3ª temporada de What If…? estanca hemorragia criativa da Marvel

Sacrifício final manteve o lema da animação, com pouco impacto e ainda menos alarde

min de leitura

Anunciada no furor da expansão televisiva de seu universo compartilhado, a animação What If…? viveu e morreu à sombra das decisões degringoladas da Marvel. Pressa, indiferença, mal gosto na escolha das histórias e a incessante habilidade de desmoralizar seus personagens foram marcas registradas da terceira e última leva de episódios.

Afinal, para a criação que prometia explorar os mais diversos desenrolares e desdobramentos da mitologia da produtora, o resultado entregue surfou em uma indecisão brava. Eles não sabiam se iam ou voltavam, se jogavam as cartas de maneira aleatória ou se usariam os capítulos para apresentar heróis que viriam a ser importantes.

Assumindo o nome de batismo, Uatu, o personagem de Jeffrey Wright tornou-se figura insossa nas repetições que abrem os episódios, lançados diariamente na última semana de dezembro (Foto: Disney+)

Na soma dos placares, um amargo empate. A temporada centra-se no papel de Jeffrey Wright como O Vigia, a entidade que deveria observar e nunca intervir. Coisa que ele faz à beça, sendo levado à berlinda e questionado sobre todos os pequenos movimentos que concatenou desde o princípio.

Fora o arco do superser, a season 3 pincela dinâmicas inéditas, da comédia em dupla com o Soldado Invernal (Sebastian Stan) e o Guardião Vermelho (David Harbour), até o faroeste misterioso com Shang-Chi (Simu Liu) e a Gaviã Arqueira (Hailee Steinfeld). Os roteiristas até continuam uma história pregressa, dando vazão ao bebê metade-ave metade-gente de Darcy (Kat Dennings) e Howard, o Pato (Seth Green).

Natasha Lyonne, confirmada no elenco de Quarteto Fantástico, pode interpretar a mesma Byrdie que dublou em What If (Foto: Disney+)

Seguindo a ideia de apresentar personagens inéditos aos gibis, Birdy (Natasha Lyonne) mira um futuro que deveria ter sido a fundação de What If: a construção de distintas visões e abordagens para o já homogeneizado e repetitivo arsenal de acrobacias e poderes da Marvel. A presença de uma incessante Coração de Ferro (Dominique Thorne) na árdua batalha contra um envelhecido Mysterio (Alejandro Saab) até que ensaia a retomada criativa da série, mas tudo é rápido e vago. 

Agatha (Kathryn Hahn) ganha meia-hora de protagonismo na trama que emula Eternos e traz Kingo (Kumail Nanjiani) na era de ouro de Hollywood – com os Celestiais na cola, a temporada foca bastante nas questões intergalácticas, ligando o espectador com temas do quarto Capitão América, centrado num Hulk descontrolado e num herói subjugado. 

O estilo blasé da animação realista da série foi outro ponto de frustração dos fãs, que até ensaiaram entusiasmo quando o 3×01 abriu com traços remetentes aos Power Rangers (Foto: Disney+)

A grande final, espaçada entre o desaparecimento do Vigia e a chegada do quarteto de heroínas que salvará a realidade, alude de maneira pífia em questões de grandeza e grandiloquência. Capitã Carter (Hayley Atwell) reassume o papel de liderança, enquanto Byrdie, Kahhori (Devery Jacobs) e Tempestade (Alison Sealy-Smith) fazem poses e bradam golpes e rajadas.

Sem satisfação na conclusão paupérrima, What If…? apresenta vislumbres de um futuro que nunca virá. Com um Homem-Aranha com seis pernas, e muitas variáveis de figuras interessantes e inusitadas, a animação é descarregada de modo inexistente: e nem mesmo a solidificação da realidade é páreo para os roteiristas, zonzos na falsa certeza de que, com raios brilhantes e frases de efeito, uma boa história aparecerá na tela do Disney+.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *