Fascinado pela mística ao redor de Johnny Cash, o diretor James Mangold batalhou para conseguir os direitos e dar início a produção que biografaria a relação do astro do rock com a parceira June Carter. Para os papéis centrais, Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon foram convocados e decidiram mergulhar a fundo na preparação. O resultado: o Oscar 2006 de Melhor Atriz para ela.
Ambos aprenderam a tocar os instrumentos (a guitarra e o autoharp), além de passarem por treinamentos vocais que não só desgastaram o corpo, mas a mente. Conhecido pela adoção do Método, Phoenix distanciou-se da família e viveu como Cash nos meses de produção e, de Reese, sugou a química e a relação conflituosa. As informações de bastidores são ainda mais suculentas: a dupla não se bicava e só foi harmonizar a relação quando as câmeras foram ligadas.
Na história, que ganha o título original Walk the Line – e foi traduzida à brasileira em busca daqueles que não conhecem a discografia do astro de cabo a rabo -, Cash começa como um garoto perdido. Isolado por um pai violento e amparado pelo irmão que faz papel de super-herói, a primeira decepção acontece na perda do pequeno Jack e na certeza de que, a partir dali, o caminho seria tortuoso e desagradável.
Muitos anos depois, casa-se com Vivian (Ginnifer Goodwin) por conveniência e praticidade. Juntos, parem algumas filhas, mas o que Cash busca é a oportunidade de cantar para viver. E ele consegue – por acaso, como toda bela história de ascensão e superação. Com os cheques abastados e plateias abarrotadas, a rotina cobra a dívida na forma de vícios.
Álcool, remédios e qualquer agente que atenuasse e amortecesse os sentidos aguçados do atormentado cantor. Phoenix canaliza os dotes como ninguém, indo do sacro ao maldito num piscar de olhos. Mas é Witherspoon, desprendendo-se dos rótulos cômicos que a alavancaram na década anterior, quem incorpora a alma de Johnny & June.
Como a atrevida e comedida June Carter, a atriz entende a mágoa de viver à sombra da família e, mais ainda, enxerga em Johnny alguém apartado da aura magnética que tomava conta dos holofotes. Eles só trocam um beijo depois que o filme atravessa a marca da primeira hora, e Mangold grava tudo com o caos controlado que uma turnê regada aos ingredientes dos anos setenta poderia ostentar.
Depois de dirigir Angelina Jolie ao prêmio da Academia por Garota, Interrompida, o cineasta colabora com a dupla de Walk the Line abrindo caminho para os improvisos e as ideias de última hora, características-base do arsenal do futuro Coringa. Desta vez, ao contrário do drama de hospício com Winona Ryder, a formulaica narrativa de cinebiografia musical não se desvia das setas, ganhando destaque justamente pelo que acontece frente às lentes.
Reese fez a limpa na temporada, vencendo todos os prêmios que concorreu. No Globo de Ouro, Johnny & June saiu invicto, com os troféus de Melhor Ator, Atriz e Filme de Comédia ou Musical. A força descomunal de Phoenix foi eclipsada pelo trabalho tão desafiador que Philip Seymour Hoffman decantou em Capote. Há, ainda, o discurso de que a vitória pelo Palhaço do Crime não arranha a qualidade do retrato de Johnny Cash. Ela voltou a ser indicada por Livre, mas mantém June Carter como único trabalho reconhecido na Academia.
Deixe um comentário