Alegria (Amy Poehler) acredita ter tudo sob controle: sua rixa com a Tristeza (Phyllis Smith) acabou em um elo de amizade, tornando a vida de Riley (Kensington Tallman) agradável e distante dos tumultos do filme anterior. Dois anos se passam num piscar de olhos, e a pré-adolescência acaba com a mesma rapidez que as incertezas nascem. Na calada da noite, o botão pulsante da puberdade apita, brilha e estoura os vidros da Central de Comando.
Divertida Mente 2 (Inside Out 2) é fruto de seu tempo. Lançada 9 anos depois do sucesso original, a animação marca a estreia do diretor Kelsey Mann, hábil no trajeto emocional dos personagens, mas um tanto deslocado do eixo dramático que nos apresentou o quinteto colorido, que desta vez sofre duas baixas do elenco original.
Por desacordos salariais, saem de cena Bill Hader (Medo) e Mindy Kaling (Nojinho), partes vitais da sinergia entre as protagonistas amarela e azul e o esquentadinho Raiva (Lewis Black). Agora, assumem o bastão as performances sutis de Tony Hale e Liza Lapira, mas o estrelato está todo nos novatos: com a mudança hormonal da adolescência, as emoções primárias não dão mais conta do recado.
A Ansiedade de Maya Hawke tem cara de doida, enquanto a Inveja de Ayo Edebiri esbanja uma fofura que nada condiz com o cerne de sua existência. Divertida Mente 2 se esbalda nas possibilidades diversas das carinhas inéditas, e faz de Tédio (Adèle Exarchopoulos) e Vergonha (Paul Walter Hauser) adereços envolventes para o imbróglio atual. A primeira, batizada de Ennui no original, se constrói em todos os clichês franceses, enquanto o segundo esconde o enorme corpo em um minúsculo moletom cinza. Mandadas para a casa do chapéu, Alegria e amigos perdem a voz e deixam Riley à mercê do desconhecido.
O roteiro de Mann, Meg LeFauve e Dave Holstein alicerça pontos de importância para que a audiência entenda a passagem de tempo. Agora, menos volátil e mais decidida, Riley tem raízes profundas sendo cultivadas na mente, como ramos em crescente, formando o benévolo Senso de Si que faz dela, bem, ela. Acontece que Alegria, sempre bem intencionada, seleciona a bel prazer o que deve ser mantido e o que deve ser descartado. Tudo de ruim, idealmente, vai para a memória de longo prazo. Quem precisa lembrar dos próprios fracassos e falhas, não é mesmo?
A mensagem é abordada de forma interessante quando o filme está no pico de suas inspirações: a união das novas emoções, assim como a jornada das velhas, é prazerosa. Até que Divertida Mente cruza a linha do conhecido e repete os jargões já estabelecidos no filme de 2015. Uma rival com cara de inimiga que se converte em parceira, e torna-se benéfica em doses controladas: check. Uma jornada de altos e baixos através do inconsciente: check. Um final catártico com direito a ligações inéditas e o futuro brilhante que está por vir: check mais uma vez.
Não é novidade o movimento repetitivo da Pixar, que carece de boas ideias e, quando as encontra, trabalha em prol de boicotar os próprios sucessos. Os números de bilheteria de Divertida Mente 2, por outro lado, representam o que de pior poderia existir para o mercado em busca de originalidade: sequências são garantia de boas moedas e boa reputação. Reencontrar Riley em demais pontos da vida parece ser o desenho otimista mais provável, com emoções cada vez mais complexas (pode entrar, Nostalgia) e próximas da parcela do público que lota as salas de cinema.
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