Olhando o currículo de Greg Kwedar, não fica evidente qual das característica de sua direção (em Transpecos) ou produção (em Jockey) será o forte de Sing Sing. No campo do desconhecido, o que se sobressai é a simpatia da história do grupo de teatro formado na prisão de segurança máxima. Entre os homens, a liberdade está na imaginação e na expressão.
A câmera de Pat Scola, radicado nos videoclipes de grandes nomes do rap, é a balança perfeita entre o piegas e o íntimo: ele troca ângulos manuais e ofegantes por singelos retratos da natureza de maneira fluida e orgânica, deixando que o elenco caminhe por qualquer terreno dramático.
Os atores, todos homens previamente encarcerados, interpretam versões fictícias deles mesmos. À parte dos nomes mais famosos, Colman Domingo e Paul Raci, os detentos respiram a vitalidade e a singularidade que um filme do gênero precisa para funcionar sem soar exploratório ou distante demais.
O roteiro nasce adaptado das peças de John H. Richardson e Brent Buell, e conta com o envolvimento total dos intérpretes, com grande destaque de Clarence Maclin, o coadjuvante mais efervescente de Sing Sing. Como Divine Eye, ele é o elo perdido do grupo, e leva tempo para entender a dinâmica da trupe.
Sob as asas do experiente personagem de Raci, os atores de teatro recebem a sabedoria de Divine G (Domingo), preso há vinte anos por um crime de homicídio do qual não é culpado. A chegada de Divine Eye, movimentando as ideias e sugerindo uma comédia como próximo espetáculo, é a pulga que atazana a paciência de G.
No plano geral, outros nomes, como Alex Alex (Sean San José), Dap (David Giraud), Preme (Patrick Griffin ), Mosi Eagle (Mosi Eagle), Big E (James Williams), Dino (Sean Dino Johnson) e os demais coadjuvantes não estão fazendo volume vazio, já que Sing Sing dedica-se a ouvir suas vozes – mesmo que seja para uma piada, um ensinamento, uma curiosidade da vida. Ou os três em uma só tacada.
Dentro e fora das telas, o projeto é rico em criatividade. Os lucros foram divididos de forma igualitária entre toda a produção, assim como os direitos autorais do filme, propriedade dos artistas envolvidos. Cenas de audição reais dos atores para o filme estão mescladas na montagem acolhedora de Parker Laramie, que ganha o compasso fantástico da trilha de Bryce Dessner, já versado em emocionar nos trabalhos independentes.
Exibido para executivos no Festival de Toronto de 2023, o filme foi guardado para o ano seguinte, ganhando o lançamento estadunidense da A24. Os louros, embora longe do alcance merecido, são alguns dos mais contundentes da temporada de premiações, e prometem carregar a força de Sing Sing, especialmente nos holofotes de Domingo, Maclin, do roteiro adaptado e dos produtores.
Deixe um comentário