2ª temporada de Ninguém Quer implora por boa vontade e paciência

Apesar de capricho e da química incendiária entre os pombinhos, temporada faz repeteco do ano de estreia

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Centrar sua série de comédia romântica num ultimato tão sólido como a conversão ao judaísmo é uma manobra arriscada – e com data de validade. A segunda temporada de Ninguém Quer (Nobody Wants This) enfrenta o relógio em regressiva, momento em que Joanne e Noah decidirão o futuro do amor.

O retorno da sensação da Netflix acontece depois de alguns prêmios e algumas indicações ao Emmy, marcando o debut de Kristen Bell e Adam Brody na cerimônia da Academia, apesar da longa carreira de ambos na TV. Antes tarde do que nunca, a missão agora é expandir e conquistar.

Na nova temporada, fica claro que a lua de mel precisa acabar (Foto: Netflix)

Os coadjuvantes não roubam a cena, já que o roteiro da criadora Erin Foster abre alas para um desfile de comédia, vulnerabilidade e daquele senso de ridículo que só ascende devido às interpretações de Justine Lupe, Timothy Simons e Jaclyn Tohn, vivendo a irmã despirocada, o irmão abobalhado e a cunhada casca-grossa.

No ínterim, uma porção de novos rostos decide aparecer e enriquecer a vida do casal: para começar, a série insere Morgan no relacionamento mais desequilibrado de todos. Do dia para a noite, ela começa a namorar o Dr. Andy (Arian Moayed, para o deleite dos órfãos de Succession), seu antigo terapeuta. A decisão estapafúrdia rende a briga entre irmãs, catalisada por uma quebra de confiança e até do vínculo no podcast que dá nome ao programa.

Com sucessos atuais e canções originais, a trilha sonora continua chamando atenção e angariando aplausos para o supervisor musical de Ninguém Quer (Foto: Netflix)

Resolvidas as pendências familiares, há espaço para conflitos no trabalho. Noah, ciente de que sua posição como rabino no templo dos pais está por um fio, é surpreendido pelo retorno de Big Noah (Alex Karpovsky, o Ray de Girls!), antigo nêmesis na época de acampamento religioso e o novo chefe do local. 

A solução é bater asas, e chega a conexão com Abby (Leighton Meester), uma esposa-influencer que daria inveja ao império de Virgínia, e seu marido-troféu Gabe (Joe Gillette), que contratam os serviços religiosos do protagonista e depois indicam-no para a vaga no templo pessoal.

Casados na vida real, Brody e Meester interpretam cliente e rabino na 2ª temporada de Ninguém Quer (Foto: Netflix)

As normas são diferentes, com o rabino Neil (Seth Rogen) até sendo casado com uma mulher não-convertida, Cami, papel de Kate Berlant. Ao mesmo tempo em que Noah enxerga esperança para o futuro dele e de Joanne, a vibe Igreja Bola de Neve do local devolve a simpatia com doses de reprovação e certo desconforto. 

Como todos os personagens descobrirão ao longo dos dez episódios, desconforto é o nome do jogo, e todos são desafiados a enfrentá-lo ou, na pior das hipóteses, correr dele. O aparente divórcio de Sasha e Esther ganha tons fortificados ao passo que a mulher percebe que enxerga mais um amigo do que um parceiro de vida no marido – e ver a amiga Rebecca (Emily Arlook) realizando sonhos e fugindo da rotina não ajuda em nada a mantê-la enraizada em casa. 

No episódio do “Halloween judaico”, os pais do casal protagonizam momentos hilários, com direito a fantasias inesperadas (Foto: Netflix)

O chove-não-molha da conversão de Joanne assombra Noah e entedia a audiência, que busca certos riscos que Ninguém Quer insiste em adiar. A fórmula não passou do ponto, mas depois de uma temporada inicial que renovava os ares das rom-coms com destreza e certa acidez, assistir aos casais heterossexuais debatendo assuntos repetidos chega a cansar eventualmente. 

Que o futuro da dupla mais fofa da Netflix renda dramas inéditos e, quem sabe, os marcos de casamento, gravidez e evolução que podem ser muito bem decantados e feitos de sarro pela equipe que transformou o amor de Joanne e Noah em algo raro e imprescindível de ser acompanhado e admirado. 

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