Eleanor Morgenstein (June Squibb) não nasceu na Polônia nem sobreviveu aos campos de extermínio na Segunda Guerra Mundial. Mas é essa a história que ela conta ao entrar, sem querer, no encontro de judeus no centro comunitário de Nova York.
Ela morava na Flórida com a amiga Bessie (Rita Zohar), a dona da origem trágica que Eleanor declama como se fosse sua. A colega de casa de longa data morre, mudando rotina, sentimentos e o centro do mundo da protagonista, que passa a viver com a filha Lisa (Jessica Hecht) e o neto Max (Will Price) em NY, cidade onde passou os anos de juventude.

Em A Incrível Eleanor (Eleanor the Great, no original), Scarlett Johansson estrela na direção com um projeto sensível e por vezes complicado de ser tratado. Afinal, equiparar o discurso de trauma do nazismo com um filme de amarelecimento na terceira idade não é tarefa fácil. O roteiro de Tory Kamen (também em seu debut cinematográfico) desliza em alguns aspectos, mas se sagra na atuação de Squibb.
Aos 95 anos, a veterana atravessa um renascimento da carreira, emendando papéis de destaque e protagonismo e interpretando papéis muito fortes e cheios de dificuldades. Sua Eleanor se afasta do estereótipo da idosa indefesa e mostra as garras, desejando sarcasmo, ironia e passivo-agressividade sempre que algo a incomoda.

Exibido em Cannes, o filme de comédia dramática chega à 49ª Internacional de Cinema em São Paulo na seção de Apresentação Especial e coroa uma audiência com os ventos veranis da cidade grande, onde a velhinha porreta passa de memorabília à agente de ação.
Ao conhecer a jovem estudante Nina (Erin Kellyman), esta também enfrentando um luto cabeludo e espinhoso, a história de Bessie transforma-se no trajeto de Eleanor, que esbarra novamente no judaísmo e quase vai parar no telejornal nacional. Quando as mentiras são descobertas, Johansson joga o drama no ventilador e assiste suas personagens entenderem o ponto que delimita o perdão e a vergonha.


Deixe um comentário