Que Canada’s Drag Race é a franquia mais mente aberta do programa não é surpresa alguma. Da Castoura Dourada até as dublagens classificatórias para a Semifinal, ficou claro que Brooke Lynn Hytes comanda sua corrida com autonomia e criatividade à beça. Na quinta temporada, a máxima não se manteve: com a vitória de The Virgo Queen, o reality abre mão de sacramentar a dinastia do Norte.
Na estreia, os jurados deram Rosas e Espinhos em três categorias: look de entrada, performance musical e desfile na passarela, escolhendo assim as três melhores e as três piores de cara. Um Lip Sync pela vitória entre Makayla Couture e Virgo poupou a vida das integrantes do Bottom, mas a semana seguinte teve o primeiro sacrifício.

Com o retorno da Golden Beaver, o elenco bateu cabeça até decidir o modus operandi, rendendo salvamentos importantes e uma montanha-russa sem igual para Perla, que foi de um Low, para uma Vitória e depois uma passagem pelo Bottom 2. Protagonista dentro e fora dos desafios, a queen manteve a vibe quietinha, entregando visuais impressionantes e acrobacias inesperadas.
Quem não teve a mesma sorte foi a dupla de primeiras eliminadas. Enquanto Tara Nova hipnotizou a internet com um verso tão-ruim-que-fica-bom gerado pelos simuladores de Drag Race, sua passagem marcou um ponto de discussão sobre pagamento de drag queens em bares gays. Ela denunciou o dono do estabelecimento que trabalha e seu cheque de 37,50 dólares canadenses. Como resposta, o homem suspendeu as watch parties com Tara e cancelou os eventos de exibição da temporada.

Tiffany Ann Co., segundo boot da temporada, foi eliminada no inédito desafio do Slay-Offs em equipes. Com as queens divididas, elas lutariam pela permanência na competição e, no final, uma das integrantes do grupo perdedor seria definitivamente eliminada. Embora não tão justo quanto o formato anterior, é gratificante ver a franquia assumindo riscos e jogando o jogo conforme regras novíssimas.
E não parou por aí: no primeiro desafio de costura da season, as competidoras deveriam mirar no fast fashion e construir visuais com cara de loja. Ou seja, Brooke queria ver a porcaria da H&M na passarela. E surpresa: ainda teria um segundo look, trazido de casa, com o tema “em câmera lenta”. Venceu a impressionante Minhi Wang, natural do Down Under que foi Pit Crew na estreia do Canada’s Drag Race, no longínquo ano de 2020.

Voltando ao Ateliê sob a alcunha de competidora, a drag de origem australiana e chinesa comeu quieta. Com a calorosa personalidade out of drag, demonstrou controle, precisão e regularidade, vencendo o segundo desafio de costura. Este, claramente, um dos mais importantes do programa, já que as queens deveriam criar um look para Brooke Lynn desfilar no palco.
Para ninguém passar vergonha – ou Brooke correr o risco de vestir trapos, a presença de Suki Doll foi requisitada. Exímia costureira que passou de competidora da season 2 para braço direito da host quando o assunto são os visuais de uma temporada, a queen botou a mão na massa e deu 15 minutos para cada drag: ajudando em quesitos práticos, como inserção do zíper ou criação de estrutura com arame, até a questão mental, em um bate-bola criativo inédito até então em Drag Race.

Tão inédito quanto a escalação de três mulheres trans no elenco. A mais nova, Makayla Couture, foi apresentada como parceira de Makeover na season 2, batizada e adotada pela eventual campeã, Icesis. Depois, a mais velha do elenco é Jaylene Tyme, que compartilha laços familiares com diversas figuras do panteão canadense e, como pessoa indígena trans, sentiu-se compelida a se candidatar depois de ver as participações de Kitten Kaboodle e The Girlfriend Experience no ano passado.
Sanjina Dabish Queen, por outro lado, entrou na Corrida junto da mãe drag, The Virgo Queen, que ensaiou uma aliança prematuramente finalizada. Debatendo questões de disforia de gênero e os padrões esperados por uma sociedade preconceituosa, a queen de Bollywood saiu antes da metade da temporada, mas fez questão de desabafar, brilhar e até arrasar na pista, ao som de Bad Bitches Don’t Cry, a segunda canção de Priyanka usada em Drag Race.

A excêntrica Uma Ghad acabou refém das expectativas dos jurados, e justamente quando teve a explosão encadeada pelas críticas e opiniões injustas, foi mandada embora por duas das favoritas à Coroa; Isso tudo no Snatch Game, quando Xana foi declarada Winner ainda no painel das celebridades (outro ineditismo de CDR5), e recebeu a Castoura de Madeira.
Diferente da Dourada, a de Madeira tinha efeito cascata: a salvada salvava alguém, que salvaria mais uma e esta, mais uma. Xana salvou Perla, que salvou Helena Poison, que salvou Minhi e deixou Uma pronta para o abate. Era óbvio que nem Makayla nem Virgo sairiam naquele momento, o que foi potencializado na semana seguinte.

Quando, depois de um estressante desafio de vestir Brooke Lynn, as queens voltaram para o Mini-Untucked prontas para relaxarem, Xana decidiu cutucar Makayla e foi devorada. As lágrimas queimaram a face da nepo-baby favorita dos fãs, que colocou a vilã da season em seu lugar, relembrando o comportamento infantil e sujo da outra, constantemente tentando diminuir suas companheiras.
Xana saiu contra Virgo, que amargou mais um Bottom no histórico que, de cara, parecia perfeito para receber uma Coroa no final. Quase como se esta fosse uma temporada da série britânica, onde RuPaul costuma coroar a drag que mais rápido se destaca e chama atenção, o destino estaria selado quando Virgo, no episódio 3, já tinha 2 vitórias embaixo dos braços.

E a quinta temporada decretou que mesmo estando no Canadá, a história é parecida com a do Reino Unido. Na Final que parecia encaminhar-se para uma Batalha entre Minhi e Helena, as mais consistentes no plano geral, Brooke e cia procuraram pelo em ovo e eliminaram justamente quem a edição favoreceu.
Sobrou um top 2 de Virgo e Makayla, a exata dupla que batalhou pelo Win da estreia – e o raio caiu no mesmíssimo lugar. The Virgo Queen recebeu o manto de Venus, vestida ao pé da letra de sua alcunha drag, e se consagrou como a quinta campeã de Canada’s Drag Race. E, seguindo à risca o passado recente da franquia, mostrou-se outra das vítimas da edição, que jogou para o alto a chance de coroar alguém de múltiplas faces e batalhas.

Se a Coroa de Gisèlle Lullaby poderia se beneficiar de mais tempo de tela e protagonismo, e se a vitória de Venus veio acoplada de críticas e bandeiras em punho por Aurora Matrix, a decisão de inserir Virgo no Hall da Fama canadense é o impeditivo de colocar CDR5 no saldo positivo. Nem ela nem Makayla foram bem ao ponto de assegurarem a chance de dublar pelo prêmio, enquanto Minhi e Helena Poison, de personalidades mais tímidas e contidas, deveriam ocupar esses lugares.
Quem esperava uma season perfeita para Makayla desfilar e sair com o título, consagrando assim a Casa de Couture na mitologia da série, saiu um tanto decepcionado. E foi TS Madison quem melhor definiu: a confiança que a audiência enxerga na jovem não se equipara ao senso de si que a queen tem neste momento. Ela brilha nos confessionários e nas Dublagens, mas falta o amadurecer que só acontece com o passar do tempo.
Repetindo modelos de desafios, a temporada coroou Virgo – que foi elogiada justamente nas 3 ocasiões onde Dublar e escrever versos para uma canção era obrigatório. Se a produção não intervir, ou ao menos diversificar as tarefas – onde foram parar os musicais?, quem perde é a audiência, fadada a assistir reprises dos melhores momentos de alguém que não é novidade ou surpresa.

Os primeiros dias de 2025 chegaram com a dolorosa partida de The Vivienne, lendária na cena britânica, dona da primeira coroa da franquia europeia e uma das competidoras do All Stars dedicado às Winners. Aclamada nos palcos, na comédia e no Teatro, foi a compaixão e o caráter de Viv, nome artístico de James Lee Williams, que marcaram presença nas celebrações de sua vida e na tristeza de sua morte. A Drag Con UK dedicou um memorial à diva, que foi lembrada também na estreia-dupla da 17ª temporada. Rest in power.
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