Não é todo dia que David Fincher dirige fantoches do Red Hot Chilli Peppers, mas a quarta temporada de Love, Death + Robots faz questão de abrir sua seleção com essa escolhas. Can’t Stop empresta o repertório da banda, enquanto os personagens no palco e na plateia se mexem com a ajuda de fios e madeira, recriando um show de 2003.
Não funciona, mas promete a audácia e o descolamento da equipe de produção, liderada por Fincher e Tim Miller, quanto às histórias que julgam relevantes e interessantes de tomarem conta da curtíssima janela de exibição. Sem apostar alto ou atirar no escuro, os dez episódios trafegam entre o familiar e o ousado, tendendo para a primeira categoria.

Close Encounters of the Mini Kind volta ao mundo estabelecido em Night of the Mini Dead (3×04), para narrar, em distância e pouco foco, a tomada da Terra por parte dos menores seres possíveis. A polícia americana atira primeiro, gerando um efeito cascata que impede o abuso animal e coloca os ETs, mais uma vez, em posição de poder.
Spider Rose, por outro lado, verte para os gráficos humanoides que se aproximam do console e conta uma tragédia cíclica na vida da protagonista, dublada por Emily O’Brien. No espaço, ela vive só – isso se não contarmos o gigantesco luto que se mistura à culpa pela morte dos aliados. Seu inimigo espreita, mas é um adorável animal de estimação que toma controle da história – para o azar da guerreira.

Na febre dos bebês reborn, o episódio 400 Boys soa assustador demais para ser encarado como sátira. Com ecos do mundo icônico Zima Blue, os traços transmitem a urgência da violência com o medo da destruição quando gangues rivais se juntam para combater monstruosos seres enormes. Se são crianças de fralda cheia ou deuses antigos famintos por vingança, pouco importa, já que a destruição é massiva e brutal.
Entre gatos e robôs, o cativante The Other Large Thing acompanha a trama de dominação mundial do bichano (voz de Chris Parnell), ao encontrar o parceiro ideal, um robô-mordomo (John Oliver) que o obedece sem pestanejar. Pena que a aventura tem tempo contado, já que quando os pets marcham em direção ao armagedom tecnológico, os créditos insistem em subir.

O mais deslocado dos episódios é Golgotha, que ganha vida de forma live-action, com um padre, Maguire (Rhys Darby), encarregado de debater com os invasores alienígenas que futuro a humanidade terá perante um golfinho que, segundo os extraterrestres, personifica a volta de Jesus. A sinopse é muito mais intrincada e interessante que a sua resolução, gerando uma desconfortável e sonolenta metáfora de nós versus eles com a vida marinha e a exploração humana.
Para os amantes de Jogos Vorazes e Round 6 com uma pitada de Gladiador, The Screaming of the Tyrannosaur é uma injeção de adrenalina e tristeza: guerreiros são forçados a eliminarem uns aos outros enquanto dinossauros perseguem-os em uma roda gigante mortal. O apresentador do evento, que teve visual inspirado e dublagem de MrBeast, até tenta controlar a selvageria dos subordinados, mas a plebe está farta de encher a taça dos ricos com o próprio sangue. E até o T-Rex do título entra na gandaia.

Com traços de animação japonesa e mitologia tirada diretamente das páginas da Bíblia, How Zeke Got Religion recria os anjos à palavra do Senhor e os coloca dentro de um avião carregado de bombas. O endereço do disparo é uma igreja nazista, em plena Segunda Guerra Mundial, mas o trajeto e o envio passam longe de ser satisfatórios, com os soldados sendo mastigados pela manifestação divina, que mais tem cara de demoníaca.
Primo distante do humor de Big Mouth, o compacto manifesto de Smart Appliances, Stupid Owners acompanha o depoimento de uma coleção de apetrechos tecnológicos, claro que sob a tutela de homens, mulheres e crianças de baixíssimo intelecto. Atenção para o elenco de voz, com Amy Sedaris, Kevin Hart, Niecy Nash-Betts e Brett Goldstein.

Para fechar o Volume 4 de Love, Death + Robots, For He Can Creep se debruça na batalha eterna entre um gato (JB Blanc) e Satã (Dan Stevens). O motivo do embate, montado de forma teatral na Londres vitoriana, é a alma do poeta (Jim Broadbent) a quem o animal adotou como pet, e se desenrola em planos astrais e com a ajuda de outros avatares gatunos. Descendentes dos anjos, os miados geram rasgos guturais nas asas do Diabo. Fica a dica: se o seu gatinho fizer bagunça à noite, ele pode estar te protegendo de um Mal ancestral.
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