Que o Brasil está mal representado de astronautas, nós sabemos. Cabe, portanto, ao icônico personagem que Mauricio de Sousa criou nos anos 60, quando a corrida espacial era o arroz e feijão do noticiário, reconquistar o poder e a presença da profissão. Na primeira animação produzida pela HBO da América Latina, Astronauta viaja por realidades desafiadoras.
Anunciada em 2018, adiada, reformulada e quase morta no purgatório criativo, a produção estreou sem alardes no catálogo da Max, em seis episódios de vinte e poucos minutos, exibidos semanalmente no último trimestre de 2024. Na direção, Roger Keesse mistura o suco da ficção científica e joga Pereira (voz de Marco Pigossi) numa bad trip daquelas.
Desiludido e deprimido, o protagonista rejeita o apelido Astro que causa mais chacota do que respeito – até sua relação com Ritinha (dublada por Mel Lisboa) desandou por conta da empresa tecnológica que o mantém refém de informações e de protocolos. Na história, Pereira foi abduzido e, quando voltou à Terra, algo estranho tomava posse de suas ações.

Não demora para que os demais tripulantes de uma missão à Lua também caiam na armadilha cósmica que algo, ou alguém, planejou com paciência e um bocado de maldade. Entre as referências clássicas, de Stanley Kubrick à Alien, passando por Interestelar e resquícios de Lovecraft, a produção amarra-se em visuais psicodélicos e na exploração sinestésica do cotidiano do personagem.
Espécie de cobaia para tudo que a Mauricio de Sousa Produções planeja testar, a figura do Astronauta ganhou novos contornos no lançamento das Graphic MSPs, álbuns que traziam artistas diversos para releituras dos personagens da Turminha. Em 2012, Danilo Beyruth e Cris Peters emprestaram a sisudez do sci-fi para o que se tornou uma hexalogia de gibis.
E por mais que a série da HBO não adapte os acontecimentos ocorridos entre Magnetar e Convergência, a inspiração está clara. Dos traços brutos e quadrados ao astral dos personagens, este Pereira ainda não viveu os percalços das HQs, mas parece estar em direção a eles. Horror cósmico e questões de identidade e pertencimento estiveram sempre atados ao cerne do Astronauta, que agora ganha o pedigree da emissora em uma aventura diferente de tudo que o mercado brasileiro tem apresentado.
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