco em sete anos.

Armstrong recebeu, imediatamente, ataques misóginos por parte da internet. De comparações infundadas com outras vocalistas, a questionamentos sobre seu passado e ameaças de morte, ela saltou sobre os obstáculos e agarrou a oportunidade com as duas mãos. Sua presença trouxe personalidade e vida nova para Linkin Park, em faixas enérgicas que retomam os melhores momentos de Hybrid Theory. Se a banda vivia turbulências antes da tragédia de 2017, agora reconquista nossa paixão latente pelo Nu Metal, antes adormecida. Leia a crítica aqui. – ES

“Tão tranquila essa paisagem”

Tuyo vive sua era Solar Power. Se o trio, formado por Jean, Lio e Lay, se consolidou através de músicas melancólicas e existenciais, sua estética soturna é agora iluminada pela vibrante luz do sol, que reflete o delicado amarelo dos grãos de areia da praia. Na verdade, a essência de seus trabalhos anteriores segue ali, mas guiado por uma visão amadurecida que só mais de 10 anos de estrada são capazes de dar.

Paisagem, terceiro álbum de estúdio da banda, versa sobre o tempo das coisas. Depois de tantas vivências calcadas na urgência e no imediato, Tuyo aprende – e nos convida a aprender – a enxergar beleza nos processos. Nem tudo deve ser sobre o resultado ou a linha de chegada. Às vezes, tudo que precisamos fazer é apreciar a vista. – ES

Em 2024, até mesmo o trap se diversificou

Em 333, o último projeto de Matuê, o cantor traz uma vibe totalmente diferente de qualquer outro projeto seu ou de um trapper brasileiro à indústria. Com elementos de reggae, batidas lentas e muitas vezes, entorpecentes aos ouvintes, o artista, apaixonado por números, utiliza guitarras, baixos, violões e uma pegada mais pop para construir seu novo disco. Para mostrar que também está à frente do tempo no marketing, como ação de lançamento do disco, o cantor passou três horas e 33 minutos suspenso em uma plataforma no meio do Vale Anhangabaú, em São Paulo. Com uma contagem que se encerrou às 15h33, o álbum chegou às plataformas e, nesse momento, estávamos prontos para receber sucessos como Maria, O Som e 333

O projeto de 12 canções teve um sucesso estrondoso e extremamente repercutido. Mais uma vez, Matuê bateu o recorde de maior estreia do Spotify no país, com mais de 16 milhões de reproduções na plataforma em 24 horas. Além disso, ele conseguiu emplacar 11 faixas no top 50 Brasil: 8 delas ficaram na playlist por mais de uma semana. De fato, o melhor lançamento do artista será sempre o próximo. – Giovana Guarizo

Foi ano de dose dupla para a 30PRAUM

Além do tremendo sucesso do álbum 333, de Matuê, principal artista da gravadora 30PRAUM, foi também o ano de WIU se destacar. Ao contrário de Matuê, WIU traz muitos elementos da cultura nordestina para o seu segundo álbum de estúdio, como por exemplo toques sutis de forró, piseiro e até mesmo uma vibe mais latina com o reggaeton. Dessa vez, falando como é ser um Vagabundo de Luxo: os corações partidos ficaram em Manual de Como Amar Errado (2022).

Como forma de se reinventar, o cantor traz um personagem mais confiante e maduro para essa nova fase, cantando sobre sua autoestima, sobre curtir a vida e com um estilo mais pop do que o antigo e primeiro projeto. Mas, acima de tudo, ele traz nas letras momentos de sua carreira e a visão de um jovem de 22 anos que está em contato com a cena do trap brasileiro. Os destaques de 2024 foram Rainha da Finesse, que já possui mais de 60 milhões de reproduções no Spotify, Vidigal e Eu não Ouço Mais Trap. Esse lançamento só nos leva a um fato sobre os artistas da 30PRAUM: todos terão o seu momento de brilhar. E, no ano passado, foi a vez de WIU. – GG

Camila Cabello teria encontrado quem ela realmente é?

Em C,XOXO (Magic City Edition), Camila Cabello mostra seu lado vulnerável, mas ao mesmo tempo, seu lado mais quente e alternativo. Na época de lançamento, a cantora surgiu até mesmo com um cabelo loiro para a nova era, com maquiagens metalizadas e um balanço entre quem ela realmente é e o que pode dar certo na indústria. June Gloom é o melhor dos exemplos deste novo projeto. A música carrega um contexto pessoal da cantora, ao mesmo tempo em que se faz um sucesso por conta da sonoridade, do visual e da batida melancólica e sexy.

Diferente da primeira versão do álbum, o Magic City Edition traz 4 novas faixas, com destaque para baby pink e GODSPEED. Canções extremamente divergentes, mas que se completam no todo. A primeira, marcada por um empoderamento da cantora e a segunda, como um desabafo profundo do seu eu mais frágil. GODSPEED, inclusive, foi marcada por uma apresentação icônica da cantora no MTV VMAS, em que a mesma entregou beleza, vocal e uma narração extremamente coesa para a performance. Agora, se Camilla está sendo ela mesma, não sabemos, mas ela está chegando lá. – GG

A cantora mais ouvida do mundo mostrou que também pode ser obsessiva

E quando todos estavam esperando o anúncio do tão aclamado Reputation (Taylor‘s Version), Taylor Swift foi pelo lado contrário e nos presenteou com mais um trabalho inédito, THE TORTURED POETS DEPARTMENT, seu 11º álbum de estúdio, com 16 faixas. Mostrando que é viciada em trabalhar, no mesmo dia, a loirinha também soltou uma versão surpresa do disco, chamada THE TORTURED POETS DEPARTMENT: THE ANTHOLOGY, com outras 15 músicas. Ao todo, são 31 canções que carregam letras nunca imaginadas pelos fãs. Após um hiato de dois anos desde Midnights, TTPD possui o lado mais pessoal da cantora, em que a mesma se assume obsessiva em algumas relações. 

Em vista de seus outros projetos, a estética e o estilo dos sons não foram tão inovadores, mas Taylor nos traz mais pra perto de seu coração na maioria das músicas. Fortnight, single indicado ao Grammy, em parceria com Post Malone, teve o clipe dirigido pela cantora, que diz que o vídeo é a “representação perfeita desse álbum”. Com um tom dramático e até mesmo gótico, o clipe possui easter eggs que a cantora ama trazer para enlouquecer seus fãs. Além deste, outros destaques foram I Can Do it With a Broken Heart, Down Bad, Guilty as Sin? e So Long, London.

O lançamento se tornou o primeiro álbum da história do Spotify a ter mais de 300 milhões de streams em um único dia e em três dias, gerou 490,2 milhões de streams no Spotify. É nítido o impacto que a mesma tem na indústria musical e que ela está vivendo sua melhor fase profissional. Com o sucesso da The Eras Tour globalmente e do novo álbum gigante, a cantora também se consagrou a artista mais reproduzida no mundo na plataforma em 2024 e mostrou que não importa qual faceta ela mostre, todos estarão lá para ouvir. – GG

Dizer que Billie Eilish inovou já se tornou pleonasmo 

Em mais uma tacada certeira, Billie Eilish nos concedeu outro presente, intitulado HIT ME HARD AND SOFT. A cantora, que possui apenas 23 anos, já coleciona 2 Oscars e 9 estatuetas do Grammy e está disposta a buscar outras sete com esse álbum, que promete ser favorito em diversas categorias (incluindo as principais) na maior premiação de Música do mundo. HMHAS ainda possui elementos de trabalhos antigos da cantora, afinal, ela tem seu estilo próprio, porém, traz letras mais maduras e condizentes com sua atual personalidade e vivência. 

Batidas programadas e distorções eletrônicas que não estávamos acostumados a ouvir em seus sons são elementos presentes nessa nova fase da cantora. Enquanto as letras se mostram melancólicas, o som, especialmente na finalização das músicas, faz o ouvinte viajar e experienciar diversos sentimentos durante todo o álbum, como por exemplo na viciante CHIHIRO ou então em BLUE. Já faixas como WILDFLOWER e THE GREATEST nos fazem arrepiar do início ao fim, tanto pela letra, quanto pelo ritmo em si, que trazem um tom dramático e pessoal que parece ecoar dentro de nossas mentes, como se soubéssemos exatamente o que se passa com Billie. Esse projeto só deixa claro que o diferencial da cantora é ela mesma. Leia a crítica aqui. – GG

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