A Vizinha Perfeita choca pelo registro e inova em linguagem

Premiado em Sundance, documentário da Netflix faz o sangue ferver

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A morte de Ajike Owens não foi um ato premeditado, mas o material-base do documentário A Vizinha Perfeita mostra o desenvolvimento da relação entre a vítima e sua algoz, a racista, preconceituosa e assassina condenada Susan Lorincz. Dirigido por Geeta Gandbhir, o filme abdica de narrações ou colagens caseiras para contar uma história por meios “oficiais”.

Notória montadora vencedora de Emmys e Peabodys, Gandbhir usa registros de câmeras corporais de policiais ao longo dos anos em que a mulher branca importunou os vizinhos negros, com ameaças, mentiras e muito preconceito. O documentário surpreendeu com uma indicação em Montagem no Critics Choice, premiação que não costuma reconhecer não-ficção.

Ajike Owens era a melhor amiga da cunhada da diretora Geeta Gandbhir (Foto: Netflix)

Em Sundance, o documentário chamou atenção pela inovação no formato e na linguagem, garantindo uma distribuição global pela Netflix e o alcance maior de sua mensagem e alerta. Na Flórida, estado que acatou um tipo de defesa pessoal muito justificado em crimes de brancos contra negros, a história de uma vizinhança assombrada pela residente da casa 3 é uma de lamúria e irritação.

O sangue borbulha com os depoimentos falsos e maquiados de Lorincz, uma mulher profundamente perturbada e com tempo livre para xingar crianças e ameaçar a integridade física e moral das pessoas com quem divide o bairro, quase que em sua totalidade formado por famílias negras que, assim como ela, alugam seus imóveis.

A diretora explicou que, apesar de haver imagens de câmeras corporais da polícia tentando reanimar Ajike, a equipe decidiu não incluí-las para evitar exploração, buscando apenas mostrar o suficiente para transmitir o terror e a gravidade do momento (Foto: Netflix)

Navegando por ligações e chamadas que só mostram o preconceito da mulher, A Vizinha Perfeita fala de armamento, violência e negligência estatal ao mostrar a construção de uma tensão que acaba em crime, com o assassinato de Ajike Owens em 2023. O momento é capturado pelas gravações da polícia e pelas câmeras dos oficiais em campo, e mostrado com a crueldade e a crueza necessários.

Mãe de 4 filhos, Owens deixou um legado que continuou na luta por direitos da população marginalizada e pela busca por justiça. Susan Lorincz foi condenada a 25 anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional – mas o filme evidencia: tempo nenhum será suficiente para remendar o coração quebrado das crianças. 

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