O amor não morreu, mas se adaptou. Tina Fey até lançou uma série sobre isso, mas pouca gente deu bola. As Quatro Estações do Ano (The Four Seasons) adapta um filme dos anos oitenta que acompanha três casais, um divórcio e a perene dúvida de quanto tempo a dinâmica do grupo levará para destrambelhar-se.
Na criação, um reencontro dos cérebros preciosos de 30 Rock, Fey divide a caneta com Lang Fisher e Tracey Wigfield, capturando parte da sátira pessimista que as comédias românticas abriram mão em anos recentes, desta vez da ótica de dentro para fora. Os casais, que se conhecem há décadas, passam as férias juntos; uma viagem para cada mudança no calendário.

Na Primavera, o destino é a casa do lago de Nick (Steve Carell) e Anne (Kerri Kenney); as flores, porém, só florescem lá fora, pois ele não aguenta mais a companhia da esposa e quer o divórcio. Na caminhada matutina, compartilha isso com dois dos amigos, que tentam fazê-lo mudar de ideia.
De sussurro em sussurro, todos acabam por entrar na ciência do fim do casamento longo e aparentemente pacato dos dois. De um lado, Jack (Will Forte) e Kate (Fey), um par que se apaixonou na faculdade e continua firme até hoje, usa da crise alheia para analisarem a própria relação.

Do outro, Claude (Marco Calvani, marido de Marco Pigossi!) e Danny (Colman Domingo) encaram a situação com menos dramaticidade. Parte alheia aos principais acontecimentos do cenário heteronormativo, o casal gay protagoniza momentos de muita graça e mais tensão ainda. Danny adora agradar o esposo, mesmo que minta para isso.
As Quatro Estações do Ano vai levando a história, passando pelo Verão num hotel mequetrefe, em arcos de dois episódios. Entre a brisa do mar e as cabanas ao ar livre, os veteranos aprendem a conviver com Ginny (Erika Henningsen), a namorada trinta anos mais jovem de Nick.

Com situações de praxe do conflito de gerações e a eterna busca pela juventude do espírito, a comédia da Netflix encontra força nas interações entre os atores e a constante rede de apoio que os personagens mantêm há um bocado de tempo. A amizade entre Kate e Danny é de encher o coração – num encontro de almas que vai além da paixão e repousa no entendimento.
No Outono, eles viajam para a faculdade das filhas, e assistem à peça de Lila (Julia Lester, de HSM: A Série: O Musical), que coloca para fora o ódio que sente pelo pai, a pena que carrega da mãe e o desgosto que alimenta por Ginny. É desconfortável e um tanto hilário, como costumam ser as criações de Tina Fey.

É aqui, também, que o roteiro se encarrega de rasgar certas presunções dos amigos, criando rusgas que perduram os meses até o Inverno, quando o grupo se separa – e enfrenta o desconhecido. Anne fica com eles na viagem de Ano Novo, enquanto Nick vai passar um tempo com a turma sóbria e meio etérea de Ginny.
Mais choque de gerações, mais constrangimento e mais amargura, na equação que a direção constrói pelos contrastes. Apesar de previsível, o rumo de As Quatro Estações atualiza uma série de predicados que Hollywood delimitou sobre o amor romântico e a ideia de amizade entre casais.

Desta vez, os problemas são pequenos frutos que crescem à base de desconfiança e mínimos segredos. Danny e Claude esperam para discutir a volta do hábito do cigarro na hora que o lenhador sexy se despe na cama; depois, Kate e Jack entendem que a terapia é o caminho mais óbvio para eles, e as lamentações na viagem de volta para casa não apagarão isso.
Domingo, sempre bem vestido e ornado com chapéus e jaquetas que sagram aplausos a equipe de figurino, representa As Quatro Estações no Emmy 2025. Sua indicação ao prêmio de Ator Coadjuvante em Comédia desbancou algumas certas certezas da disputa, e serviu como coroação dos anos recentes de sua carreira, com duas lembranças do Oscar e um prêmio da Academia televisiva pelo papel notável em Euphoria.
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