A Verdadeira Dor abre alas para Kieran Culkin

Com 2 indicações ao Oscar 2025, drama intimista de Jesse Eisenberg não desvia dos protocolos

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Benji (Kieran Culkin) é daquele tipo de extrovertido que, tão à vontade na companhia de estranhos e dado a novas amizades, causa certa inveja no primo David (Jesse Eisenberg), retraído e tímido. Em A Verdadeira Dor, os dois embarcam numa viagem até a Polônia, a fim de visitar o local de nascimento da avó, há pouco falecida, de quem eram muito próximos. 

Simples na premissa e direto na execução, o segundo filme dirigido por Jesse Eisenberg é um passo e tanto de qualidade quando comparado ao intolerável When You Finish Saving the World. A resposta da audiência e da indústria também foi diferente: com A Real Pain, duas indicações ao Oscar 2025 parecem pouco, mas o número pequeno de menções tem resultado em vitórias.

Incerto quanto sua participação no filme, Culkin quase desistiu pouco antes de viajar à Polônia e quem o convenceu a gravar foi Emma Stone, produtora e ex-namorada do ator (Foto: Searchlight)

Recém-saído do furacão midiático e de aclamação que Succession deixou para trás, Kieran Culkin repete a energia boa-praça que Roman Roy falhava em comunicar e faz de Benji um estudo potente e por vezes hilário de como o luto e a depressão afetam o dia a dia de alguém distante.

Pela atuação comovente, ganhou tudo que tinha direito e chega ao Oscar com o posto de favorito. Se vencer o troféu de Melhor Ator Coadjuvante, quebrará um jejum de 13 anos; desde que Christopher Plummer ganhou com Toda Forma de Amor, ocasião em que o campeão estava em um longa não reconhecido na categoria principal. Tudo indica que A Real Pain falhou em alcançar a nota de corte, e só conseguiu a menção extra em Roteiro Original.

O roteiro nasceu das experimentações teatrais de Eisenberg, que decidiu unir personagens de diferentes espetáculos para a criação de A Real Pain (Foto: Searchlight)

Prêmio que Eisenberg venceu no BAFTA, superando o então favoritismo de A Substância (ganhador do Critics Choice) e Anora (escolhido campeão pelo Sindicato). É simples entender o apelo do drama viajante do simpático ator-transformado-em-cineasta. Ele constrói cenas de encenação nula, abrindo mão de qualquer aspecto que diferencie sua visão como diretor e dá margem para que Culkin mastigue o diálogo e devolva catarse pura à audiência.

E considerando a fatia farta de desenvolvimento e foco que Benji carrega no filme, a presença do ator na categoria secundária levanta sobrancelhas e entristece o apagamento de performances de fato coadjuvantes às tramas, caso dos trabalhos notáveis de Yura Borisov (Anora), Guy Pearce (O Brutalista) e especialmente Jeremy Strong (O Aprendiz), com quem Culkin dividiu a árvore genealógica em Succession.

Kieran Culkin não gostava dos processos de ensaio ou troca de sugestões com o diretor e companheiro de cena, o que estressou Eisenberg mas resultou em tomadas diretas e surpreendentes para a dupla (Foto: Searchlight)

Na trama, os primos se juntam a um grupo que visitará locais devastados pelo nazismo, liderados pelo guia James (Will Sharpe, de The White Lotus). Sem vontade de enriquecer as dinâmicas intrapessoais, Eisenberg decupa todos os elementos estilísticos, de linguagem e de ação do filme, deixando Culkin como foco único de celebração e reverência.

Com produção executiva de Emma Stone (que em 2024 também bancou I Saw the TV Glow e Problemista), A Real Pain existe por e para premiar e reconhecer o trabalho de um ator que atua desde criança e, no alvoroço marqueteiro de um drama da HBO, encontra-se novamente em evidência. É um trabalho dedicado e íntegro, mas a varredura nos precursores, especialmente com o status de co-protagonismo, tornam a imagem de Culkin e do filme em visão indigesta para quem busca o algo mais.

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