Ari Aster recarrega paranoia social no ambicioso e afobado Eddington 

Faroeste pandêmico do diretor de Hereditário se apoia na execrável realidade dos Estados Unidos

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O sentimento evocado pelo americano Ari Aster em Eddington, seu faroeste pandêmico, não é de fácil manufatura. Ao rebobinar a fita para o dramático mês de maio de 2020, o diretor opera na chave contrária à nostalgia; afinal, pela primeira vez, os traumas de Aster são os mesmos de quem assiste.

Depois de falar sobre um mal interno em Hereditário e tratar de assombrações familiares em Beau tem Medo, Aster retorna menos cético e muito mais satírico neste veículo para a megalomania de Joaquin Phoenix. O ator, acostumado a expandir-se em cena e até sugar o ar dos colegas de cena, aqui interpreta um xerife negacionista no princípio da pandemia de coronavírus.

A parceria entre Stone e Aster no ano não acaba aqui, já que ele assina a produção de Bugonia, estrelado por ela e dirigido por Yorgos Lanthimos (Foto: A24)

Seu principal rival, para além de um casamento distante e nocivo com a introspectiva Lorraine (Emma Stone), é o prefeito da cidade, que por acaso também tem um passado encruzilhado ao da mulher. Desta relação de autofagia com os sentimentos de impotência frente ao mundo material e ao imaterial, Phoenix tem espaço para dominar cada interação.

Pedro Pascal, na pele do político que busca a reeleição e respeita as leis e normas de saúde, não é páreo para o aspecto pessimista do Phoenix. Quando dividem cenas, eles soltam faíscas, mas é na separação de lei e poder que Eddington melhor captura sua mensagem.

Eddington sublinha o papel protetivo que as redes sociais e o algoritmo desempenham na vida daqueles machucados demais para encarar a realidade (Foto: A24)

Exibido na Competição Oficial de Cannes 2025 para reações mistas e antagônicas, uma marca esperada para a trilha recente da filmografia de Aster, o filme causa o desconforto que qualquer lembrança da pandemia, do isolamento social e do distanciamento nas filas da farmácia causam, de forma direta e pungente.

Ao todo, as duas horas e meia de Eddington funcionam melhor quando Phoenix alimenta as próprias convicções e teorias da conspiração, especialmente na matraca da sogra Dawn (Deirdre O’Connell) e do guru espiritual Vernon (Austin Butler), que tira de seu xerife a autonomia que lhe restava antes de implodir em autodestruição.

Aster escreveu um faroeste moderno antes de Hereditário, mas adiou o projeto e repaginou o roteiro para os tempos de pandemia (Foto: A24)

Aster não se acanha nem tenta contornar os buracos sociais, com menções diretas ao assassinato de George Floyd e os protestos do Vidas Negras Importam. O núcleo jovem adulto de Eddington opera aqui, na esfera civil dos adolescentes que se aglomeram para não se matar, e no burocrático, com o policial negro (Micheal Ward) que é visto como traidor da causa por ambas alianças. 

O cérebro apodrecido dos coachs, ao lado de inúmeros artigos que apontam a farsa do Ministério de Saúde e dos governantes que instauram medidas que cerceiam a liberdade dos seguidores fiéis da desinformação, alimenta em Eddington sua farsa da falsa modéstia, nomeando bois e vacas no processo.

Na cena em que o xerife Joe entra na casa do prefeito, toca Firework de Katy Perry, mas a ideia inicial era usar Empire State of Mind de Jay-Z, cujos direitos não foram obtidos (Foto: A24)

A indulgência de Aster, um cineasta que opta pela martelada em vez de apostar na sutileza ou na sugestão, revira olhos por onde passa. E o trabalho anterior, especialmente o terço final de Beau tem Medo, separa o joio do trigo entre quem acompanha as viradas e invenções de um homem perturbado em busca de respostas rápidas e algumas explosões no caminho. 

2 respostas para “Ari Aster recarrega paranoia social no ambicioso e afobado Eddington ”

  1. Avatar de basketball bros unblocked

    This review vividly captures the essence of Eddington, highlighting its sharp social commentary and Phoenixs compelling performance. The pandemic-themed faroeise is both bold and unsettling, making for a thought-provoking watch.

  2. Avatar de Basketball Bros

    This review really captures the raw, uncomfortable themes of Eddington. The way Aster blends pandemic anxieties with a modern western is fascinating, though the constant conspiracy theories feel a bit overwhelming. The performances are strong, especially Phoenixs dominant presence.

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