Falar da demora tomada pelos Irmãos Duffer para concluir Stranger Things, no ar desde 2016 e só agora chegando à quinta temporada, tornou-se um exercício repetitivo e pouco proveitoso. O Volume 1 estreou com as expectativas borbulhando e a certeza de que estamos diante do último combate no Mundo Invertido. Mas os 4 episódios que abrem o menu estão mais interessados na marcha-ré.
Com durações variando entre os cinquenta e os setenta minutos, os capítulos reiniciam a trama dezoito meses após o cataclísmico final da temporada 4, com Vecna (Jamie Campbell Bower) instaurando em Hawkins um apocalipse. O corte é brusco, e os personagens continuam no limite entre o plano perfeito e as inúmeras tentativas fracassadas.

À essa altura, o esquema criativo está para lá de passado, com pequenos núcleos dividindo-se, dando margem para dinâmicas inéditas e outras já clássicas, até que as ameaças monstruosas reúnam os heróis, que darão tudo de si e, sem qualquer casualidade, saírão ilesos. Tudo isso acontece ao longo do Volume 1, e são poucos os mecanismos que tiram a série do piloto automático.
Os Duffer dirigem três dos quatro episódios, delegando ao aposentado Frank Darabont a missão de injetar ação em Chapter Three: The Turnbow Trap, onde o grupo precisa armar uma arapuca daquelas para atirar um rastreador no Demogorgon que está caçando criancinhas. Azar dos criadores que A Hora do Mal estreou mais cedo, tocando no tema da infância em conluio com a vilania e a lavagem cerebral.

A cara nova de Stranger Things é Holly Wheeler (Nell Fisher), irmã mais nova de Mike (Finn Wolfhard) e Nancy que passa de figurante à vítima do vilão. Com uma atriz inédita no papel, conhecida pelo trabalho mais do que marcante em A Morte do Demônio: A Ascensão, a pequena dá de cara com um mundo perfeito, habitado por Henry, a alcunha em carne e osso de Vecna. Mas é na aparente paz do local que retorna Max (Sadie Sink), a vítima quase-fatal que dorme um sono eterno no hospital.
Guiando a pequena menina pelo mundo dos sonhos e pesadelos, Max é um dos vetores de todas as explicações que os Duffer inserem no texto sem qualquer vergonha ou sensibilidade. Mas não a única. Afinal, todos os episódios são formados por planos mirabolantes, explanados em um roteiro paupérrimo e fazendo uso das ferramentas mais simplórias do arsenal audiovisual. Não há razão para Hopper (David Harbour) citar a filha morta e ser acompanhado por flashbacks repetidos das temporadas anteriores três ou quatro vezes.

O policial continua em sua sina de afundar o ritmo da série, com trocas enfadonhas com Joyce (Winona Ryder) e, mais tarde, no lenga-lenga que só atrasa a presença de Eleven (Millie Bobby Brown). De fato, a trama anda em passos lentos para a frente, com Dustin (Gaten Matarazzo) tão ligado ao que já passou que até apanha, marcando seu drama pelo luto de Eddie e nada mais.
Para salvar Stranger Things 5 da monotonia que só sai de cena nas sequências de ação, Robin (Maya Hawke) guia Will (Noah Schnapp) por uma história molenga de aceitação e florescer queer, que culmina no grande gancho da temporada. Depois do garoto Byers sofrer com as visões, as convulsões e o arrepio que o acompanham desde o sequestro no episódio que iniciou a série em 2016, ele enfim cresce para além do posto de roteador do Mundo Invertido.

No paralelo ao tão-elaborado-que-dura-mais-que-cinco-horas plano de encontrar e matar Vecna, Jonathan (Charlie Heaton) e Nancy (Natalia Dyer) repetem padrões de ciúmes do início da série, ao passo que Steve (Joe Keery) parece esquecer de sua evolução e teima na conta do casal. Lucas (Caleb McLaughlin) guarda forças para o eventual retorno de Max, e sua irmã Erica (Priah Ferguson) serve de conectivo ao grupo de crianças menores, focado especialmente no caricato Derek (Jake Connelly).
Com o elenco original já velho demais para sofrer dos mesmos perigos que o fizeram na época da pré-puberdade, os Irmãos Duffer são obrigados a promover as crianças de agora ao posto de destaque, deixando que a ameaça paire sobre Holly, Derek e seus colegas de classe, assombrados pelo Senhor Whatsit.

Largando aqui e ali pistas de como o vilão será derrotado, a temporada reitera a não-existência de coincidências. Existem alusões à viagens no tempo, distorções temporais e até a um evento específico que marcou Vecna: uma peça de teatro protagonizada por ele, Joyce e uma porção de parentes dos protagonistas. Não duvide se Joseph Quinn retornar, desta vez interpretando o tio de Eddie.
O Volume 1 de Stranger Things 5 precisa, também, arcar com os erros do passado, e coloca em Eleven o fardo de dar cabo do apêndice tão criticado na temporada dois, quando a super-poderosa adolescente se rebelou e encontrou uma família diferente. Para inchar essa parcela da história, a coitada da Linda Hamilton encarna uma cientista militar de cabelo em pé e fluente de jargões quadrados. Para a turma que enfrentou Demogorgon, Devorador de Mentes, morcegos e cães do Mundo Invertido, e até o próprio Vecna, fica difícil acreditar que a regressão é o caminho lógico.


Deixe um comentário