Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente soma dor e fúria

Minissérie brasileira da HBO encara a luta e o luto da epidemia de AIDS na década de 80

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O horizonte ensolarado do Rio de Janeiro esconde o verdadeiro terror que abriga a minissérie Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente. Estamos em 1989, com o Brasil reconstruindo-se dos destroços da Ditadura Militar quando uma nova enfermidade cai por terra sem distinção: a epidemia de AIDS.

Na empresa de aviação Fly Brasil, os comissários Nando (Johnny Massaro) e Lea (Bruna Linzmeyer) usufruem do trajeto entre Rio e Nova York para aproveitarem o melhor que a vida na flor da idade permite. Não demora para que a realidade cobre o preço sádico na saúde do primeiro, quase ao mesmo tempo em que a segunda descobre uma gravidez indesejada do piloto casado da empresa.

O drama acompanha a chegada clandestina do AZT ao Brasil, e denuncia o descaso governamental com os doentes (Foto: HBO)

Em paralelo, a boate Paradise reúne bichas e travestis em luzes escaldantes e apresentações etéreas. A diva residente é Pantera (Verónica Valenttino), que está no fim de sua vida, doente e debilitada pelas complicações do HIV. Raul (Ícaro Silva) segura as pontas depois da partida da mentora, mas os casos de doentes à beira da calçada e sem qualquer apoio do governo ou da sociedade crescem, e algo precisa ser feito.

Criada por Patricia Corso e Leonardo Moreira com base na ideia original de Thiago Pimentel e com direção geral de Marcelo Gomes e Carol Minêm, a minissérie da HBO oferece um prisma de experiências e pesares de uma amostra da população brasileira. O preconceito propagado na mídia é endereçado pela entrevista que a atriz Andréa Brito (Andréia Horta), personagem baseada na figura real de Sandra Bréa, joga no ventilador os fatos e espera pelo estardalhaço.

As mulheres comandam a minissérie: Verónica Valenttino dá um show nos momentos derradeiros de Pantera, enquanto Rita Assemany, Kika Sena e Carla Ribas se reconstroem entre tragédias (Foto: HBO)

Não é só bicha que fica doente: Francesca (Kika Sena), uma das travestis que frequenta a Paradise, mantém um romance tórrido com um homem casado, que acaba contaminando a esposa Sonia (Rita Assemany), uma costureira idosa que em meio ao luto pela morte do parceiro de vida, se aproxima da amante e passa a frequentar as reuniões na boate, a fim de compartilharem experiências e testemunhos.

Para toda a dor e o medo, Máscaras de Oxigênio dobra a aposta com voracidade e sede de viver, especialmente no que tange a persona estridente de Nando. Na casa do comissário, a relação com a mãe Raquel (Carla Ribas) é testada e sai intacta em trocas francas de sentimentos genuínos. O quarto episódio, Vem Chegando o Verão, mostra a tão temida conversa por parte do filho, com resultados doces e quase utópicos.

Igor Fernandez interpreta Caio, jogador de futebol em ascensão que mantém uma relação secreta com Nando (Foto: HBO)

Cumplicidade e companheirismo são os temas que percorrem todos os núcleos da minissérie, do consultório da doutora Joana (Hermila Guedes), ao convívio particular da comissária Yara (Eli Ferreira) com seu irmão doente e até a casa de silêncios que o piloto Barcelos (Júlio Machado) precisa encarar com o diagnóstico do filho adolescente Paka (Matheus Costa).

Inspirando-se na iconografia de produções como Pose e Angels in America, Máscaras de Oxigênio evoca uma assinatura particularmente autoral, com trilha sonora recheada de sucessos perfeitos para os momentos que embalam, além de contar com interpretações besuntadas em honestidade. 

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