A opção por estilizar, alongar, pontilhar e até desfocar de Gia Coppola em A Última Showgirl é a maneira palpável de encarar a finitude do registro. Na história, Shelly (Pamela Anderson), uma vedete que protagoniza o mesmo espetáculo desde o fim dos anos oitenta, precisa resgatar o que lhe resta de ímpeto para seguir em frente depois que o show acaba.
Nas tomadas filmadas dentro de camarins abafados e na desértica Las Vegas, erodindo o preço da vida pela arte, o filme usa da estética de videoclipe para lidar com os mais brutos e crus temas de amadurecer, ser vista como mercadoria estragada e, em maior grau, como uma existência sem cinto de segurança cobra um preço caro demais.

As alegorias estão em primeiro plano. Shell, em inglês, significa concha. Nas relações com as jovens colegas de trabalho, no trabalho muito corporal de Brenda Song e Kiernan Shipka, a protagonista recusa a maternidade por osmose. Pouco antes, sua filha de sangue, Hannah (Billie Lourd), escancara algumas cicatrizes há muito afligidas.
É doloroso, como Anderson imprime na postura, na feição abatida e no tom de voz. Ela grita quase que em silêncio, discutindo com si mesma no processo. É como se, quando chega a notícia que o Le Razzle Dazzle encerrará as atividades, todas as pendências de outrora debitassem de supetão.

A amiga Annette (Jamie Lee Curtis), demitida pela idade e agora fadada a servir drinques para idosos tarados no cassino perto do teatro, opera à parte do núcleo cheio de lantejoulas. Ela, arisca e magoada pelos anos de serviço lidos como descartáveis, precisa se prender a qualquer promessa de ouro falso. Em uma sequência de classe, Curtis empresta sua postura de adoidada para uma rendição de Total Eclipse of the Heart, música que sintetiza muito do glamour do século XX para essas pessoas que viveram na pele um tipo de adoração que nunca mais será sentido.
Coppola abandona o frenesi de seu desvairado longa com Andrew Garfield, Mainstream, e aposta tudo no sincretismo entre o sucesso e o arrependimento. Eddie (Dave Bautista), o manda-chuva do espetáculo, trata as garotas como família, mas se isola de qualquer sentimentalismo ou apego. Shelly até tenta se apoiar em sua força adormecida para ver se os anos em Vegas dariam um fruto que seja. Ela se engana, e se machuca e o processo de flagelo recomeça.

O caráter minimalista e artesanal de Coppola (que gravou em apenas 18 dias), em outro testemunho sobre a fama e sobre crescer abaixo dos holofotes, é sentido também na escolha de elenco. Bautista, que veio da indústria do WWE, contracena com estrelas mirins, como Shipka e Song, e também divide o palco com Anderson, alvo de uma violenta campanha midiática na juventude, e Curtis e Lourd, filhas de pais famosos que amadureceram entre uma claquete e uma cadeira de diretor.
A Última Showgirl foi lançado na temporada de premiações para algumas surpreendentes indicações. Anderson esteve entre as concorrentes que Fernanda Torres derrotou no Globo de Ouro, e tanto ela quanto Curtis foram lembradas pelo SAG. Entretanto, o filme não chegou ao Oscar 2025.
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