É bem verdade que a policial Marge Gunderson (Frances McDormand) nunca tem a chance de olhar a cara engraçada do bandido Carl (Steve Buscemi), mas o que Fargo planeja para ela, já grávida demais para se sentir confortável entre o banco do motorista, a mesa de jantar e as cenas do crime, é satisfatório à seu próprio modo. No Brasil, com o subtítulo Uma Comédia de Erros, o filme rasgou a definição concisa e extravagante de Joel Coen.
À época, Ethan ficou no posto de piloto secundário, assinando roteiro e montagem, mas deixando a direção para Joel, que organiza um tabuleiro de xadrez febril e gélido para o plano desenhado pelo protagonista Jerry Lundegaard (William H. Macy), um infeliz corretor de veículos que paparica a esposa e detesta a presença do sogro, um magnata que esbanja dinheiro.

A saída para conseguir uma parcela da bolada é forjar o sequestro de Jean (Kristin Rudrüd) e, em conluio com os bandidos, levar boa parte do resgate para os próprios cofres. Acontece que, do lado de lá do plano, os malvados e estúpidos Carl e Gaear (Peter Stormare) são menos inteligentes que o ideal para tamanha ação.
Tiros acertam alvos errados, ao passo que a polícia de Brainerd é chamada, na figura pacata de Marge, uma mulher calma, pensativa e casada com o mais dócil dos maridos, papel de John Carroll Lynch. Ela só aparece na marca dos trinta e três minutos, mas cada fala, gesto e expressão de McDormand dominam a tela e solidificam seu trabalho que caminha no limiar entre a comédia de situação e o drama violento da história, em um sotaque doce.

Abrindo com uma falsa declaração de veracidade dos fatos apresentados no filme, Fargo foi um dos grandes destaques de 96, com o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes sendo apenas o início de uma jornada vitoriosa. No Oscar 1997, McDormand foi sagrada Melhor Atriz, e os irmãos Coen aceitaram o troféu de Roteiro Original, além das indicações em Filme, Direção para Joel, Ator Coadjuvante para Macy, Fotografia para Roger Deakins e Montagem para Roderick Jaynes, pseudônimo usado pelos Coen.
Sinônimo de originalidade e criatividade, Fargo passou a ser referido como marca e franquia. Em 2003, ganhou sequência em formato de telefilme com Edie Falco tomando o papel de Marge e Kathy Bates se arriscando na direção. Anos mais tarde, Noah Hawley montou uma antologia que empresta o local do mapa, mas mantém-se distante dos acontecimentos. Em cinco temporadas, a série do FX reuniu elenco de peso, acumulando também prêmios, elogios e o companheirismo e a solidariedade tão comuns à Minnesota.
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