Meninas Malvadas: O Musical abraça o drama e sacode a comédia

Em cartaz no Teatro Santander, espetáculo é dinâmico e estridente

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Para cada ação vergonhosa que o filme de 2024 ordenava na tentativa de esconder seu fator musical, a peça que chega ao Brasil no Teatro Santander aumenta a aposta e mergulha no que faz de Meninas Malvadas o material perfeito para os palcos. Diferente da versão do Cinema, que omitia canções inteiras e recortava as que sobreviveram, a direção de Mariano Detry e Jorge de Godoy é gloriosa e orgulhosa.

Tomando o centro iluminado com luzes de discoteca e um cenário de telões de LED e escadas móveis, Damian Hubbard (Arthur Berges) e Janis Sarkisian (Lara Suleiman) dirigem-se à plateia, alertando sobre a fábula moral que se desenrolará em 160 minutos e dois atos. A tímida Cady Heron (Laura Castro) vai embora da África, aterrissando numa escola americana repleta de padrões conhecidos da savana.

Meninas Malvadas: O Musical conta com a regência de Jorge de Godoy (Foto: Arthur Berges)

São os grupos, clubes e panelinhas, comandados por um trio de Poderosas. A menos avantajada no cérebro do que nos visuais Karen Smith (Aline Serra), a obcecada por controle Gretchen Wieners (Gigi Debei), e o mal em forma humana, Regina George (Anna Akisue). Elas são estátuas impecáveis dos ideais de popularidade e sucesso, algo que incomoda os excluídos e desperta na novata um desafio com cara e gosto de vitória.

A história, adaptada do roteiro de Tina Fey, ganha o toque brasileiro nas pequenas referências que o público entende sem precisar pensar, além de contar com a presença da sempre carismática Danielle Winits na tarefa tripla de viver a mãe de Cady, a mãe de Regina e a sra. Norbury. As trocas de figurino colocam a atriz em picos de humor e emoção, especialmente quando canta sobre a insegurança de ter George como filha e, mais tarde, na inquisição que a professora de matemática comanda no ginásio.

O atropelamento é feito com recursos inventivos, fechando o arco de ira da abelha-rainha (Foto: Arthur Berges)

Tratando-se de duas personagens com características e arcos opostos, Cady e Regina não têm o mesmo desafio de pavimentar figuras como Janis, Damian e Karen, os destaques absolutos no que tange às composições, coreografia e hipnose no palco. Em Sexy, a patricinha planeja o mundo perfeito, com Halloween, paz entre todos, e, bem, a liberdade de ser sensual.

Os amigos, que fazem a dobradinha de narradores, desafiam Cady e cutucam a audiência com os comentários metalinguísticos da história. Kevin G (Gabriel Brener), o matleta com tendências de rapper e loverboy, é o alívio cômico masculino, enquanto Aaron Samuels (André Torquato) conquista mais do que o coração das garotas do colegial, com as virtudes do mocinho inocente.

O trabalho de tradução e adaptação das canções feitos por Victor Mühlethaler é fantástico e inesquecível (Foto: Arthur Berges)

Com a melhor energia de High School Musical nos números de coral ambientados em cenários escolares, a obra brinca e potencializa o que a trama feminista e queer de Meninas Malvadas pavimentou no começo dos anos 2000. Indo na contramão do filme musical, certo de que a audiência se esquivava das canções e da veia fantasiosa do gênero, a peça de teatro saúda os amantes da Arte e convida quem não é rato da Broadway para a brincadeira.

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