Vencedores do Oscar | Syriana (2005)

Pelo thriller camaleônico sobre a indústria do petróleo, George Clooney tornou-se o Melhor Ator Coadjuvante do Oscar 2006

min de leitura

Os primeiros anos do século XXI acenderam uma chama de seriedade na carreira de George Clooney, que emendou trabalhos distantes do charme romântico e do frenesi televisivo que tomaram conta do pasado. Syriana – A Indústria do Petróleo não foi o único filme que o americano protagonizou na temporada de 2006, mas foi por ele que Clooney tornou-se, enfim, vencedor do Oscar.

Indicado ao Oscar 2006 como Melhor Diretor e pelo Roteiro Original de Boa Noite e Boa Sorte, também apareceu como Melhor Ator Coadjuvante por Syriana. Quando subiu ao palco, na primeira categoria da noite, fez piada: “então não vou ganhar em Direção!”. A plateia riu e não parou mais, especialmente quando Clooney emendou piadocas e não esqueceu de ostentar o título de Homem Mais Sexy de 1997. 

Syriana concorreu em 2 categorias na edição de 2006; Clooney ganharia o segundo Oscar da carreira alguns anos mais tarde, como produtor de Argo (Foto: Warner Bros.)

Em Syriana, vive um homem atormentado pelas escolhas da carreira, que o distanciaram da família e do resto do mundo. Atua como intermediário no Oriente Médio, na região fictícia que dá título ao filme. Sob a direção de Stephen Gaghan (Oscar de Roteiro por Traffic), o drama intercala uma dúzia de personagens, entre manda-chuvas e operários, no grande comércio petrolífero pós-11 de Setembro.

Bob Barnes (Clooney) começa o filme explodindo comerciantes sem mais nem menos, na pequena participação de um ainda novinho Kayvan Novak. Pela imprudência, é escanteado e esquecido pelo mesmo governo que o colocou em ação. Passa por torturas, sofre com lesões e a presença fantasmagórica da vida pregressa. 

Em um trabalho corporal intenso, que ainda distanciava Clooney da imagem de galã modesto, Syriana foi alavancado pelo nome do ator em alta naquele ano. Boa Noite e Boa Sorte colocou-o em dupla indicação ao BAFTA, onde perdeu para um monumental Jake Gyllenhaal (Brokeback Mountain). No Critics Choice e no SAG, perdeu para um inspirado Paul Giamatti em Cinderella Man.

Papéis de Michelle Monaghan e Greta Scacchi foram cortados na ilha de edição, alegando que o filme já estava muito longo e complexo (Foto: Warner Bros.)

Em seu favor, Clooney tinha alguns fatores: indicações em categorias técnicas pelo outro filme que dirigiu e protagonizou, força do nome consolidado na indústria e a homofobia da Academia contra o filme de Ang Lee. Na noite marcada pelas derrotas consecutivas de Brokeback, em disputas onde o eventual vencedor Crash acumulou mais choro que do louro, Clooney impediu que um papel gay fosse coroado. O que, aos olhos de uma parcela de votantes preconceituosa, só poderia acontecer uma vez por ano. No Oscar 2006, Philip Seymour Hoffman sagrou-se campeão por Capote, na performance que irradia fúria e glamour do escritor terrivelmente afetado e homossexual. 

Na linha de produções que buscava o olhar polifônico no trato de problemas sociais (como Traffic e Babel), Syriana falha em concatenar os pontos de vista. Atores de calibre e destaque, como Christopher Plummer, Jeffrey Wright, Chris Cooper e Matt Damon, se perdem na confluência de cortes e diálogos intercalados. O roteiro de Gaghan adapta livremente o livro de Robert Baer, sem a viscosidade que um conto sobre os imbróglios da guerra petrolífera demandava. 

Nem o drama humano, capitaneado pelo luto vivido por Bryan Woodman (Damon) e a esposa Julie (Amanda Peet), muito menos a relação embriagada de rancor e tristeza do advogado Bennett Holiday (Wright) com o pai idoso e viciado (William C. Mitchell), dão conta de tornar a experiência engajante ou reveladora. No fim, Syriana existe para manter os protocolos milenares do Oscar: fazer volume e impedir que performances melhores saiam nas páginas da História.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *