“Bom dia”, digitou Mistress Isabelle Brooks numa postagem qualquer do Twitter. Em anexo, uma foto desfavorável de Tina Burner, com peruca de arco-íris e um sorriso congelado. Meses depois, o tweet acendeu o pavio da primeira intriga do grupo rosa do All Stars 10. Nada mais delicioso de se assistir do que esse desenrolar caótico do segundo bracket do Torneio.
MIB, que dominou o amor dos fãs durante a season 15, retorna ao Ateliê com todos os ingredientes que fizeram dela uma estrela do YouTube e aquele tipo de competidora que nasceu para brilhar quando as câmeras gravam. Ela implica com as sisters, mas esconde o shade num semblante aparentemente ingênuo. Manobra que irrita Tina, que passou um pouco atropelada pelas passarelas da season 13 e nunca ganhou carinho dos espectadores.

Em busca de trocar sua marca registrada, a nova-iorquina arrematou os jurados na estreia do grupo 2, costurando um modelito digno das alfaiatarias. No inédito formato de design onde as queens recebem oito materiais que devem incorporar ao look, Tina subiu ao pódio ao lado de Lydia Butthole Kollins, recém-expelida da 17ª temporada.
Jorgeous que se cuide, com Lydia hipnotizando o olhar de RuPaul, e vencendo o primeiro Lip Sync, ao som de Love Sensation. Adendo: também no Top da Semana, Mistress não escondeu a raiva ao não ser eleita para Dublar o que, ironicamente, é uma das músicas que mais performa em seus shows.

O que diferencia o time Laranja do grupo Rosa é justamente a selvageria das estratégias e a complexa rede de relacionamentos. Jorgeous e MIB são parceiras desde a adolescência no Texas, que também serve de lar para Kerri Colby, diva trans que aceitou a alcunha de Thranos na season 14 e volta ao Ateliê disposta a dar orgulho à mamãe Sasha.
E o All Stars 10 escalou duas queens da Dinastia Brooks, embora de linhagens diferentes: MIB divide o palco com a lendária Nicole Paige Brooks from Atlanta, Geórgia. Diretamente da segunda temporada de RuPaul’s Drag Race, a queen acumula anos de experiência e não hesita em gongar as outras drags e nem em retribuir os shades de RuPaul e dos jurados.

Contendo as Rainhas com o maior e o menor tempo de retorno entre a temporada regular e o All Stars, essa edição especial do reality prova-se um prato cheio para mostrar a evolução das queens, ao mesmo tempo em que consegue contar suas novas histórias com calma e aprofundamento, servir visuais elevados e cozinhar mais drama do que sabíamos que precisávamos.
Vamos a ele: na troca de pontos das rainhas do Bottom do Desafio de Criação, Mistress e Jorgeous passaram a perna em Kerri e Nicole, deixando as duas zeradas no placar. Mais tarde, depois do também inédito desafio do Roast em formato de Rap, a dupla assegurou o top 2, dublou HOT TO GO! e empatou pelo ponto extra. Jogada de mestre, por mais que os desempenhos de Lydia e de NPBFAG poderiam muito bem colocá-las no topo, em uma troca com a posição de Mistress.

Quando as queens voltam ao pesaroso ritual de distribuir os pontos da MVQ, Tina Burner se estranha com Lydia, que troca favores com Kerri. Resumo da ópera: como na escolha de batons no formato anterior do All Stars, não há certo, errado ou injusto nas deliberações, tornando os momentos, ainda novos aos olhos dos fãs e das competidoras, um evento obrigatório e de suma apreciação.
Depois de anos de marasmo e escolhas arbitrárias e protocolares, o All Stars volta a empolgar e a ser um tópico voraz de debate. Há quem tenha repulsa ao modo Mistress de ser, há também aqueles que aplaudem cada dominó que a Campeã Peso-Pesado posiciona para então destruir as estruturas. No meio do caminho, é possível lamentar o descaso com Nicole enquanto comemoramos uma troll infiltrada entre a falsa diplomacia do programa. Tina, por outro lado, mata a sede de quem esperava uma rivalidade sua com Rosé no passado, algo que foi sugerido, mas nunca confirmado pelo andamento da temporada.

No grupo com escolhas ousadas: uma drag que competiu em 2010, uma que acabou de sair do Ateliê e outra que esteve no último All Stars, o time rosa divide os papéis com primazia e sem hesitação. Tina cobra as falcatruas de Mistress, que ri na cara do perigo, convoca Jorgeous para as ardilosas tramoias e até adota Lydia como parte de sua família.
Nicole, absorta em meio aos mecanismos de um Drag Race completamente distinto daquele em que participou, e saiu na segunda semana, faz par com as tentativas de renovação de Kerri, que evolui nas passarelas, embora não se solte como os jurados pedem nos Desafios.

Nem todo mundo que volta para o Ateliê tem a mentalidade de ganhar, então o Torneio, com três desafios e pontos para ganhar e entregar, atende as demandas orçamentárias, físicas e mentais das participantes. Com o avanço dos nomes mais ativos e atrativos do bracket para as Semifinais depois do Rusical ambientado no universo da heroína Starbooty, o All Stars 10 se encaminha para o último sexteto de divas em busca do cheque de 200 mil dólares.
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