Volume 4 de Love, Death + Robots impressiona sem arriscar

Culto aos gatos e ameaças espaciais estão no centro dos dez episódios inéditos

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Não é todo dia que David Fincher dirige fantoches do Red Hot Chilli Peppers, mas a quarta temporada de Love, Death + Robots faz questão de abrir sua seleção com essa escolhas. Can’t Stop empresta o repertório da banda, enquanto os personagens no palco e na plateia se mexem com a ajuda de fios e madeira, recriando um show de 2003.

Não funciona, mas promete a audácia e o descolamento da equipe de produção, liderada por Fincher e Tim Miller, quanto às histórias que julgam relevantes e interessantes de tomarem conta da curtíssima janela de exibição. Sem apostar alto ou atirar no escuro, os dez episódios trafegam entre o familiar e o ousado, tendendo para a primeira categoria.

Desta vez, os alienígenas tomam o lugar dos zumbis, dominando a Terra com a mesma ferocidade (Foto: Netflix)

Close Encounters of the Mini Kind volta ao mundo estabelecido em Night of the Mini Dead (3×04), para narrar, em distância e pouco foco, a tomada da Terra por parte dos menores seres possíveis. A polícia americana atira primeiro, gerando um efeito cascata que impede o abuso animal e coloca os ETs, mais uma vez, em posição de poder. 

Spider Rose, por outro lado, verte para os gráficos humanoides que se aproximam do console e conta uma tragédia cíclica na vida da protagonista, dublada por Emily O’Brien. No espaço, ela vive só – isso se não contarmos o gigantesco luto que se mistura à culpa pela morte dos aliados. Seu inimigo espreita, mas é um adorável animal de estimação que toma controle da história – para o azar da guerreira.

Para quem não quiser pegar a sessão matinê de Lilo & Stitch, LD+R apresenta uma versão sombria do elo entre mulher e besta (Foto: Netflix)

Na febre dos bebês reborn, o episódio 400 Boys soa assustador demais para ser encarado como sátira. Com ecos do mundo icônico Zima Blue, os traços transmitem a urgência da violência com o medo da destruição quando gangues rivais se juntam para combater monstruosos seres enormes. Se são crianças de fralda cheia ou deuses antigos famintos por vingança, pouco importa, já que a destruição é massiva e brutal.

Entre gatos e robôs, o cativante The Other Large Thing acompanha a trama de dominação mundial do bichano (voz de Chris Parnell), ao encontrar o parceiro ideal, um robô-mordomo (John Oliver) que o obedece sem pestanejar. Pena que a aventura tem tempo contado, já que quando os pets marcham em direção ao armagedom tecnológico, os créditos insistem em subir.

400 Boys tem vozes de John Boyega, Ed Skrein, Sienna King, Dwane Walcott e Rahul Kohli (Foto: Netflix)

O mais deslocado dos episódios é Golgotha, que ganha vida de forma live-action, com um padre, Maguire (Rhys Darby), encarregado de debater com os invasores alienígenas que futuro a humanidade terá perante um golfinho que, segundo os extraterrestres, personifica a volta de Jesus. A sinopse é muito mais intrincada e interessante que a sua resolução, gerando uma desconfortável e sonolenta metáfora de nós versus eles com a vida marinha e a exploração humana.

Para os amantes de Jogos Vorazes e Round 6 com uma pitada de Gladiador, The Screaming of the Tyrannosaur é uma injeção de adrenalina e tristeza: guerreiros são forçados a eliminarem uns aos outros enquanto dinossauros perseguem-os em uma roda gigante mortal. O apresentador do evento, que teve visual inspirado e dublagem de MrBeast, até tenta controlar a selvageria dos subordinados, mas a plebe está farta de encher a taça dos ricos com o próprio sangue. E até o T-Rex do título entra na gandaia.

A chinesa Bai Ling dubla a protagonista Mei, uma mulher que cicatriza feridas sobrepostas (Foto: Netflix)

Com traços de animação japonesa e mitologia tirada diretamente das páginas da Bíblia, How Zeke Got Religion recria os anjos à palavra do Senhor e os coloca dentro de um avião carregado de bombas. O endereço do disparo é uma igreja nazista, em plena Segunda Guerra Mundial, mas o trajeto e o envio passam longe de ser satisfatórios, com os soldados sendo mastigados pela manifestação divina, que mais tem cara de demoníaca.

Primo distante do humor de Big Mouth, o compacto manifesto de Smart Appliances, Stupid Owners acompanha o depoimento de uma coleção de apetrechos tecnológicos, claro que sob a tutela de homens, mulheres e crianças de baixíssimo intelecto. Atenção para o elenco de voz, com Amy Sedaris, Kevin Hart, Niecy Nash-Betts e Brett Goldstein.

O uso de massinha deixa os monólogos mais absurdos e inacreditáveis (Foto: Netflix)

Para fechar o Volume 4 de Love, Death + Robots, For He Can Creep se debruça na batalha eterna entre um gato (JB Blanc) e Satã (Dan Stevens). O motivo do embate, montado de forma teatral na Londres vitoriana, é a alma do poeta (Jim Broadbent) a quem o animal adotou como pet, e se desenrola em planos astrais e com a ajuda de outros avatares gatunos. Descendentes dos anjos, os miados geram rasgos guturais nas asas do Diabo. Fica a dica: se o seu gatinho fizer bagunça à noite, ele pode estar te protegendo de um Mal ancestral.

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