Quando estreou fora de competição no Festival de Veneza em 2022, o documentário Bobi Wine: The People’s President chamou atenção pela abordagem disruptiva. Afinal, filmar confrontos políticos em um país emergido em tensão e perseguição, aliado ao uso da Música e da Arte, parecia uma tarefa impraticável. Como já é óbvio, esse não é o caso.
Do burburinho em terras italianas até uma indicação ao Oscar 2024 de Melhor Documentário, o projeto de Christopher Sharp e Moses Bwayo é uma co-produção entre o Reino Unido, os Estados Unidos e Uganda, país que serve de base para a ação. Conhecemos o ativista e cantor africano que busca desafiar o regime vigente de Yoweri Museveni, que emendava mandatos e sufocava a oposição. Ele está no poder desde 1986, ano em que Bobi Wine comemorou seu quarto aniversário.
Produção da grande Nat Geo, e com dedo da Disney na distribuição, The People’s President se certifica de situar cronologicamente cada uma de suas porções documentais. A luta pela democracia começa há quase uma década, momento em que Wine e sua fiel base de apoiadores começa a colocar em pauta e em ações a oposição ao político que driblou a Constituição a seu favor.
Barbie (mais uma na tumultuada corrida do Oscar) é a esposa de Bobi Wine e também a protagonista em carne e osso quando o marido é levado preso ou cativo dos manda-chuvas escondidos atrás de distintivos, proteção militar e golpes arquitetados contra a vida do opositor. Sharp e Bwayo dirigem a trama com a câmera na mão e localizada no centro de cada emboscada e confronto.
Até vislumbres de susto e temor se fazem presentes nas quase duas horas que separam um simples artista de um mártir político, ensandecido na labuta de libertar o povo de Uganda de um regime totalitário. Em cortes suntuosos, a montagem nos coloca na vertente de Wine, na relação de causa e efeito dos episódios políticos cozinhados em versos de rap e reggae que ganham letreiros com as composições.
Longe, porém, da veia mais “caseira” de títulos como 20 Dias em Mariupol, que documenta uma guerra que a Europa e os EUA se investem com mais calor na cobertura midiática e humanitária, o filme de Bobi Wine se coloca na corrida do Oscar como uma alternativa à produção homogeneizada que impera em Hollywood. Aliás, a totalidade da categoria na edição deste ano provém longe dos Estados Unidos, com títulos da Ucrânia, da Tunísia, do Chile e da Índia, indicando uma predileção da ala ao contrário da maré de registros célebres de figuras que já povoam os noticiários.
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