Em Black Box Diaries, a jornalista acaba no centro da notícia

Documentário indicado ao Oscar 2025 acompanha narrativa pessoal e desgastante

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A jornalista japonesa Shiori Itô decide romper os preceitos arcaicos da sociedade em que vive quando, depois de sofrer um episódio de abuso sexual por um homem de posição superior, denuncia em praça público o ocorrido. Organiza uma audiência com a imprensa e detalha, em minúcias, a terrível noite que tomou parte em 2015 e deixou sequelas emocionais e físicas à mulher.

No documentário que dirige e protagoniza, Itô é heroína e narradora, em uma narrativa que mescla filmagens em primeira pessoa com cenas do cotidiano de perseguição e pressão que sofre. O assediador, um renomado jornalista que compartilha laços de afinidade com o então primeiro-ministro do Japão, tem uma rede de proteção construída por anos de tradição e sexismo.

A “caixa preta” do título faz referência aos assuntos escondidos por meio da burocracia e da censura (Foto: Spark Features)

O simples ato de enunciar o ocorrido transforma a mulher em mártir. Com a ajuda de advogados e colegas noticiadores, o processo leva tempo demais. “Eu tinha 25 anos e agora estou com 32”, confidencia para a câmera, entre uma audiência e outra. Objeto de perseverança, Black Box Diaries é daqueles filmes que tornam o cotidiano em algo extraordinário.

Pois não é normal viver com medo, culpa ou terror nos olhos. Tampouco é aceitável ver o culpado por todo esse sentimento negativo e desolador caminhar livre e ser defendido pelos preceitos que são fachada. Itô escreve um livro, enfrenta a cova dos leões e sai de cena com uma vitória que traz exaustão.

Ela não sabe como reagir após as decisões judiciais, que colocam Noriyuki Yamaguchi na posição de culpado e, mais ainda, livram-na de um fardo que consumiu toda sua força de existir por quase sete anos. Um período marcado pelo pânico de reviver o trauma e pela necessidade de passar por cima dele e continuar sua caminhada.

O relato da noite do crime é lido, nas palavras de Shiori Itô, por uma terceira pessoa, atestando o poder da reportagem e do jornalismo da diretora (Foto: Spark Features)

Exibido em Sundance e reconhecido com uma Menção Honrosa no É Tudo Verdade, o filme conquistou uma vaga entre os Melhores Documentários do Oscar 2025, compondo uma lista de experiências pessoais transformadas em universais. Ao lado de títulos da Palestina, do Canadá e do Congo, Black Box Diaries reitera o fator íntimo das histórias que captam a atenção da Academia, interessada no que há por debaixo dos panos quentes e das ataduras.

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