Ginger Minj venceu Drag Race – e só precisou de quatro tentativas e certa ajuda da produção, que entregou-a críticas positivas e quatro Wins seguidos. É curioso o caso do All Stars 10, que inovou em formato e fez escolhas criativas e surpreendentes de elenco, e como o castelo de cartas desmoronava a cada bracket do Torneio.
Se os grupos Laranja e Rosa encheram os fãs de entusiasmo e euforia, foi só o Roxo chegar que as caras azedas apareceram. Nas Semifinais, compostas de apenas dois episódios eliminatórios, o jogo desigual tornou-se mais avantajado, com um Snatch Game carente de boas atuações e um Show de Talentos apenas digno de menção.
Minj venceu seu terceiro Snatch Game (de 4 jogados, apesar da edição não mencionar a performance dela como Tammy Faye no All Stars 2), e Bosco foi a campeã de Show de Talentos, com uma apresentação burlesca que coloca a diva no panteão do programa. No fim, as quatro vitórias da rainha teatral não passaram batidas, com decisões questionáveis no Lalaparuza que a colocou frente a Jorgeous ao som de It’s Raining Men.

O episódio 10 reapresentou as queens ao Ateliê, com direito a uma nova entrada na Runway e um visual atualizado no confessionário. Os brackets foram gravados na metade do ano passado, enquanto as Semifinais aconteceram em abril de 2025, resultando em mudanças estéticas, físicas e até de ímpeto das competidoras.
Ginger e Mistress Isabelle Brooks perderam peso, e fizeram de sua narrativa uma de superação que RuPaul adora elogiar. Foi, sem dúvidas, um comercial prolongado de Ozempic, ou qualquer que seja o medicamento usado no processo, que apenas reitera a gordofobia que o programa e uma parcela da audiência propaga sem se atentar. Teve Ginger de deixar a alcunha de big girl para enfim ser coroada?

Quanto ao Desafio, quem esperava um tropeço de Ginger foi atacado pela inteligência e prontidão da veterana, que interpretou Reba e foi recompensada. No Top, Jorgeous fez do Pitbull uma variação de sua persona no Roast do All Stars 9. Daya Betty como Jane Lynch, Bosco como Kenny Kerr e Irene the Alien como Zsa Zsa Gabor foram Salvas. No Low, Aja e sua Cookie Tookie e Lydia com Pete Burns perigaram dublar, mas a falta de graça de Mistress, como Natalie Nunn, e Cynthia Lee Fontaine, como Drácula, deixaram-nas na pior.
Na passarela, a categoria que pedia um “terno para um serve”, enterrou a passagem polêmica de Cynthia pelo programa, que penou para realizar sua revelação e foi engolida pelas críticas dos jurados. Justo mencionar: na recém-transmitida season 17, Lexi Love sofreu dos mesmos males de Cucu no Desafio, mas ganhou estrelas e uma posição nas Melhores da Semana.

Ao som da versão à capella de uma canção de Aretha Franklin, Mistress conheceu o início de seu destino, e mandou Cynthia embora depois de desfilar o pior look da temporada. Um terno gordo pintado porcamente que, no rodar da saia, revelava um vestido simples e fora do tom. Nervosa que só, a drag que causou nas eliminatórias e parecia imbatível, entendeu a mensagem subliminar e preparou-se para o inevitável.
Depois de voltar ao Ateliê em silêncio (um alerta vermelho quando o assunto é Mistress), ela parabenizou Ginger e, em tom irônico, congratulou a companheira pela vindoura vitória na temporada. No dia seguinte, tentou bater de frente com Aja, que respirou fundo e seguiu em frente. Ai de Mistress, que se livrou da versão estourada e “Linda Evangelista” da queen, agora menos interessada em morder de volta.
Todas perceberam o sangue na água, e a inédita fraqueza de Mistress foi explorada pela edição e pelos jurados, mais uma vez relegando-a nas Piores, ao lado de sua filha Lydia. O estilo mais moderno de Butthole combinou com a vibe do remix de Guess, sacramentando a jovem na Final.

O Desafio, mais uma vez um festival de Dublagens, teve momentos marcantes. Além do show de espreguiçadas de Bosco, Jorgeous fez bonito com sua bitch track, Ginger emulou Rose’s Turn com potência, Daya grampeou a própria coxa, Aja brincou com uma faca, Irene provou seu valor e Lydia saiu da casinha com ovos quebrados. Mistress, presa nessa trama de emagrecimento, foi na febre do Ozempic e não agradou nem no humor nem na versatilidade. Na passarela, Foiled Again, quase todas arrasaram – já entendeu quem ficou de fora, certo?
Mas nem tudo está perdido! Lembra da loteria que RuPaul prometeu depois do fim de cada bracket? Ela volta antes da Final, com os três jurados fixos determinando uma das eliminadas que gostariam de ver mais. Mistress é a escolha de Ross Matthews, e por alguma razão ainda misteriosa, tanto Michelle Visage quanto TS Madison escolhem Kerri Colby, que não venceu nenhum Desafio, nem mostrou o fogo e a vontade que nomes como Denali, Nicole Paige Brooks ou Tina Burner fizeram antes.
Sem coesão na narrativa apresentada, a presença de Ginger e a perseguição de Mistress canibalizaram a Semifinal, que resultou em anti climáticas eliminações e um torneio de Dublagem com cara e cheiro de combinado. Ginger teve a chance de escolher as músicas em todas as rodadas, eliminando a apagada Kerri Colby e a merecedora de uma chance à Coroa Bosco, que protagonizou uma batalha emocional com a sister Daya só para perder para Ginger ao som de P!nk.

Do outro lado, Jorgeous bateu Aja na mais disputada das Dublagens, enquanto Lydia eliminou Irene à batida de Kesha. No confronto entre as favoritas de RuPaul, a queen da season 14 superou Butthole. Quando chegou a hora da disputa final, Ginger Minj tinha tudo a seu favor: um histórico invejável, a atenção de Ru e dos jurados para seus truques repetidos e, pior ainda, a sensação de que o destino estava escrito desde a vitória no desafio de Wicked.
O legado do All Stars 10 e de sua campeã cabe ao tempo – e não é como se Ginger Minj precisasse de uma Coroa para atuar em diversas frentes e esgotar turnês. Em detrimento de reconhecer o presente, e celebrar a competidora com uma apresentação fantástica em looks e performances (como Bosco ou Jorgeous); ou alguém que volta ao Ateliê com algo a provar (Irene e Aja); ou mesmo a drag que elevou as expectativas de antes (caso de Daya e de Lydia); RuPaul decidiu viver de memória e de passado.

Quando Minj perdeu a Coroa do All Stars 6 para Kylie Sonique Love, sua longa e árdua jornada pelo programa chegou a uma conclusão dramática e suficiente para se dar por encerrada. De volta, ela não aumentou sua história pregressa, nem corrigiu erros ou melhorou traços de seu lado jogadora. Ela chegou, venceu os três desafios do grupo, o Snatch Game, foi bem no Show de Talentos e ganhou as Dublagens, em momentos bastante picotados de montagem, vale dizer.
Sem desfile da passarela no episódio final, o All Stars 10 também escondeu os importantes resultados do sistema de Rate-A-Queen, que, óbvio, colocou Ginger em vantagem no chaveamento. Numa decisão atropelada de encurtar o tempo da audiência com as queens do elenco que passaram de fase, ficou um gosto de potencial desperdiçado.

Imagina acompanhar mais da amizade de Lydia e Aja; ou ver mais da ligação de Bosco e Irene, drag sisters de Seattle. Ou quem sabe observar novas amizades, à moda do que outros elencos do passado fizeram. No fim, o All Stars 10 entendeu o fascínio pela novidade, enquanto igualmente se enamorava por uma ideia arcaica de justiça.
Os rumores apontam para um repeteco dos brackets no All Stars 11 – que RuPaul entenda as fadigas de seu programa e de uma vez por todas decrete mudanças que sirvam aos propósitos de competição e entretenimento. Até lá, será bom alguns meses longe das deliberações de Mama Ru – e mais tempo e energia para aproveitar o Drag Race Brasil!

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