Duas desagradáveis seasons em sequências acenderam o alerta para os fãs de Drag Race España, que não queriam assistir, novamente, o show de previsibilidades que aconteceu nas vitórias de Pitita e Drag Sethlas. Recado dado: para a quarta temporada, um elenco composto por veteranas e novatas, boazinhas e vilãs, e muita intriga foi o suficiente para devolver o prestígio ao programa.
E com plot twist, é claro. Supremme de Luxe introduziu a inédita Reina de la Suerte, que apareceu no episódio de estreia. As 12 drags comeriam um bolo, onze delas encontrariam bonecas dentro dele e, a sós, descobririam se haviam tirado a sorte grande. Isto é, uma pequena doll que poderia ser usada para salvar a queen do Lip Sync, trocando-a de lugar com a terceira pior da semana.
Enquanto esse mistério cozinhava em fogo baixo, a temporada começou a toda marcha. No Baile da estreia, as competidoras desfilaram 3 looks, um sobre o passado, outro olhando para o futuro e o terceiro recriando um visual que usaram na primeira vez montadas. Venceu o olhar avant garde de Miss Khristo, queen que muita combina com o histórico do programa, de condecorar o estranho ao convencionalmente belo (é só lembrar dos wins prematuros de Hugáceo, Onyx, e Bestiah).
Saiu a apagada Shani LaSanta, devorada no Lip Sync por uma das fantásticas protagonistas da temporada, La Niña Delantro. A semana seguinte, com o habitual Show de Talentos, viu o decoro de Megui Yeillow, primeira Pit Crew a retornar como concursante na história do reality. E, como o imprevisto era regra, a mesma Khristo que ganhou a estreia, dublou contra a amiga Porca Theclubkid, mandando a drag alternativa para casa.
A terceira semana, com o desafio de atuação que parodiava Aquí no hay quien viva, deu o Win para Angelita La Perversa, a maior vilã que Drag Race trouxe a tona desde os primórdios do programa: amarga, experiente, bruxonilda e sem tempo para blábláblá, a queen de 44 anos botou para quebrar na comédia.
E, no caminho, arrumou briga com metade do elenco, especialmente as queens mais jovens, que não deitavam para o olhar de Angelita. Tampouco os jurados deixavam ela de lado, como o histórico de Lows, Highs, Win e Bottoms demonstra: toda semana, Angelita era foco da edição. Se, no começo, a sabedoria prevaleceu sobre a juventude errática da venezuelana Mariana Stars, o andamento da season colocou a mais velha como errada.
Angelita eliminou a amiga Kelly Passa!? na semana em que La Niña venceu o Desafio dos Grupos Musicais, e ainda dublou contra Miss Khristo, no Snatch Game. Quando chegou o momento da terceira passagem pelas Piores, no episódio em que fez time com Niña na tarefa de vender produtos, Angelita parecia imparável. Mas, então, Vampirashian sacou a Reina de la Suerte, saiu do Bottom e foi substituída pela mesma La Niña que Angelita perseguiu e com quem bateu boca.
O episódio do embate final, coroada na performance de Puedes Contar Conmigo, de María Escarmiento, foi o arrematante da vilania, que viu as jovens heroínas saindo por cima. La Niña, Mariana Stars e Vampi, todas alvos de Angelita, viram-na ser mandada embora num dos looks mais questionáveis de seu guarda-roupa. Que, para além do visual de Freddy Krueger usado na passarela que venceu, constantemente caia no campo do “a desejar”.
Os primeiros sete episódios foram vencidos por sete rainhas diferentes, sem uma favorita óbvia à Coroa e ao cheque de 30 mil euros. Mariana Stars venceu o Snatch Game, imitando Ana María Polo, Vampirashian foi a winner do Rusical das divas espanholas, pelo papel de Sara Montiel, e a brilhante Le Cocó venceu o desafio dos comerciais. Foi só na oitava semana, com o Roast, que alguém acumulou duas vitórias: justamente Cocó, que ganhou tração no momento ideal.
Apesar de um deslize no Makeover, a drag mais consistente da temporada seguiu favorita ao prêmio máximo. Em uma jornada marcada por bolas na trave, como quando imitou Ana Locking no Snatch Game, Le Cocó enfim teve a chance de brilhar quando a última cabeça do dragão foi cortada. A saída de Angelita marcou o reinício da temporada, que tratou de eliminar as queens em excesso.
Megui saiu no Roast e, apesar de não ter sido um dos destaques do ano, recebeu carinho da produção e saiu por cima. Feia mesmo foi a atitude das queens eliminadas, que fizeram caras e bocas nas apresentações do Desafio. No Reencontro, Supremme chamou atenção e mostrou Angelita, Porca e Khristo combinando as caretas e as reações de sono e desânimo.
O que não faltou foi emoção. No lado positivo, o Makeover trouxe lendas da cena espanhola que serviriam de mães para o top 5: as queens experientes trouxeram vestidos e as competidoras deveriam costurar algo que ornasse na passarela. Venceu Chloe Vittu, até então a única sem Win, com um visual embora simples na execução, carregado de forte carga emocional na apresentação.
No episódio 11, palco do Reencontro, as formalidades tomaram conta da conversa, antes, é claro, da briga. Porca ganhou o Miss Look Perdido com o visual da runway de Pesadelos. La Niña venceu o inédito Miss Maquiagem, pelo visual da runway dos Quatro Elementos. E a até agora não mencionada canária Dita Dubois venceu a faixa de Miss Simpatia, em decisão quase unânime.
A Final foi, na realidade, um falso espetáculo. As 4 queens dublaram, receberam votos ao melhor estilo Eurovision e um top três se formou. Foi eliminada La Niña, que assistiu à Batalha pela Coroa – que não veio. Supremme surpreendeu e anunciou uma cerimônia ao vivo, no teatro e com direito a plateia, dali a duas semanas.
A Grande Grande Final, por outro lado, precisou preencher setenta e cinco minutos de repeteco e celebração. Com a presença de uma Alyssa Edwards que serviu até de jurada para as finalistas, ainda teve tempo para homenagear as lendas transformistas que apareceram no Makeover e voltaram ao auditório.
Chloe saiu com a medalha de bronze, enquanto Le Cocó derrotou La Bella Vampi ao som da versão espanhola de uma linda canção do ABBA e sagrou-se vencedora. Tirando o amargo das temporadas passadas, o quarto ano da série mostrou os sinais clássicos da expansão em Drag Race: leveza, brilhantismo, felicidade e gongação. Dos mini-desafios que exigiam cortar melancia com salto de forma simétrica, até a promessa cumprida de Pupi Poisson no Snatch Game e o Double Shantay no Lip Sync de Mujer Loba, os astros se alinharam e devolveram España aos eixos.
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