Vencedores: criança ou adulto, todo mundo grita gol

O longa-metragem participou do Festival de Berlim, onde abocanhou duas indicações

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Mona, uma menina síria de 11 anos, se muda com a família para a Alemanha em busca de uma vida longe da guerra no país natal. Ela não fala alemão, não conhece a cultura local e pouco se encaixa na turma de adolescentes, como sempre, maldosos com o desconhecido. O ponto em comum entre todos eles é simples: o futebol.

Depois de ser exibido no Festival de Berlim, Vencedores integrou a 1ª edição da seção Mostrinha da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, trazendo uma visão suavizada sobre a adaptação de imigrantes e o conflito que assola a Síria há mais de uma década. Nem mesmo isso, no entanto, impede a torcida.

Sieger Sein, no título original em alemão, concorreu à Melhor Longa-metragem e Melhor Filme da mostra Generation Plus (Imagem: Pluto Film)

Adolescentes podem ser odiosos quando querem. Além de ser a garota nova na escola, Mona (Dileyla Agirman) não fala o idioma local com proeza, se veste diferente e não repete os maltratos dos colegas de classe com os professores. Ou seja, motivo suficiente para que ela seja a próxima maltradada. A adaptação não é nada fácil, mas a condução de Soleen Yusef distrai o espectador do sofrimento.

Há a parte positiva e negativa disso. De um lado, a diretora encara a personagem de frente e, ao invés de isolar o espectador da narrativa, faz com que Mona dialogue com a câmera. Nesse ponto, Vencedores escapa do que se espera de um filme sobre refugiados políticos, focando na perspectiva das crianças sobre o conflito e suas consequências. 

A fotografia e o design de produção, dois grandes diferenciais do longa, ficam por conta de Stephan Burchardt e Nadja Götze, respectivamente (Imagem: Pluto Film)

A câmera frenética, que corre os corredores da escola, e as cores vivas, imitando os grafites nas paredes, criam um ambiente de leveza para que os mais novos – afinal, o longa faz parte da Mostrinha – se interessem por temas importantes. A relação entre alunos e professores – em especial o Senhor Che (Andreas Döhler), treinador dos times masculino e feminino da escola -, e entre si permitem diálogos criativos que expõem as diferenças culturais, engrandecendo a proposta conciliadora do longa.

Vencedores também acerta ao escolher um ponto comum entre crianças e adultos, e pessoas de diferentes nacionalidades como ponto de união. Dentro de campo, as diferenças não existem – ou melhor, existem, mas não importam. A paixão pelo futebol não apenas une os personagens em prol de um objetivo comum – ganhar o campeonato de Berlim -, mas reconhece a importância cultural e social do esporte. 

Vencedores também concorreu como melhor Filme para Crianças ou Adolescentes no Festival de Cinema Alemão (Imagem: Pluto FIlms)

Algumas das escolhas criativas, no entanto, têm consequências negativas. Se focar na importância do futebol ajuda a criar um senso de parceria entre as crianças, Vencedores acaba se repetindo no mesmo discurso por duas horas. Entre tantos treinos e jogos – alguns mais e outros menos vitoriosos -, a mensagem de união é pouco aprofundada para além do campo.

Do lado de fora, Mona até consegue conversar com os colegas de classe sobre o conflito na Síria e o conceito de democracia, mas o roteiro de Soleen Yusef se limita a debates entre crianças – rasos, ainda que necessários para o público mais jovem. Já entre os adultos do filme, o discurso não vai muito além, com deixas culpando Assad, presidente sírio, e flashbacks de guerra sem grande aprofundamento do contexto.

Por se tratar de uma produção alemã, é de se entender. A própria diretora é iraquiana e teve que se mudar para Alemanha quando criança, movimento que inspirou sua filmografia dedicada aos efeitos dos conflitos políticos no Oriente Médio. Ao final, Vencedores deixa os adultos de lado e parece se contentar em acender a fagulha da curiosidade nas crianças. Ainda assim, todo mundo grita gol na mesma intensidade.

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