Com Mateusinho em um braço e uma mala em outro, Hermila desembarca em Iguatu, terra-natal no interior do Ceará da qual fugiu, apaixonada por Mateus, para tentar uma vida em São Paulo. Não é difícil cair nas graças da personagem; interpretada por Hermila Guedes, que descobriu a paixão pela atuação meio que ao acaso, a protagonista de O Céu de Suely é um furacão, levando consigo pelo caminho corações e algumas notas de vinte reais.
O longa é um dos primores da carreira de Karim Aïnouz – posto difícil de definir, já que o diretor é dono de uma filmografia repleta de sensibilidades e boas histórias, seja na direção ou no roteiro. Mas é que O Céu de Suely tem um quê especial, tanto que conquistou uma porrada de prêmios dentro e fora do Brasil. O clima do filme é sereno, puxado para uma melancolia latente de algo a ser descoberto, longe do alcance, mas que Hermila tanto almeja. Essa sensação, carregada com a crueza e o carinho igualmente vorazes de Guedes, nos faz flutuar pelos 90 minutos da produção. E não basta retratar realidades e experiências, o Cinema precisa mesmo causar sensações.
Através de Suely, Hermila experimenta o pouco de liberdade que a pequena Iguatu consegue permitir. E é nesses momentos que a vemos brilhar com a intensidade da vida; uma vida com gosto de comida de vó e cheiro de suor. Por isso que torcer por Hermila é inevitável, mas não só por ela. Torcemos também por Maria, por Georgina, por Mateusinho, por Zezita e até por João. Porque o filme de Aïnouz é tão cheio de humanidade que escorre pelas beiradas.
Que Hermila – e Suely – possam alcançar o céu. E que ele seja lindo, tenha cerveja e toque Aviões do Forró.
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