Bugonia empurra Emma Stone do precipício que protege a Terra

Novo filme de Yorgos Lanthimos foi exibido na coletiva de abertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

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Teddy (Jesse Plemons) e seu primo Don (Aidan Delbis) estão certos de que a CEO Michelle Fuller (Emma Stone) não é quem diz ser. Dona de um império financeiro que lucra no ramo da Saúde, a mulher se passa por humana, mas a dupla discorda. Para eles, ela é uma alienígena de Andrômeda, infiltrada no planeta para drená-lo de vida e prosperidade.

Em Bugonia, novo filme do grego Yorgos Lanthimos, as coisas são como parecem ser, até que deixam a fachada para trás. Teddy é persuasivo, e Plemons interpreta suas vulnerabilidades com a crueldade calibrada: convencer o primo, meio abobalhado, de que os homens precisarão de castração química é mamão com açucar, e a retórica conspiracionista serve para primeiro enraivecer Michelle, e depois destruí-la.

Jang Joon-hwan, diretor do filme original, tinha planos de dirigir a versão americana, mas afastou-se do projeto por questões de saúde (Foto: Universal Pictures)

Exibido em Veneza, o filme tem roteiro de Will Tracy (de Succession, O Menu e O Regime), baseado no sul-coreano Save the Green Planet!, uma ficção científica muito vertida ao absurdo. Bugonia se mune de piadas e da ironia da situação, mas diverge do currículo extravagante e afetado de Lanthimos.

Stone, que raspou a cabeça nas gravações e se distancia da excêntrica Bella Baxter de Pobres Criaturas, mastiga cada situação com lascívia e fome, com uma construção de personagem que vai além do âmbito geográfico, já que Bugonia se passa, quase que por completo, no porão e na cozinha de Teddy.

Lanthimos gravou em VistaVision as sequências de reanimação de Pobres Criaturas, e voltou a aplicar a ferramenta em Bugonia, numa tendência que segue os passos de O Brutalista e Uma Batalha Após a Outra (Foto: Universal Pictures)

A casa é abarrotada de cacarecos e pintada de um bege enjoativo, contrastando com o mundo dos ricos que Fuller habita. As salas da empresa são arejadas e cercadas de vidros; o carro de última linha é uma nave por si só, na rádio, Good Luck, Babe! estoura o limite do som e dança graciosamente nas expressões da atriz.

Plemons e Delbis, este um ator não-treinado que Lanthimos insistiu em escalar para render mais na autenticidade da performance, também ganham momento musical. Basket Case, do Green Day, assume o tom heroico da ação dos mentecaptos, coroados numa espiral de medo, rancor e acerto de contas. A câmera de Robbie Ryan corta para uma resolução quadrada e composição em preto e branco para apontar os motivos do personagem, muito ligados à interpretação física de Alicia Silverstone. 

Bugonia faz parte da seção Perspectiva Internacional da 49ª Mostra de São Paulo, e ainda tem no elenco a participação do astro Stavros Halkias no papel que pincela o passado traumático do protagonista (Foto: Universal Pictures)

O frenético trabalho de Jerskin Fendrix na Trilha Sonora é parte do bom planejamento de Bugonia, rendendo aquele senso que mistura apreensão e insanidade. Para compor as canções, Lanthimos deu ao músico apenas “quatro palavras-chave”. Para o diretor, Bugonia serve de comentário ao estado cada vez mais enviesado e suspeito das ações humanas. Tudo começa e termina com as abelhas, as inocentes na história toda. 

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