Quinta é dia de feira #05

Um pouco sobre Cadê Heleny?, de Esther Vital

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Professora, teatróloga, filósofa. Inteligente, articulada, mãe. Militante na Vanguarda Popular Revolucionária contra a ditadura militar brasileira. Presa pela Operação Bandeirantes por estar envolvida em subversão e terrorismo. Morta e desaparecida. Heleny Guariba é uma das muitas vítimas dos anos de chumbo e a escolhida por Esther Vital para ser representada no curta-documentário Cadê Heleny?, potente animação sobre os últimos anos da vida da revolucionária.

Entre o íntimo, o público e o clandestino, o filme costura a memória de Heleny através de três relatos:  Dulce Muniz, amiga e aluna de Heleny, José Olavo Leite Ribeiro, namorado e companheiro de luta, e José Carlos Dias, advogado da militante. Eles nos convidam a conhecer todas as faces de Heleny, nos aproximarmos da sua figura tão magnética para, por fim, sofrermos com sua perda, assassinada em 1971 na Casa da Morte, em Petrópolis.

Co-produção entre Brasil e Espanha, Cadê Heleny? ilustra sua história se inspirando nas arpilleras, arte têxtil que se popularizou nas periferias chilenas durante a ditadura de Pinochet como forma de protesto das mulheres parentes de vítimas do regime. Assim, a narrativa serpenteia de ponto em ponto para recriar acontecimentos e espaços, como as torturas no DOPS e o acolhimento de outras presas na Torre das Donzelas. 

Ao longo dos 29 minutos, Vital, inspirada no cinema noir, abandona as cores vibrantes da rotina comum para o vermelho-escuro e sombras bem marcadas da clandestinidade, potencializando a força da sua denúncia com mudanças sutis no cenário e jogos de cena nauseantes, como o relato circular de Inês Etienne Romeu, única testemunha da morte da professora.

Heleny Guariba nunca foi encontrada. Seu corpo nunca foi velado e enterrado. Seus filhos não choraram em cima do seu caixão. Mas sua memória é mantida e exaltada; lembrada com carinho e com revolta. Em 2024, seis décadas depois do golpe militar, Cadê Heleny? pode ser uma ótima forma de tentarmos compreender um pouco do que perdemos durante aqueles 21 anos.

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