Cacofonia de ideias encobre 6ª temporada de What We Do in the Shadows

Último ano da comédia de vampiros busca saídas indiferentes

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A fantástica série derivada do filme dirigido por Taika Waititi chegou ao fim sem o brilho de outrora. Na sexta temporada, What We Do in the Shadows abandona parte de sua habilidade de confeccionar tramas singulares e atira para todos os lados, deixando esquecido, também, o protagonista humano. 

É bom constatar que até a temporada menos inspirada de Shadows consegue os feitos marcantes de piadas hilárias, atuações fantásticas e momentos marcantes. Mal acostumado está o público, que assistiu a anos de humor calibrado e escolhas de personagens icônicos. Tudo começa com o retorno de Jerry (Michael Patrick O’Brien), o vampiro que dormiu no século XX e os companheiros de casa esqueceram de acordar.

À ele, soma-se a chegada do Monstro de Cravensworth, o humanóide que Laszlo (Matt Berry) constrói à sombra de Frankenstein com o intuito de proteger a esposa, Nadja (Natasia Demetriou). Volta, igualmente sábio e lascivo, o Barão Afanas (Doug Jones), que precisa relembrar o clã de sua posição de poder.

Décimo primeiro episódio da temporada joga as fichas na nostalgia e na metalinguagem, mostrando o passado inerte e inalterável dos vampiros (Foto: FX)

No intermédio entre criar novas histórias e dar cabo aos arcos abertos nas temporada anteriores, o sexto ano coloca Guillermo (Harvey Guillén) em um escritório corporativo, mas não sem a tutela e a proteção de Nadja, em seu diferenciado guarda-roupa oitentista, e de Nandor (Kayvan Novak), que trabalha como faxineiro do local.

Se a inspiração passada gerou capítulos como Pride Parade e a paródia dos programas de renovação, agora os roteiristas prezam pela concisão. Em linha reta, os onze episódios do ano final caminham, lentamente, a uma conclusão sóbria. Nem as aventuras solitárias, como quando Colin Robinson (Mark Proksch) recebe a oferta de transar com a esposa de um antigo amigo, brilham como antes.

A série acumula indicações importantes nas premiações: depois de finalmente colocar Matt Berry entre os nomes do Emmy passado, os intérpretes de Nadja, Nandor e Guillermo disputam o Critics Choice Awards (Foto: FX)

O que parece ter fôlego, à exemplo do problema com a Hipnose do Sono (quando o mundo é salvo pela Guia, papel de Kristen Schaal), a criação da Ferrovia fictícia e até o surto que transforma Nandor em general do exército, logo se esvai, sem cerimônias. Os vampiros passam por provações, e evoluem as relações pessoais, com Laszlo enfrentando o fantasma do pai (Steve Coogan) e Guillermo assumindo papel de ativo nas ações.

E nem se fala do romance fabricado da noite para o dia de Nandor e A Guia, numa tentativa de apagar o possível laço romântico entre mestre e aprendiz. A empresa que emprega os personagens, inclusive, chama-se Cannon – o tal cânone que What We Do in the Shadows abdica de enriquecer e, de uma vez por todas, fazer dos homens um casal.

Entre as ralas participações especiais, o vizinho Sean continua peça chave para a comédia, enquanto Kevin Pollack encarna um ator de seriado mequetrefe de detetive, Jon Glaser dá vida ao demônio e Alexander Skarsgård relembra os tempos de True Blood (Foto: FX)

Mas não sem uma piscadela anti-climática para a audiência. O episódio final finda a relação entre os documentaristas e seus astros, em conclusão propositalmente ordinária. A metalinguagem exercita certa licença poética (“deveríamos ter acabado tudo quando ele voltou a ser humano”, confessa um dos monstros), com Nadja hipnotizando a audiência sedenta pelo encerramento ideal e agradável.

Nele, Guillermo e Nandor dividem a cama, a casa e a vida – um beijo na bochecha no papo entre sonos gera reações calientes do público ao vivo, no maior estilo sitcom com plateia ao redor dos cenários (pense na iluminação de Seinfeld e misture com o falso doc de The Office em sua aurora). Ocultos na internet, dois outros trechos recriam a aura dos vampiros com novas abordagens: A Guia investiga as evidências sobrenaturais e Colin sai de cena ao melhor estilo Os Suspeitos, embarcando com Laszlo rumo ao futuro. E, ainda, Nadja transforma-se em Rosemary e encara o bebê-diabo. 

Quer os roteiristas esbanjassem a criatividade das pequenas cenas no restante da temporada, o resultado seria outro. No que se provou um rumor inconsequente, os “três finais alternativos” diziam respeito ao empenho do jovem aprendiz, que encena para as câmeras uma despedida dolorosa e então, na verdadeira última linha, a sequência de aventuras dos vampiros de Staten Island. Decepcionante, para dizer pouco.

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