Saulo está encantado com o livro que conta a história dos Panteras Negras, emprestado a ele pela professora Elaine. Na rotina do Ensino Médio, ele passa o dia absorvendo a história desse movimento revolucionário que surgiu nos Estados Unidos dos anos 60 e, mesmo com seis décadas e milhares de quilômetros os separando, parece dialogar tanto com sua realidade. É assim que o diretor e roteirista Déo Cardoso nos apresenta ao seu Cabeça de Nêgo, eleito em 2021 como o Melhor Longa-Metragem Brasileiro pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema.
Toda a história foi filmada em uma escola pública de Fortaleza, que, aos poucos, vai se tornando um cenário de guerra para o protagonista. Interpretado pelo excelente Lucas Limeira, Saulo já se organiza com outros colegas por melhorias infraestruturais na escola, mas após se defender de um insulto racista e ser expulso da sala, decide que chegou a sua vez de reagir. Sob as demandas autoritárias e coniventes da coordenação, ele senta na sua cadeira, abre o seu livro e se recusa a deixar a sala. Assim, inicia-se uma revolução, bancada por Saulo e sustentada do lado de fora por um leque poderoso de mulheres, amigas, mães e professoras.
A narrativa vai escalando durante os quase 90 minutos a ponto de chegarmos ao final desorientados – da melhor das formas, claro. A precariedade do sistema público de ensino, forjado para que o pobre continue pobre, e o potencial revolucionário da juventude, constantemente desvalorizada e subjugada pela própria instituição, são as faíscas iniciais que explodem em um universo de subtemas cutucados pela potência criativa de Déo Cardoso. Simples à primeira vista, Cabeça de Nêgo logo mostra para que veio, transformando seus últimos momentos em um manifesto contra a violência de uma polícia racista e protetora da elite.
Afinal, quem tem medo de um jovem revolucionário?
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