Dizer que 2024 foi inteirinho de Charli xcx é um pleonasmo daqueles. Com o lançamento de BRAT, as influências pop e eletrônica mesclaram-se num registro pessoal e apoteótico, traduzindo em letras diretas e batidas carregadas a mente de alguém que borbulha com emoções divergentes.
Melhor ainda foi a chegada do disco de remixes, que reuniu velhos amigos e novos companheiros em um mergulho que não só mudava algumas passagens, mas acrescentava à narrativa como um todo. O Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat surgido com as adições de Lorde, Caroline, The 1975 e tantos outros é um produto à parte e complementar à versão original.
Sonho. Hello goodbye
Antes de falar dos remixes que existem, podemos sonhar com esse aqui? Depois do lançamento do álbum remixado, faltando apenas novas versões de Spring breakers e Hello goodbye, a internet teorizou e os tais dos insiders vazaram que as músicas contariam com Kesha e PinkPantheress, respectivamente. Acertaram uma das previsões, mas a outra não temos notícias até agora. Será que a parceria com a talentosíssima compositora, cantora e produtora britânica vai ver a luz do dia? – João Arnaldo Brunhara
17. Guess featuring billie eilish
Indicada ao Grammy no que deveria ser a vaga do feat com Lorde, a versão de Guess com Billie rendeu um clipe fomentado pelos ícones, do trator às calcinhas, e pelo falatório nas redes sociais. Uma alimentou o outro: se o HIT ME HARD AND SOFT consolidou a imagem da jovem cantora como voz intermitente da geração, sua pequena participação na trupe de Charli brincou com a seriedade e rendeu até uma cantada polêmica. – Vitor Evangelista
16. Spring breakers featuring kesha
Ao convidar Kesha para participar de Spring breakers, Charli fez uma ponte com o início dos anos 2010, quando a marca da ex-$ era curtir a vida e celebrar a sujeira. Kesha estava lá calçando a estrada que nos trouxe até o jeitinho BRAT de ser, mas a adição na música não vai muito além da nostalgia. A canção não ter entrado oficialmente no álbum de remixes também deixa um gostinho amargo. – JAB
15. Von dutch a. g. cook remix featuring addison rae
Também reconhecida pela Academia com uma indicação ao Grammy, uma das faixas que inaugurou a era de remixes do disco só fica abaixo no ranking por conta da competição. Numa disputa que integra versos imortais de grandes nomes da Música alternativa da década de 2010, a contribuição de Rae, uma estrela em ascensão em seus próprios modos, não arranha o potencial (nem a qualidade) da gravação original de Von dutch, que também ganhou um clipe cheio de it girls. – VE
14. I think about it all the time featuring bon iver
Bon Iver é excelente em converter os sentimentos internos e angústias em músicas introspectivas, emocionais e envolventes. I think about it all the time, em que Charli coloca as cartas na mesa sobre seu medo em relação ao presente e futuro, foi escolha acertada para a colaboração. – JAB
13. Mean girls featuring julian casablancas
Tranquilamente no topo de participações mais inusitadas e inesperadas do disco, Julian Casablancas, vocalista do The Strokes, desata a confessar os sentimentos de solidão que a canção evoca. Se antes Charli era porta-voz da cultura plástica das “meninas malvadas”, a música é enriquecida e encorpada pela visão nada habitual do cantor. Tem quem não goste, mas não tem como negar: o BRAT remix mostrou coragem e culhões na repaginação do repertório original. – VE
12. 360 featuring robyn & yung lean
Charli junta a dupla sueca Robyn e Yung Lean para uma nova versão de 360 mais conversacional. As três estrelas cantam o impacto na fama e também o impacto da fama na mente e no comportamento. Depois de samplear Cobrastyle em Speed Drive, Charli reverencia Robyn mais uma vez e deixa gostinho de quero mais. – JAB
11. B2b featuring tinashe
B2b representa o cerne do projeto BRAT: se a faixa original exibia lamentos noturnos de uma relação amorosa com síndrome do iô-iô, a versão que ganha vocais de Tinashe repagina o cenário. O back to back que ressoa como eco sem fim é acoplado à fama e ao estrelato das cantoras, que agora, depois de anos de carreira, enxergam-se na crista da onda. – VE
10. Club classics featuring bb trickz
Bb xcx es un clásico automático. A química de Charli e a rapper espanhola Bb trickz transforma Club classics ao costurar novos versos com a canção original e trechos de 365. O resultado é delicioso e dançante, um jovem clássico dos clubes para se jogar no front do DJ. – JAB
9. I might say something stupid featuring the 1975 & jon hopkins
Se alguém deveria cantar sobre “dizer asneiras”, esse alguém é Matty Healy, vocalista do The 1975 que vira e mexe se envolve em polêmicas e desinstala as redes sociais. E com o apoio de George Daniel, baterista da banda e cara-metade de Charli, a música remonta aos tempos do Brief Inquiry into Online Relationships e desacelera a frenesi do disco. Sensível, sincera e dolorosa, com o dedo aguçado de um experiente Hopkins na eletrônica, representa o melhor dos vários mundos na prisma festeira e melancólica da experiência BRAT de ser. – VE
8. 365 featuring shygirl
Dá para deixar 365 ainda mais vibrante? Sim, e Shygirl é a resposta. Os versos ágeis da britânica saem com naturalidade, afinal, ela já pertence à cena eletrônica pulsante faz anos. Blane Muise sabe como usar sua voz e as palavras para criar faixas autênticas, que parecem existir por conta própria. – JAB
7. Talk talk featuring troye sivan
Com convite em espanhol e francês de Dua Lipa, a faixa que coroou a Sweat Tour une os amigos de balada e sofrimento em uma dançante celebração daqueles famintos por afeto e atenção. Se a Talk talk original tinha Charli num espiral megalomaníaco de desejo, os vocais de Troye são atenuantes e anestésicos, criando o chiclete radiofônico que tem cara, cheiro e gosto das pistas de dança. – VE
6. So I featuring a.g. cook
A interpolação com party 4 u e o sintetizador parente de L.O.V.E. aproximam imediatamente a atmosfera da canção de SOPHIE. Charli, que compartilhou as mágoas na versão original de So I, agora quer celebrar as lembranças boas e imortalizar a amiga pela felicidade. BRAT, sempre honesto, traz o luto de Charli em facetas diferentes e complementares. E onde há espaço para saudade, também há espaço para a fritação, a melhor forma de honrar SOPHIE. – JAB
5. Apple featuring the japanese house
Quem esperava uma parceria agitada em Apple, depois de todo o fuzuê das dancinhas e a popularidade da faixa na era, foi recebido pela versão lowkey e controlada de Japanese House. Apoderando-se do alcance dramático de uma Charli em estado de desolação, os vocais extras gelam o clima ansioso e transformam Apple em algo completamente alheio às expectativas. – VE
4. Rewind featuring bladee
Bladee deu outra forma para Rewind, e Charli deu as mãos para caminharem juntos. A vida de sucesso é satisfatória, mas estressante. Dos nervos, a dupla desenrola a vontade de voltar no tempo para fugir dos problemas e se reencontrar com a paz interior. Os sons, mais uma vez cuidadosamente confeccionados, são do extremamente talentoso e fundamental A. G. Cook, onipresente no BRAT. – JAB
3. Sympathy is a knife featuring ariana grande
Ano movimentado para Ariana Grande, que começou a era eternal sunshine, colaborou com Charli na faixa mais polêmica do disco e então mergulhou no mar de Wicked. Sympathy is a knife nasceu como pedido de socorro e bloqueio contra pessoas que despertam o pior em nós, e então o remix reverte tudo. Aqui, o refrão fragmentado com uso de “is a knife” em golpes precisos, coloca Charli e Ari para desabafar em relatos íntimos sobre fama, expectativa alheia e o pior do que existe na indústria. – VE
2. Everything is romantic featuring caroline polachek
A nova colaboração de Charli e Caroline é uma benção. Sempre vem coisa boa quando elas se juntam: além do remix de Welcome To My Island, as duas têm a obra-prima Tears no catálogo. Everything is romantic substitui as batidas de funk por uma produção mais suave e um tic-tac de relógio. O tempo e espaço das artistas coloca em questão a pressão do trabalho e a romanticidade da vida, mais um movimento genial de BRAT, ao mostrar manifestações diferentes de sentimentos tão complexos. – JAB
1. Girl, so confusing featuring lorde
A música do ano – e aquele exemplar de parceria que entra nos livros de História – nasceu em terras brasileiras. No palco do Primavera Sound 2022, dividido entre shows de Lorde e Charli, a britânica esboçou sua versão de uma “diss track”. Tantos meses depois, a neozelandesa recebeu a carta com espanto e resolveu se entender com a amiga no remix. Não há nada como escutar os vocais de Lorde embebidos nos sintetizadores à lá Melodrama, cantando sobre autoimagem, inveja e amizade – ainda mais quando a produção mescla as vozes das artistas e, num coro, harmonizam esse novo capítulo, que ressignifica as músicas de “ofensa” e coroa BRAT como testamento inabalável de seu tempo. – VE
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