Sucesso no Festival de Sundance, de onde saiu com o Prêmio da Audiência, o documentário Filhas (Daughters) é um trabalho de exímia sensibilidade e resiliência. As diretoras estreantes Angela Patton e Natalie Rae visitam uma penitenciária prestes a fazer parte do programa social Date with Dad; na ocasião, os homens encarcerados têm a chance de dividir um dia com as filhas, de quem estão distantes pela sentença.
Acompanhando quatro garotas e suas famílias, a linha narrativa passa pelo pesar e pelo êxito da aproximação, ao mesmo tempo em que não busca julgar ou inocentar o passado dos homens. De fato, a preocupação das cineastas está totalmente em cima das garotas. Elas dão o título do filme, e também norteiam as quase duas horas de duração.
Chegado o momento do Baile, as lágrimas são adereço de cena, com a câmera passeando entre a intimidade e a valorização do afeto. Quando o relógio bate o horário delimitado, aqueles homens brutos e fortes desatam a chorar, amparados por um profissional que lida com eventos do gênero, na magnitude psicológica e social.
O programa Date with Dad é realizado há doze anos, e comporta uma série de prisões e instituições nos Estados Unidos. Como a mensagem no fim de Daughters reitera, a grande maioria dos beneficiados não volta a ser preso. As filhas, por outro lado, carregam sequelas emocionais complexas demais para serem debatidas e resolvidas em curto período.
Com o passar dos anos, e a chegada da pandemia e dos protocolos de segurança, algumas das protagonistas se veem reféns da burocracia e ainda mais distantes dos pais. O olhar norte-americano, especialmente de cineastas e realizadores negros, sobre a prisão e a ineficiêcia do sistema de encarceramento, é constante e rende tanto boas ficções (neste ano, Sing Sing se entrelaça ao tema), como documentários (exemplo óbvio é Time, indicado ao Oscar).
Se Daughters continuará a tendência atual de filmes exibidos em Sundance que conseguem fôlego e reconhecimento da Academia, só o tempo dirá. O prêmio recebido no Critics Choice Documentary Awards, na categoria de Direção Estreante, aponta para a resposta positiva e apaixonada do longa de Patton e Rae.
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