Não é todo dia que uma participante de RuPaul’s Drag Race toma conta do discurso on-line e empilha elogios e títulos de favorita dos fãs. Mais raro ainda são os casos onde essa drag queen é a segunda eliminada da temporada. Mas essa foi a trajetória de Mirage, queen de Las Vegas, que recebeu seu Sashay Away no episódio 4 da season 16.
Tudo começou no Show de Talentos e na apresentação da faixa autoral “She’s such a Bitch”, com Mirage resgatando as raízes da Cidade do Pecado ao bater seus saltos na mesma frequência da canção. O frenesi aconteceu tanto no palco, com reações marcantes das drags presentes e dos jurados, quanto fora, com a música acumulando recordes de reprodução, sem sinal de pausa.
Com o sistema das queens ranqueando as próprias performances, Mirage ficou no grupo das Salvas. No episódio três, onde os grupos apresentados na estreia finalmente se encontravam, ela passou longe das Piores e Melhores, com um trio de visuais interessantes, mas não o bastante para sair vencedora (ou perdedora) do Mother of All Balls.
A tragédia veio em RDR Live!, a paródia do Saturday Night Live que Drag Race apresentou no All Stars 8 e trouxe de volta na 16ª temporada. Na distribuição dos papéis, Mirage ficou com o posto de apresentadora e, sendo a única trabalhando sozinha, duvidou dos ossos cômicos e acabou transmitindo a confusão quando as câmeras começaram a gravar.
Em um só take, Mirage não convenceu nas piadas de abertura e nem mesmo no gancho para a apresentação musical de RuPaul. O roteiro, escrito por profissionais que não sabem mais encontrar o rabo da piada, caiu duro em sua entrega, com algumas gaguejadas e respiros longos. Mas, depois de arrebentar tudo no Talent Show demonstrando a lábia na Dublagem, Mirage estaria mais do que tranquila no Bottom 2, onde inevitavelmente acabou indo parar.
Veio então o segundo e fatal obstáculo: Dark Lady, canção escolhida para a passarela que homenageou Cher. Mirage já começou errando quando uniu um look anos 70 com um cabelos anos 60 da diva, algo que já eliminou outra queen alguns anos atrás. A dica é simples: não misture as décadas em frente à RuPaul.
Geneva Karr, a outra participante do Lip Sync, segurou a onda, mas os movimentos de Mirage tomaram conta da tela: de giros calculados, à remexida da longa peruca preta e o penduricalho dos detalhes em roxo. E Plasma chegou para mandar a real: ela não sabia as palavras.
Dito e feito, e com uma advertência de Michelle Visage que selou o destino, Mirage desabou ao ouvir sua eliminação. As doze queens restantes, reunidas no fundo do palco, choraram igual. Entre lágrimas e lamentações, RuPaul’s Drag Race colocou mais pimenta no temperado caldo que está se formando na competição de 2024.
Mirage, drag sister da vice-campeã Anetra, com promessa de arrasar nos desafios de performance e dança, foi eliminada sem saber as palavras da música. Em 2017, Valentina caiu na mesma armadilha, provando que justiça reina na terra de RuPaul e, por mais triste, difícil e desesperador que seja dar adeus a uma personagem carismática, as regras existem para ser seguidas.
Uma favorita dos fãs deixando a competição na penúltima colocação não é novidade na franquia global, mas o acontecimento na série-mãe abre espaço para que a competição cresça para além das expectativas, mostrando que RuPaul dita a ordem naquele macro-cosmos e nós, como audiência cativa e ciente dos funcionamentos da engrenagem, sempre podemos esperar o improvável. No fim, a presença de Mirage na TV combinou com seu nome, mas não podemos esperar para vê-la vencendo uma Dublagem de Cher no All Stars 10, ou no Global All Stars 2, ou onde quer que seja.
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