A chegada gloriosa de Renée Zellweger aos palcos do Oscar com Bridget Jones e Chicago surtiu efeitos duradouros. No ano seguinte à derrota para Nicole Kidman, a americana se juntou à colega e estrelou Cold Mountain, o drama de época que enfim colocou-a no panteão de Vencedoras do Oscar. Ao lado de Jude Law e sob a tutela sempre eficiente e autoral de Anthony Minghella, o filme segue os moldes da Odisseia.
A Guerra Civil Americana está prestes a estourar quando Ada Monroe (Nicole Kidman) se muda com o pai, um reverendo de idade e saúde frágil, para uma vila em expansão. Lá vive e trabalha Inman (Jude Law), homem de poucas palavras e muita emoção que captura a atenção da mulher. Mal se conhecem e se beijam, as trombetas soam e ele parte para o combate.
Se ele apodrece nas trincheiras e desvia da saraivada de balas, a amada enfrenta a perda do pai e a total escuridão no que diz respeito aos cuidados da fazenda que herdou – e que sofre pela ameaça de um fora-da-lei que amedronta as donzelas, distantes de qualquer figura masculina. Aos 50 minutos de Cold Mountain, chega a esbaforida e tagarela Ruby Thewes (Renée Zellweger).
Com um coração gélido pela relação conflituosa com o próprio pai (um espirituoso Brendan Gleeson), Ruby injeta o choque de realidade e perseverança na vida da amiga, com quem passa a dividir o café da manhã, o almoço, o jantar e as tarefas de casa. A sinergia de uma experiente e uma novata consome o escopo do filme, que segue as odisseia paralelas de homem e mulher.
Enquanto Inman lida com tudo na volta para casa, de uma indefesa jovem mãe (Natalie Portman) até os soldados confederados com sede de sangue (na pequena participação de Cillian Murphy), Ada é vítima da solidão e da temerosa certeza de que pouco tempo resta até que o destino bata à porta.
Philip Seymour Hoffman desata os nós dramáticos com sua performance mais do que irradiante de um servo da fé corrompido pelo pecado da carne – até ficando nu de botas para então perceber o tamanho da enrascada presente. Elementos de humor e tensão são anestesiados pela direção de Minghella, que migra das tramoias de Ripley e da seriedade de O Paciente Inglês para guiar Zellweger ao apogeu.
Por seu trabalho em Cold Mountain, tornou-se a primeira mulher a rapar a temporada na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Venceu no Globo de Ouro, Critics Choice, Sindicato dos Atores e no BAFTA. No Oscar 2004, em meio ao domínio absoluto do terceiro Senhor dos Anéis, derrotou Shohreh Aghdashloo, Patricia Clarkson, Marcia Gay Harden e Holly Hunter. Anos mais tarde, ela venceria novamente, desta vez em Melhor Atriz, na pele de Judy Garland.
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