Puras, devotas e submissas a Jesus. Michele e suas Preciosas são mulheres para casar. Elas cantam na igreja, transam apenas depois do casamento, se vestem à moda antiga e, de noite, saem mascaradas para espancar vadias infiéis. Assim, Medusa já chega com os dois pés na porta, desafiando a hipocrisia religiosa, o patriarcado e o ultraconservadorismo escondidos embaixo da cama da sociedade brasileira.
Quem assina a direção e o roteiro é Anita Rocha da Silveira, cineasta carioca que esbanja talento e disposição para retratar os terrores da vida feminina. Sob os olhos de Mariana, desfigurada enquanto agredia uma suposta pecadora com suas companheiras, acompanhamos o despedaçar dessa vida-mais-que-perfeita e o abrir de olhos de uma mulher que, aos poucos, desce da torre na qual estava trancafiada. Mariana, inclusive, é interpretada pela atriz Mari Oliveira, que acompanha sua xará de corpo e alma nessa jornada rumo à loucura e à salvação.
Brincando com o mito grego da sacerdotisa amaldiçoada, Medusa explora o fantástico, o bizarro, o carnal e o exagero e nos deixa com um gosto ruim na boca quando percebemos que essa distopia não é tão distópica assim. Suas personagens são cruéis e são frágeis, ora vítimas e ora vilãs, mas sempre bem longe do lugar-comum a qual mulheres são submetidas em filmes de terror. Até porque se for falar em terror, de Michelles esse país já está cheio.
Deixe um comentário