Clint Eastwood viveu o bastante para atuar nos faroestes de Sergio Leone e assistir ao esmigalhar da América do Norte idealizada do mestre italiano. Na carreira, que risca a marca de sessenta anos, o diretor fez de tudo um pouco: já foi otimista e vingativo, já optou pelo remorso e ainda, pela esperança. Com Jurado Nº 2, quadragésimo longa de ficção que comanda, a desventura da justiça parece ter abocanhado suas realizações pessoais.
A história segue um homem qualquer, convocado para o Serviço de Júri e, então, afetado pelas decisões que deve tomar, ao lado de outros onze cidadãos da pequena cidade que vive. Na tribuna, um caso de homicídio que, por acaso do destino, envolve o protagonista. Interpretado por um contido e emocional Nicholas Hoult, o jornalista Justin Kemp prova-se alguém sedento pela justiça.
Ao menos, aquela que lhe favoreça no grande plano das coisas. Em casa, a esposa no terceiro trimestre de uma gravidez de risco transmite todos os sinais para que ele cumpra seu dever o mais rápido possível e volte para ampará-la. Mas é a morte de Kendall Carter (Francesca Eastwood, filha do diretor) que acende em Justin uma chama que não demora a consumir seus limites de juízo e consciência.
Ele estava lá, na noite de 25 de outubro, quando o namorado dela, James (Gabriel Basso, de Hillbilly Elegy) supostamente matou-a com um golpe na cabeça e um empurrão no riacho que nivela a passagem da ponte. Choviam canivetes, e nosso protagonista, um alcóolatra em recuperação, jura por Deus que não entornou o caneco que pediu no bar.
Seria o réu inocente? O personagem de Hoult duvida – e a princípio, só ele pensa assim. Os demais jurados votam pela condenação, e Eastwood dedica-se a aprofundar as personalidades e opiniões de alguns deles: um policial aposentado que entende demais (J.K. Simmons), um pai de família afetado pela guerra de gangues na cidade (Cedric Yarbrough) e até uma mulher com passado na justiça (Leslie Bibb) que quer porque quer chegar a uma conclusão exata.
Do lado de lá do tribunal, o roteiro original do estreante Jonathan Abrams empalidece Toni Collette na função de acusação, inquieta Chris Messina na pele do advogado de defesa e agiganta uma poderosa Amy Aquino como a juíza que comanda o julgamento. Questões pessoais e imateriais se metem no caminho do júri, que se inspira no que Sidney Lumet ditou como base em 12 Homens e uma Sentença.
A justiça é cega e ineficaz: Clint Eastwood pondera a mortalidade e o brilho que morre quando se tomam as decisões erradas na régua moral. No que parece ser o filme que encerrará uma carreira de louros e concessões, Juror #2 reacende a paixão pelo drama fechado, quando toda a ação aconteça nos diálogos e no que se esconde por trás deles. É óbvio que a Warner desovou tal joia no catálogo da Max, sem o devido respeito para o legado de Eastwood e a relevância de Jurado Nº 2 no ano em que vivemos.
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