Agnes leciona cadeiras de Literatura na mesma universidade onde conseguiu o diploma da pós-graduação e mora na mesma casa da época que estudava, diferente de sua amiga Lydie (Naomi Ackie), permaneceu imóvel com o passar dos anos. Em Sorry, Baby um acontecimento trágico e terrível paralisa a protagonista, que sente o coração pesar ao ver que, ao seu redor, todos seguiram em frente.
Estreando nos cinemas, e agrupando as funções de atriz, diretora e roteirista, Eva Victor é mais do que a “resposta americana à Phoebe Waller-Brigde”. E Sorry, Baby tem pouco ou nada a ver com Fleabag, além de uma voz muito ressonante que conta histórias de dor envelopadas com humor.

Tampouco trata-se de uma dramédia, já que o roteiro de Victor, sob a tutela do produtor executivo Barry Jenkins, coleciona pequenas molduras, como se a única maneira de seguir em frente for falando, aos poucos e envolvida em acidez, daquilo que a colocou tão para trás.
Entre os anos que preenchem o evento de abuso sofrido por Agnes e cometido pelo professor (Louis Cancelmi) que ela tanto admirava, o filme preenche o desconforto com doses homeopáticas do mais mundano dos relatos: um casamento, uma gravidez, uma promoção no emprego.
Agnes é promovida à vaga deixada pela demissão de seu estuprador, o que ira a sem noção personagem de Kelly McCormack, ao mesmo tempo em que o restante do grupo de amigos em nada nota os comportamentos defensivos e emudecidos da mulher.

Apenas Lydie sabe de todo o panorama, e seu apoio é incondicional e vital para que Agnes não desista – ou tire a própria vida. Sorry, Baby constrói sua tensão desconfortável na chave da farsa, com uma protagonista afiada até que suas barreiras sejam enfim demolidas.
Com o vizinho, papel de Lucas Hedges, ela engata uma conexão estranha mas perceptivelmente fundamental, e com um estranho que cruza na estrada, vivido pelo contundente John Carroll Lynch, ela sente que sua vida é validada. Três anos não é muito tempo, e está longe de ser suficiente para que ela “se cure”.
Cura essa impossível e provavelmente inexistente, mas nada que o espírito de Victor deixe em tom de derrota ou contentamento. Sua vivacidade é palpável, entre linhas de diálogo que borram a linha entre o vulnerável e o risível. Pelo trabalho, saiu laureada de Sundance e chega a 49ª Mostra de São Paulo na seção Competição Novos Diretores.
Agnes: Eu não quero que ele seja preso. Eu quero que ele pare de ser alguém que faz isso. E se ele fosse para a cadeia, ele só seria uma pessoa que faz isso — e que também está presa.

Eva Victor também contou com a parceria de dois cineastas: Jenkins, que acreditou no projeto e o financiou, além de supervisionar a produção ao mesmo tempo em que trabalhava na pós de Mufasa; e Jane Schoenbrun, a quem acompanhou no set de I Saw the TV Glow, aprendendo a vivência por trás das câmeras. O resultado é o fruto de um relato potente que se alia à assinatura original de uma voz emergente e com muito a contribuir. E a lenta revelação do significado do título do filme vale a pena cada segundo de projeção.
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