Após sete anos de silêncio, o Linkin Park retorna aos holofotes com From Zero, um álbum que, ao mesmo tempo que enfrenta as sombras do passado, busca um futuro musical ousado. Incorporando a nova vocalista Emily Armstrong, a banda revisita sua essência enquanto explora territórios contemporâneos, criando uma obra que ecoa tanto seu legado quanto suas novas influências.
O álbum, lançado em sua completude no dia 15 de novembro, marca um retorno significativo da banda após a morte de Chester Bennington em 2017. Além da presença de Armstrong como vocalista, ao lado de Mike Shinoda, houve mudanças na formação com a entrada de Colin Brittain como baterista.
As expectativas eram altas e Shinoda não podia ser mais certeiro na nota oficial à imprensa ao dizer que o disco, “sonoramente e emocionalmente, é sobre passado, presente e futuro — abraçando nosso som característico, mas novo e cheio de vida”. Os fãs puderam apreciar um prelúdio desse retorno já que, dois meses antes, a banda fez uma live em seu canal do YouTube, a qual acumula mais de 12 milhões de visualizações.
From Zero se inicia com uma pedrada de The Emptiness Machine, uma das tríades lançadas em primeira mão. Os vocais de Emily e Mike se alternam entre versos intensos e melódicos, evocando a energia visceral de faixas clássicas como One Step Closer, enquanto introduzem elementos mais acessíveis ao estilo pop-rock. Não é à toa que o hit estourou e ficou em primeiro lugar na Billboard Alternative Airplay Chart.
Por outro lado, Heavy Is The Crown posiciona a cantora como herdeira legítima da posição, com vocais que canalizam a intensidade emocional e toques teatrais que lembram Florence Welch. O grito prolongado na música traz à mente o momento catártico de Given Up, agora reinterpretado de maneira única e contemporânea.
Finalizando a tríplice de singles, temos a obra-prima do álbum: Over Each Other. A música traz uma mudança de tom no álbum, desacelerando o ritmo com uma abordagem mais melódica e introspectiva. Ela apresenta uma produção mais limpa e minimalista em comparação com as faixas mais pesadas do álbum. A letra, carregada de vulnerabilidade, explora temas como conexão emocional e superação, o que ressoa fortemente com o legado lírico do Linkin Park.
Além disso, a canção é um tapa na cara de muitos homens (e aqui, enfatizo o sentido literal da palavra: o público masculino). Fortemente pressionada por esses fãs a alcançar as mesmas notas que Chester, Emily prova que não há rojão que ela não consegue segurar ao gritar a pleno pulmões BUT YOU WON’T LET ME BREATHE. Outro ponto a ser mencionado é que, mesmo perante às críticas, ela entrega um clipe impecável, como protagonista de um relacionamento com outra mulher.
O lançamento de From Zero se sucedeu no mesmo momento em que a banda estava em terras brasileiras para a turnê From Zero World Tour. Isso marca um momento especial na trajetória da banda, evidenciando seu retorno triunfal aos palcos internacionais já que os ingressos se esgotaram em poucos minutos. Além do repertório focado em seu novo álbum, a banda incluiu grandes sucessos de sua discografia, como In The End e Numb, criando uma atmosfera nostálgica e empolgante (com direito a calcinhas voadoras, trilhas sonoras de animes e bonecos do Transformers).
Nem tudo, porém, brilha com a mesma intensidade. Casualty, ainda que expõe o absurdo potencial da voz de Emily, acaba sendo a faixa mais descartável perante a imensidão do álbum. Mesmo assim, a tentativa de incorporar novos estilos é admirável, demonstrando que o Linkin Park continua disposto a evoluir.
Ao contrário de Good Things Go, que fecha o álbum com uma abordagem minimalista e contemplativa. Os dois vocalistas unem forças para um dueto que ressoa como um abraço final aos fãs. Há ecos do lado mais introspectivo de ambos e uma sutileza que contrasta com a energia explosiva do resto do disco, tornando-a mais energizante e, de certo modo, mais pacífica.
No geral, o disco é um testamento à resiliência do Linkin Park. Como um álbum de recomeço, ele pode não ser perfeito, mas suas melhores faixas mostram que a banda ainda sabe como se conectar emocionalmente com seu público. Se Minutes to Midnight foi o marco da transição, From Zero é o álbum da reconstrução: uma prova de que mesmo do vazio pode nascer algo belo e significativo.
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