2ª temporada de Shrinking foi feita para os apreciadores de Phoebe Bridgers

Harrison Ford é o destaque da comédia, que intercala humor e luto

min de leitura

Não, não é apenas pelo uso de uma de suas músicas na série: Falando a Real, ou Shrinking, captura a essência da cantora americana em várias camadas. É irônica, sensível, autodepreciativa e sabe, como ninguém, extrair boas emoções de momentos adversos. A 2ª temporada dobra a aposta e continua colhendo os lucros.

Para tal, entra no elenco um dos criadores da produção: Brett Goldstein. Na antítese do rabugento que conquistou o mundo em Ted Lasso, seu Louis é um homem quebrado. Foi ele o motorista bêbado que bateu no carro de Tia (Lilan Bowden), causando a morte da mulher e o luto no marido Jimmy (Jason Segel) e na filha Alice (Lukita Maxwell).

Jason Segel disputou Ator e Ford apareceu na lista do Globo de Ouro de Ator Coadjuvante na TV, enquanto o Critics Choice indicou apenas Michael Urie; o SAG indicou Ford e o elenco (Foto: Apple TV+)

Com pinta de vilão para os protagonistas, o personagem é desenvolvido sem pressa ou euforia, tendo sua própria história contada em interligações com o restante da trama. E o que a comédia faz aqui é simples, ao oferecer a sensação de completude e de calor humano que Lasso, criação anterior dos produtores, acabou se embrenhando sem norte.

Em uma série ambientada, majoritariamente, na presença de terapeutas, o roteiro encontra o meio do caminho entre o piegas e o inspirador; com isso, os vizinhos, colegas e amigos enfrentam as próprias limitações ao passo que quebram os moldes que fizeram-nos sofrer até então.

A Apple planeja finalizar Shrinking na terceira temporada, que promete encerrar com maestria a trama dos personagens, especialmente do Paul de Harrison Ford (Foto: Apple TV+)

Vejamos, por exemplo, Gaby (Jessica Williams), que termina o caso com Jimmy, enfrenta a culpa e o ressentimento de dormir com o ex da amiga morta, e ainda vê o chão tremer com as responsabilidades de cuidar da mãe debilitada. E nem tudo são bombas, já que entra na jogada um charmoso e prestativo Derrick (Damon Wayans Jr., sim, filho dele!), responsável por alegrá-la em meio às turbulências.

Por outro lado, o ex-soldado Sean (Luke Tennie), catalisador emocional da primeira temporada, precisa trabalhar ao lado do pai e lidar com a raiva que acumula desde os tempos de serviço militar. Ele até pena na jornada, com uma surra indesejada que acende os faróis de atenção, mas então caminha com as pernas firmes e em linha reta.

O roteiro, embora munido de bons arcos individuais, desliza o discurso em pontos importantes, como os efeitos do exército na saúde mental dos soldados (Foto: Apple TV+)

O grande destaque de Shrinking, porém, é todo de Harrison Ford e seu ranzinza Paul, o terapeuta-chefe que convive com o Parkinson em seus estágios iniciais. Além de firmar o namoro com a doutora Julie (Wendie Malick), o idoso é confrontado pelas cicatrizes que o pai autoritário deixou na infância: e não é pelo status de senior que ele escapa da própria autoanálise, formando amizade com um antigo paciente e se conectando, de maneira amistosa, com a ex-esposa, papel da sempre elegante Kelly Bishop.

Na casa ao lado, Liz (Christa Miller) pisa na bola e sente que acabou com o suntuoso casamento ao lado de Derek (Ted McGinley), o mais carismático e altruísta dos homens de Shrinking. Mas nada como o tempo e a honestidade para acalentar seus corações. Idem para o casal Brian (Michael Urie) e Charlie (Devin Kawaoka), que cogitam adotar uma criança para só então encontrarem os limites e as barreiras da relação.

Com pequenas participações de Lily Rabe e Cobie Smulders, a temporada esbanja carisma no elenco e intensifica o bem-estar entre os personagens (Foto: Apple TV+)

Com espaço para intrigas do amor adolescente, a temporada evolui Alice para além da menina com a mãe morta, e mostra os efeitos e as belezas de crescer ao redor do luto. A amizade com Summer (Rachel Stubington) enfrenta lombadas, mas nem a presença do pateta e foférrimo Connor (Gavin Lewis) mostrou-se capaz de romper o laço delas.

A season finale, passada toda na Celebração de Ação de Graças de Gaby, coloca os terapeutas em foco dos próprios problemas. Ela aprende a conciliar o melhor de vários mundos, enquanto Jimmy enxerga possibilidades de um futuro menos raivoso, e Paul, sentindo os tremores da doença, pondera sobre uma situação que não enxergará melhora. Ford atira nos pontos fracos e, do jeito calado e poderoso que cultivou desde os tempos de chapéu e chicote, coloca todo mundo para chorar. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *