Dentro de Echo, minissérie em cinco capítulos que inaugura a safra do Marvel Spotlight no Disney+, existem duas histórias distintas. A primeira se concentra na ancestralidade, e no modo pelo qual Maya Lopez (Alaqua Cox) entende seu papel no mundo, navegando por mais múltiplas “realidades”. Além de ser surda, a protagonista utiliza uma prótese na perna, razões pelas quais poderia se diferenciar de praticamente qualquer herói do Universo Marvel. Mas não é bem por aí.
Sua origem indígena da nação Choctaw é o que verte a narrativa primordial, que vê, tanto nos títulos dos episódios quanto no roteiro deles, vislumbres destes antepassados que dão a Maya traços específicos de seu arsenal. A segunda história, e infelizmente o foco dos criadores Marion Dayre, Emily Bowen-Cohen e Etan Cohen, é aquela da perseguição urbana que apresentou a personagem como personagem terciária de Gavião Arqueiro e que agora a ilumina sob título de principal.
Imersa no submundo criminoso da Nova Iorque controlada pelo tio Wilson Fisk, Maya cresceu longe da família, sofrendo o luto da mãe e ressentindo o pai. Quando este é morto, e a jovem jura vingança ao Vingador arqueiro, só para descobrir que o Rei do Crime está assinando os cheques, é então que a maré muda e Maya entende que precisa se concentrar e recalcular as rotas.
O episódio 1 representa a miríade da inocência juvenil com o amadurecimento cinzento da anti-heroína, que rememora os eventos já ocorridos (encontro com Clint, breve combate contra o Demolidor e o tiro que estourou os olhos do Rei do Crime), para então voltar à Oklahoma e começar o tardio plantio das sementes familiares.
As figuras são várias: do primo desengonçado (Cody Lightning), para o avô espírito-livre (Graham Greene) e a avó casca-grossa, Maya precisa encarar um tio (Chaske Spencer) que compartilha das amarras criminosas e a melhor amiga (Devery Jacobs), que deixou para trás quando sofreu o acidente, perdeu a perna e viu a mãe morrer. São feridas em estado de hemorragia severa, que a atriz Alaqua Cox, em seu papel de estreia, estanca com muita paciência e um pouco de dor.
O elenco puxa algumas caras conhecidas de Reservation Dogs e ainda traz a magnânima Tantoo Cardinal como Chula, a avó que carrega mais do que mágoas. Afinal, as visões de Maya, junto de inesperados poderes surgidos em momentos de vida ou morte, estão mais ligadas ao laço materno do que ela imagina. E Echo vai assim: trabalhando a origem nativo-americana da personagem, enriquecida pelos cenários bárbaros e pelo trabalho de figurinos, reconhecido na única menção ao Emmy 2024 conquistada pela série.
O problema está no restante, que recicla o lado B da ação do MCU, ao menos caprichando nas coreografias. No que tange o som, aspecto definidor da jornada de Maya, a minissérie brinca com as percepções e até ensaia certa originalidade, mas a escolha de oscilar entre o mudo e o gritante apenas reafirma a falta de autenticidade da produção.
Se as versões da Netflix destes personagens urbanos, como o Demolidor e Jessica Jones, encontravam margem para experiências e inovações na hora de contar suas particularidades, a safra realizada pela Disney e desovada no serviço de streaming são material reutilizável. Até divertem aqui e ali, mas não sustentam lembrança ou senso de maravilha. Como um eco do que já foi feito antes, melhor e mais caprichado.
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