Martha e George estão exaustos e a noite está longe de acabar. Depois de brindar e comer às custas do pai dela, o presidente da universidade onde o genro leciona, a mulher inventa de convidar um jovem casal para continuar o happy hour. Na madrugada de sábado para domingo, a culta residência dos anfitriões se torna picadeiro para a guerra de egos e mágoas, adormecidas e azedas pelos anos de matrimônio.
Quem Tem Medo de Virginia Woolf? deriva da peça de mesmo nome, lançada em 1962 e um sucesso absoluto no Teatro. Para a versão cinematográfica, Elizabeth Taylor e Richard Burton protagonizam. Dois titãs de Hollywood, no quarto de onze parcerias, envolvidos em polêmicas que iam de atrasos até um infame casamento, que dão força e fôlego ao texto de Ernest Lehman. Na companhia de combate, os jovens George Segal e Sandy Dennis incorporam o casal de ingênuos.
No contraste entre o novo e o velho, o diretor Mike Nichols estreia nos longas com controle cênico invejado por cineastas veteranos. A câmera acompanha cada mudança de expressão dos quatro atores, que intercalam-se em trocas individuais, extraindo assim o sumo que o drama familiar poderia proporcionar. Questões sobre performance sexual, cansaço, tédio na relação e até um filho falecido estão entre as ofensas e elogios intercambiados.
O título, que parodia a canção que os Três Porquinhos cantam no filme da Disney, precisou mudar o ritmo para não ferir os direitos autorais, e ganha contornos fatídicos de tensão e arrependimento. À rigor envergonhados e desconfortáveis com a falta de educação dos anfitriões, Nick e Honey passam a encontrar disposição e terreno para afiarem as próprias navalhas e atirá-las a esmo.
Daqueles exemplares inimitáveis da Velha Hollywood, Virginia Woolf é mais rico do que qualquer texto poderia demonstrar. Sua longevidade está no frescor do material original do dramaturgo Edward Albee. Não é incomum que a trama seja revisitada, e sem uma vírgula fora do lugar. E, em 66, o susto foi tamanho para estúdios, censores e público. “Temos um filme sujo de 7 milhões de dólares”, exclamou um dos produtores na exibição-teste.
Primeiro longa a ganhar classificação restritiva nos cinemas norte-americanos, também jogou algumas bombas da linguagem e chocou pelo retrato da sexualidade feminina, especialmente na personagem de Taylor, que, embora tivesse 30 e poucos anos na época das gravações, interpretava uma megera na casa dos cinquenta.
No Oscar 1967, foi indicado em todas as categorias que estava elegível: 13. E venceu cinco prêmios: Figurino Preto-e-Branco, Direção de Arte Preto-e-Branco, Fotografia Preto-e-Branco e nas duas categorias de interpretação feminina. Nem Taylor nem Dennis estavam presentes na cerimônia: Anne Bancroft aceitou a estatueta de Atriz, e o diretor aceitou a de Atriz Coadjuvante.
O segundo prêmio de Taylor, que somou 5 indicações ao Oscar, foi recebido como um dos mais maciços da história da Academia. E Sandy Dennis se mostrou à altura da lenda do Cinema na única vez que foi indicada. Os atores podem ter perdido por Virginia Woolf, mas o trabalho do elenco tornou-se um dos incontestáveis no que diz respeito ao trajeto dos palcos às telas, além de eternizar cada fala, ação e inevitável e pessimista conclusão.
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