Dirigido e escrito por Luciano Vidigal, Kasa Branca é um filme de detalhes imperceptíveis. A história é nivelada na figura de Dé (Big Jaum), jovem da periferia do Rio de Janeiro que cuida da avó, em estado debilitado pelas complicações do Alzheimer, e sua rotina, embora árdua, não ganha lentes de pena: ele leva Dona Almerinda (Teca Pereira) para cima e para baixo, na constante companhia dos amigos de infância.
Martins (Ramon Francisco) é solto na vida, e varia a programação diária entre a diversão e a paquera, especialmente aquela direcionada à esposa do dono da farmácia. Adrianim (Diego Francisco), ao contrário, só tem olhos para Talita (Gi Fernandes), com quem teve um namoro mal-acabado.
Posicionando a câmera nos ângulos distantes da tragédia na comunidade, o trabalho de Vidigal ganha vida nos ombros do elenco. Visto especialmente nos momentos de descontração e leveza, quando o trio de amigos desenvolve uma relação frente ao público que não precisa se explicar demais.
Grande destaque, em iguais medidas, para o desempenho mais do que fenomenal de Big Jaum, que pinta em seu Dé um jovem de promessa e privações, ancorado pelo dever familiar, mas não impedido de sentir o máximo de seu cataclísmico ciclo emocional. Quando chora, as feições duronas derretem nas lágrimas, que irrigam e decalcam uma pele fortalecida pela amizade e pela confiança.
O roteiro ainda encontra vazão para a descoberta sexual de um dos personagens, que recusa os rótulos e os cacoetes dramáticos que os filmes de amadurecimento tomam como regra, e vive as experiências com mais naturalidade e menos pressão. No outro ponto do espectro, a performance de Teca Pereira é a fundação física de Kasa Branca. A idosa, impedida de comunicar-se como antes, deixa a angústia acumulada nos olhos, e guarda a rigidez corporal como trunfo e proteção.
Vencedor de 4 prêmios no Festival do Rio, incluindo considerações especiais para a direção e trilha sonora, Kasa Branca deu uma passadinha pela 48ª Mostra de SP e chega aos cinemas na fantástica onda de sucesso e aclamação que o Cinema brasileiro surfa sem ver a quem. Para quem busca se divertir, se emocionar e conhecer talentos em ascensão, não há nada melhor do que o drama cômico de Luciano Vidigal.
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