Uma investigação sobre abuso e desaparecimento de crianças em uma escola residencial indígena desencadeia um acerto de contas na vizinha Sugarcane Reserve. É desta forma que se apresenta o documentário de Emily Kassie e Julian Brave NoiseCat: frontal e diretamente, avança pelos anos de violência e trauma, com o aval de personagens que viveram os horrores.
Sugarcane estreou em Sundance e lá venceu o Prêmio de Direção, sendo alavancado para uma temporada frutífera de premiações. Reconhecimento no NBR, além de troféus no Critics Choice Documentary Awards, e menções no Gotham, no Spirit e na pré-lista do Oscar 2025. As razões são várias: a concisão e potência do roteiro, aliado à pesquisa e as entrevistas conduzidas pelos diretores, são pontos de destaque.
E no mesmo ano que o Cinema norte-americano adapta O Reformatório Nickel, de Colson Whitehead, os temas de violência institucionalizada são revisitados pela ótica não-branca e minoritária. No Canadá, a reserva Sugarcane enfrenta a História com os relatos em mãos. Uma investigadora e uma arqueóloga são as responsáveis pela escavação e pelo ligar dos pontos.
Do lado da Lei, um chefe de polícia impulsiona as buscas e ouve dos cidadãos pistas que podem levar a um culpado. O próprio co-diretor, Julian Brave NoiseCat, coloca o pai no centro da imagem, sendo este o único dos sobreviventes recém-nascidos que foram colocados para morrer no forno da escola.
Os padres abusavam das alunas, engravidavam-nas, mandavam as garotas para além da fronteira, onde tinham os bebês, que depois eram descartados, afogados, apagados dos registros. Fato é que Sugarcane entende a dimensão da questão e que a justiça muito provavelmente não será cumprida.
Os responsáveis estão eles mesmo mortos, eternizados na religião que professaram em nome da maldade e da crueldade. Um dos idosos da comunidade visita a sede da Igreja no Vaticano, só para ouvir um pedido esfarrapado de desculpas do Papa Francisco, que mantém a dialética da suprema fé: os pecados agiram em nome das próprias virtudes, a instituição pouco tem a ver com os “erros” individuais. Mas, em Sugarcane, o recibo mostra algo diferente.
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