Às Vezes Quero Sumir: Daisy Ridley na galáxia das desilusões

A apatia reina em simpático drama independente

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Há, na cultura popular, certa noção de que, a cada nova trilogia de Guerra nas Estrelas, apenas um ator do grupo principal consegue deslanchar na carreira. Harrison Ford e Natalie Portman são os exemplos, ao lado do mais recente membro do clube, Adam Driver. A sessão de Às Vezes Quero Sumir, então, torna a estatística ainda mais dramática e amarga, mostrando os talentos ainda não desbravados de Daisy Ridley.

Aqui, ela é Fran, uma funcionária apática de um escritório qualquer. Pense na filial da Dunder Miffin em Scranton mas sem o humor e as pérolas inigualáveis. Na verdade, o trabalho é até que cheio de figuras marcantes, da chefe sem noção de espaço (a monotônica Meg Stalter) até os caricatos e marcantes colegas de profissão.

Para Fran, o problema está nela. Não conversa muito, nem se faz presente. Nas interações em grupo, reza para sua vez de falar passe como raio. Em mais uma reunião, que reúne a dúzia de personagens em prol da apresentação do novo contratado, Robert (Dave Merheje), a mulher novamente sofre para socializar.

O título original é um pouquinho mais dramático: Sometimes I Think About Dying (Foto: Synapse Distribution)

Ela prefere o silêncio, e nele, gosta de se imaginar em diversas situações mortais. Atravessada por um galho pontudo depois de um acidente de carro, ou sendo devorada lentamente por formigas no piquenique do fim de semana. Não importa o motivo do óbito, Fran quer sumir (e, no título original, quer a morte). Mas só de vez em quando.

O filme de Rachel Lambert estreou em Sundance 2023 e chamou atenção pela abordagem calma e reflexiva de como a depressão engole as parcelas mais banais da vida de alguém. Ridley, em um dos únicos papéis após sua incursão na Galáxia de Star Wars como Rey, está deslumbrante como uma mulher absolutamente ordinária. Ela é lacônica, e economiza onde pode.

Robert balança seu mundo de maneiras ainda inéditas: ele ri de uma das piadas que ela conta sem perceber. Daí, o riso se transforma em convite para o cinema e depois para uma noite de refeição caseira. Por fora, Fran sorri, acena e assente. Por dentro, a confusão está em estado avançado, e o mecanismo de autossabotagem aparece nos momentos menos oportunos.

Daisy Ridley tem passagens compradas para voltar à Star Wars, com a vindoura nova aventura de Rey (Foto: Synapse Distribution)

O roteiro de Às Vezes Quero Sumir foi escrito por Stefanie Abel Horowitz, Kevin Armento e Katy Wright-Mead, tendo como base tanto a peça KIllers, quanto o curta-metragem de mesmo nome (e com o envolvimento dos mesmos profissionais). Com cara e pegada de drama independente com pretensão pelo não-dito e pelo implícito, o filme se estica pela hora e meia mais angustiantes de qualquer um com ansiedade social. Enfim, Ridley permite que Fran caminhe fora do mapa, estendendo a mesma simpatia a quem assiste e, porventura, identifique-se profundamente com a história. 

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