Cansados do descaso da série principal e das diversas versões de RuPaul’s Drag Race com as rainhas asiáticas, os produtores da franquia filipina decidiram organizar o primeiro All Stars temático do reality show, reunindo doze competidoras vindas de seis nações, além da anfitriã. Ao fim do Slaysian Royale, a mensagem é clara e muito positiva: para manter a disputa fresca, é preciso diversificar nas regras.
Sejam elas dentro da Corrida ou mesmo na seleção de elenco, abrindo espaço para a confirmada primeira edição do Latina Royale, reunindo as divas que falam espanhol aos cuidados do México. Por agora, porém, a temporada regida por Mama Pao ganhou o brilho de uma porção de antigas corredoras, e algumas vencedoras, que aparecem em pares de episódios para julgar e entreter.

O formato de eliminações é igual ao All Stars 2, com as duas melhores da semana dublando pela chance de mandar para casa uma de suas sisters. Para o azar da belga Madame Yoko, sua aterrissagem no Bottom foi suficiente para uma passagem de volta para a Europa. Depois de Athena Likis no Global All Stars, esta é a segunda vez que alguém oriundo do Belgique é a Porkchop.
Sum Ting Wong, do Drag Race UK, irritou o máximo que conseguiu as queens nos dois episódios que competiu. Com uma passarela que beirou a paródia e discussões no Girl Groups, a britânica saiu quase foragida e desviando das adagas jogadas pelas queens. O Slaysian Royale foi bastante protocolar na primeira metade da season, mandando embora as competidoras que caíram entre grandes titãs do reality.

Falando de irmandade entre as rainhas e sobre suas heranças particulares e coletivas como pessoas asiáticas ao redor do mundo, a temporada celebrou o sucesso de Khianna, vice-campeã da season 3 da série anfitriã. A diva, porém, perdeu tração e acabou cortada no quinteto final, depois de desapontar em desafios que pareciam fabricados para seu sucesso.
Khianna inaugurou a season com a vitória do mini-challenge de bater cabelo, depois derrotou a tailandesa Siam Phusri no Lip Sync de Debut, da banda-sensação KATSEYE. O episódio 2 marcou o protocolar desafio de grupos musicais, com outra vitória de Khianna no mini, dividindo-se entre as filipinas e as internacionais, uma marca constante da temporada.

Arizona Brandy, outra vice-campeã pinay, dublou contra Viñas DeLuxe, que venceu e mandou Sum Ting embora. Quando chegou o primeiro desafio de costura, o material surpreendeu: cada queen teria 900 folhas de cacau, em cores selecionadas, para confeccionar um look. Viñas subiu ao topo mais uma vez, e derrotou a francesa Kitty Space no Lip Sync de Winna Winna, canção da convidada Pangina Heals. Kitty, proveniente da segunda temporada do France, foi um deleite no Ateliê, no confessionário e nas passarelas, se abrindo sobre a identidade de mulher trans e as conquistas e percalços na carreira.
A pior parte do Slaysian Royale, especialmente nos episódios iniciais, foi o flashback de guerra dos tempos de Global All Stars, com as queens internacionais sendo eliminadas uma atrás da outra. No design, Ivory Glaze saiu pela porta dos fundos. Originalmente da terceira temporada do Down Under, a queen ficou conhecida por desmaiar no palco na frente de RuPaul, e veio para sua segunda chance com zelo, também falando da vida pessoal e da perda da mãe.

Na semana seguinte, a chegada do Crazy Bitch Slaysians: The Musical abriu brecha para referências a diversos produtos atuais, de Hamilton à Emília Perez (acredite se quiser). Arizona voltou ao topo e ganhou a companhia de Brigiding, na primeira de suas cinco vitórias na temporada. Com passarela temática de rostos e feições, Kitty Space não sobreviveu pelo histórico e foi eliminada.
A única filipina a não ganhar ou dublar no começo da temporada foi Bernie, ícone trans da segunda temporada que não se saiu bem na Corrida e acabou servindo de sacrifício contra a suposta aliança local. Seu destino foi selado no makeover Homecoming Queens, quando o desafio era transformar mulheres OFWs (Trabalhadoras Filipinas no Exterior, em tradução livre) em suas filhas drag. Em duplas, o sucesso foi todo de Brigiding e Suki Doll, que se beijaram ao som de Room. Bernie, confessando entre lágrimas que “os jurados não queriam ela ali”, não sobreviveu à escolha dos batons.

Slaysian Royale recusou o formato comum do Snatch Game e propôs as Snatch Elections, uma maneira de driblar possíveis barreiras de linguagem e humor entre as participantes e nivelar a competição. Em vez do painel com perguntas e respostas, as drags imitavam celebridades em propagandas políticas.
Dos julgamentos, surgiu o primeiro Top 3 a dublar pela Vitória no All Stars, com a americana Yuhua sagrando-se e eliminando Siam. O episódio, que contou com um mini-challenge ao estilo do Rank-A-Queen, viu Brigiding e Viñas DeLuxe no topo, e a tailandesa no Bottom, depois de “assustar” as queens no Ateliê e ser silenciada no Untucked.

Desconfortável, para dizer o mínimo, este foi um dos momentos mais singulares da franquia – e o “pare de cantar” vociferado por Viñas viverá no léxico dos fãs. Outra novidade: no Lip Sync Lalaparuza Smackdown, a banda Lola Amour tocou ao vivo para o Lip Sync entre Khianna e Yuhua (depois de Viñas ser salva com o Golden Balut). O episódio teve um desafio de Reading com toques de cartomante, e Suki Doll venceu ao “ler” o futuro das amigas. Depois, a música que Sasha Colby performou na final da season 15 serviu como uma das escolhas da batalha de dublagens.
O Top 5 encarou uma tarefa de criação e branding em DragCon Slaysia!, desafio focado na experiência que as queens entregam na convenção: com Arizona provando-se a rainha do vape e Suki demolindo a competição com seus Labubus personalizados, a dupla angariou a vitória, deixando Khianna na boca do leão. Viñas empacotou a sister filipina, encaminhando a temporada para um episódio eliminatório entre as quatro melhores.

Para a última volta antes da linha de chegada, a série convidou o primeiro girl-group do multiverso de Drag Race na Ásia: REYN4, e seu single High Time foi regravado pelas divas remanescentes, com direito a videoclipe. Formado pelas três vencedoras do Phillipines e por Marina Summers, o grupo brindou as amigas com a presença, as dicas e a torcida. Para a dupla final de guests, Summers ganhou companhia de Nymphia Wind.
No apagar das luzes, Mama Pao salvou Viñas e Suki, levando as quatro ao palco da Grande Final, que foi realizada ao redor do Slaysian Grand T.I.T.E.! (Totally Impressive Talent Extravaganza!). Suki foi sagrada a Miss Simpatia (pela segunda vez, depois de ser nomeada assim em Canada’s Drag Race 2), e a apresentadora anunciou Viñas e Brigiding como o Top 2 da temporada.

Born to Do Drag, canção de Marina Summers, foi o hino da luta pela Coroa, que acabou na cabeça de Brigiding. A queen, que terminou sua temporada original na sexta colocação, chegou com ar de azarona e dominou desafios e Lip Syncs com presença, carisma e looks lindos de doer. Embora a edição tenha deslizado na sua narrativa de underdog à campeã, focando muito mais nas qualidades redentoras de Arizona e Viñas, a vitória de Brigs saúda uma franquia irretocável e faz direito o que a corrida de Blu Hydrangea no UK vs the World falhou: transformar em ameaça uma drag vista antes como inofensiva.


Deixe um comentário