Filme formador de minha personalidade nerd e amante dos quadrinhos de super-heróis, o Quarteto Fantástico de 2005, que deu sequência ao sucesso guiado pelos X-Men de Bryan Singer e pelo Homem-Aranha de Sam Raimi, tem má fama e péssimo reconhecimento da parcela da audiência que buscava ali um mar de seriedade.
Para além dos feitos do filme, uma coisa é certa: a aptidão por cultivar nas figuras de Chris Evans e Jessica Alba dois templos de adoração e sensualidade. O despertar queer de uma geração de ávidos consumidores da cultura pop, Quarteto Fantástico não recebe metade do crédito que recebe nesta e em outras frentes.

Dirigido por um cineasta negro que vinha das comédias escrachadas, o roteiro passou por profissionais que queriam extrapolar na ficção científica, depois no drama. Por fim, chegou a um caminho que dividiu as atenções entre fidelidade aos gibis e a aposta no que estava em alta no Cinema americano da época: longas que não escondiam o humor, mas também se interessavam pelas lágrimas.
O apelo sensual e cômico das interações entre a Primeira Família da Marvel movimentou o falatório, gerou uma sequência dois anos depois e logo teve seu futuro destruído pela empresa toda-poderosa, que escalou o mesmo Evans que se divertia nos músculos fumegantes de Johnny Storm para viver o ideal certinho e estritamente puro do Capitão América.

Até do currículo dos atores o filme puxou certas inspirações, com um Victor Von Doom dominador e cretino, características que Julian McMahon trouxe de seus anos na pele de um cirurgião inescrupuloso em Nip/Tuck. A ideia de transformar o traje de Destino numa carapuça de carne, metal e fetiche veio do intérprete, que renega as piadas do personagem original e aqui esbanja a soberba que o governante da Latvéria usa como proteção.
E se o Senhor Fantástico (Ioan Gruffudd) é todo certinho e virginal, o trabalho ao lado de uma Mulher Invisível ressentida e super poderosa é o bastante para liberar no líder da equipe a malemolência elástica que mais tarde seria tópico de discussão na despedida de solteiro do segundo filme – afinal, ele pode esticar qualquer parte do corpo?

No caso de Ben Grimm, o visual rochoso foi também ideia e escolha de Michael Chiklis, que recusou o CGI e optou pelo traje. A experiência, embora visualmente autêntica de alguém feito de pedra, transformou a gravação em uma sauna elevada a mais alta temperatura. Até que, no clímax, o clima invernal de Toronto provou-se ótimo para O Coisa e péssimo para seus companheiros, vestidos com os finos modelitos que emulavam a seriedade que os mutantes colocaram como meta de armadura alguns anos antes.
Talvez o último exemplar de um Cinema arrasa-quarteirão com tesão o bastante para deixar seus personagens seminus sempre que a câmera pedia pelo desejo em misto ao senso de aventura, Quarteto Fantástico voltará para as telonas, enfim na tutela homogeneizada dos Estúdios Marvel, para explorar o lado familiar, aventuresco e como sempre, piegas e bege do restante do Universo Compartilhado. Mas as memórias de Tocha Humana, com uma jaqueta de esqui cobrindo a parte inferior do corpo enquanto caminha pelo hotel, viverá para sempre em nossa imaginação.

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