Que Onya Nurve dominou a temporada 17 de Drag Race, ninguém pode – e nem deve – duvidar. Mas definir o novo ano do reality como algo além de mediano ou suportável seria um exagero inadmissível. Os motivos podem ser rastreados por vários fatores: elenco majoritariamente de queens na casa dos 20 e poucos, tarefas repetidas, falta de desafios reais na competição. Ou, simples assim, a saturação da série em seus moldes atuais.
Semana após semana as competidoras iam falhando em challenges clássicos da mitologia do programa, com destaque negativo para um Snatch Game protagonizado por escolhas ruins e, pior ainda, sem consequências. Não é por acaso que Onya, nova na arte drag mas detentora de uma confiança alicerçada em múltiplos talentos, correu na frente e nunca foi alcançada.

Ela desfilava com classe, cantava como canário e fazia graça sem fazer esforço. Venceu 4 desafios, e poderia ter ganhado outros, não fosse a mística que Drag Race colocou no “número máximo” de Wins que uma queen pode ter até a Grande Final. E a grande competição de Onya não chegou lá.
Eliminada com sobrancelhas arqueadas no desafio de Las Vegas, Suzie Toot encarou uma matilha de drags raivosas com suas habilidades de comediante e carisma que conquistou os jurados. Quando acumulou vitórias no Show de Talentos (com um sapateado diferente de tudo visto na série até então) e no RDR Live!, parecia que a Coroa iria mais uma vez para a cabeça da rainha teatral que tinha um arsenal de referências e se alegrava ao despontar do restante do grupo.

Sua fraqueza, no entanto, apareceu nas semanas seguintes aos desafios iniciais, dominados por figuras como Sam Star e Jewels Sparkles, que acabaram finalistas e com o boletim cheio de marcações positivas. Descendentes da Dinastia The Tuck, as queens foram versáteis na Costura, na Dança e no carisma.
Lexi Love, que ganhou a Premiere de lavada e de patins, sumiu do protagonismo da passarela e protagonizou, sozinha, uma briga com Toot. De longe a personagem mais desenvolvida e dramática da season, Lexi abriu o coração e despejou sentimentos de medo, insegurança, trauma e vícios, no que parecia uma clara decisão executiva de posicioná-la como a única vencedora possível.

Suas habilidades nos desafios, entretanto, estragaram os planos. Elogiada após uma performance categoricamente negativa no Snatch Game, Lexi sustentou sua posição com visuais deslumbrantes, um triunfo em dupla com Onya e um número incrível, mas derivado de seu Talento, na Final. Contentou-se em dividir o terceiro e quarto lugares com Sam, igualmente desinchada de momentum na última volta.
Na rodada de Dublagens que tomou o lugar do episódio de Reencontro, Suzie Toot derrotou Kori King e saiu com um cheque de 50 mil e o título de Queen of She Done Already Done Had Herses. King, por outro lado, saiu do set com uma parceira romântica: a hipnotizante Lydia B. Kollins; o B é a inicial de Butthole, nome que fez RuPaul cair de amores, e provavelmente rendeu a queen um convite para o All Stars 10. É o menor intervalo de tempo entre a season original e o retorno de uma Rainha, 4 dias de distância.

A season 17 contou ainda com a presença, e não necessariamente uma participação efetiva, de Lucky Starzzz e seu estilo alternativo; Joella e seu status de ícone asiático de Los Angeles; Hormona Lisa e seu convite pessoal para participar, além de suas perucas e a incrível semelhança com a Tristeza de Divertida Mente. A Miss Simpatia foi Crystal Envy, invisível na edição e uma das drags que passou despercebida por jurados e audiência.
Esquecida, também, foi Acacia Forgot, eliminada no Rusical que misturou O Mágico de Oz, The Wiz e Wicked e conseguiu entregar pouca qualidade e menos relevância ainda. Protagonista de brigas leais e desleais, Arrietty era dona de lindos, lindos vestidos; Lana Ja’Rae durou mais do que deveria, colecionando Bottoms e a certeza de que só porque alguém fica na competição, não quer dizer que ela é uma Lip Sync Assassin.

Na soma dos votos, RuPaul’s Drag Race chega ao nível máximo do que o formato atual permite entretenimento e drama. O Untucked concentrou a narrativa das queens, também reconhecidas pelas críticas de Law Roach, Hunter Schafer, Quinta Brunson e Betsey Johnson. No Makeover, mães e pais marejados invadiram o Ateliê. Na Final, uma homenagem para Liza Minnelli selou a temporada com a falsa sensação de lucro.

Faleceu em 27 de Abril a drag Jiggly Caliente, estrela da season 4 de Drag Race, da season 6 do All Stars e jurada da franquia das Filipinas. Ícone da comunidade trans, Jiggly atuou em Pose, participou ativamente das turnês do reality e fez seu nome para além do programa. Que tenha paz no descanso final e saiba que trouxe alegria e momentos icônicos para os amantes da franquia.
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